![Chikv, a nova Ameaça O infectologista Stefan Ujvari alerta para o risco de uma nova pandemia no país | Divulgação](https://media.gazetadopovo.com.br/2011/03/058be9222f7f149c5e7f9220c4155cb8-gpLarge.jpg)
Os brasileiros têm agora um novo motivo para combater o Aedes aegypti. Descobriu-se que o mosquito é o tramissor de mais um vírus, além do da dengue: o Chikungunya que, no dialeto local africano, onde a doença foi descrita, significa andar curvado, devido às dores articulares ocasionadas. O alerta é feito pelo infectologista Stefan Cunha Ujvari, especialista do Hospital Oswaldo Cruz de São Paulo, no livro Pandemia A humanidade em risco, que está sendo lançado no país. Segundo Stefan que também é autor de A história da humanidade contada pelo vírus , o Brasil apresenta todas as condições para uma pandemia por Chikungunya, vírus que também é transmitido pelo Aedes aegypti.
A taxa de mortalidade da doença é menor, se comparada com a dengue, mas as dores são debilitantes e o risco de contaminação é alto em Lamu, cidade litorânea do Quênia, o chikv, como ficou conhecido, contaminou 75% da população. O infectologista Stefan Ujvari falou à Gazeta do Povo sobre o risco de uma nova pandemia no país.
Nos dois últimos anos, o número de casos de dengue cresceu de forma acentuada no país. É uma questão de sazonalidade da doença (ocasionada por questões climáticas favoráveis à reprodução do Aedes) ou estamos falhando na prevenção?
É o preço que pagamos pela acentuada urbanização secundária à elevação populacional do planeta. A urbanização, associada ao lixo industrial que coleta água de chuva, favorece a proliferação do Aedes. Aliado a isso, temos os períodos chuvosos, que também auxiliam na reprodução do mosquito. Não é porque falhamos, mas as campanhas de esclarecimento devem permanecer acentuadas.
Em Pandemias: a humanidade em risco, o senhor fala de um vírus, também transmitido pelo Aedes aegypti, que pode causar uma pandemia no país. Que vírus é esse e qual pode ser a proporção do problema se ele realmente chegar ao país?
É o vírus Chikungunya, que, desde 2004, está se alastrando pelos países banhados pelo Oceano Índico. É transmitido pelo Aedes, e viajantes podem se infectar e retornar ao Brasil. Se tivermos adoecidos no nosso território, eles podem ser picados pelo nosso Aedes e transferir o vírus para nossos mosquitos que, por sua vez, o levarão a outras pessoas, nascendo assim uma nova epidemia. Isso ocorreu em uma cidade pequena ao nordeste da Itália, onde um turista indiano, em viagem, foi picado pelos mosquitos da localidade e iniciou-se uma epidemia pelo Chikungunya. Seus sintomas são parecidos aos da dengue, porém, não causam mortalidade semelhante, mas um quadro de dor nas juntas extremamente importante, que impossibilita as tarefas diárias do paciente por dias.
Quais são as reais chances de o Brasil enfrentar uma pandemia por Chikungunya?
No ano passado foram três pacientes diagnosticados com a doença que se infectaram em viagens à Índia e à Indonésia. Não conseguimos quantificar o risco, mas ele existe.
Essa é a maior ameaça epidemiológica para o país, ou há outras que o senhor considera mais perigosas?
Sim, é uma das maiores ameaças. A outra decorre do vírus do Nilo Ocidental que chegou aos EUA, em 1999, que está presente em aves. Esses animais transferem o vírus ao mosquito Culex, que, por sua vez, o transferem pela picada a novas aves. Caso o homem seja picado pelo mosquito, pode adoecer. O problema é que as aves migratórias estão levando o vírus para o Sul do continente. Em 2002, já estava nas ilhas do Caribe e América Central. E, em 2005, chegou à Colômbia e à Venezuela. Há quatro anos foram descritos casos de aves e cavalos acometidos na Argentina.
A evolução de algumas doenças, como a tuberculose e a aids, que se tornam resistentes aos medicamentos em uso, estão entre os maiores riscos à humanidade?
A tuberculose sim. Países do Leste Europeu, Ásia e África descrevem números alarmantes de casos com tuberculose resistente aos medicamentos convencionais, o que necessita de drogas mais tóxicas para o tratamento e por tempo muito mais prolongado. O problema mais sério está em formas de tuberculose descritas, primeiramente na África do Sul e que são resistentes a quase todos os medicamentos disponíveis.
Pouco tem se falado ultimamente da gripe suína, mas ela ainda é um mal que pode trazer muitos incômodos?
Ela não, mas inúmeros outros tipos de influenza que podem surgir a qualquer momento. Isso porque domesticamos um número exagerado de porcos em contato com aves e aglomerados humanos pelo planeta. Isso torna possível vírus de espécies diferentes invadirem, ao mesmo tempo, os porcos e, por combinação do material genético, formar um vírus novo. O exemplo da gripe suína poderá se repetir, principalmente com o crescimento exponencial das criações de porcos e aves.
Em seus livros, o senhor costuma privilegiar o relato histórico sobre as doenças. Qual é a importância de conhecer a história das infecções para poder controlá-las?
Muitas vezes aprendemos com o passado. Por exemplo, o pânico da gripe suína foi semelhante ao da gripe espanhola. Por isso, poderíamos esperar tal comportamento humano. Por exemplo, em 1918 relatavam que o governo estaria omitindo o número real dos casos, que havia cidades com enterros em valas coletivas, esgotavam medicamentos nas farmácias. A história da suína foi parecida e o governo até retirou o medicamento antiviral das farmácias para que não esgotasse nas mãos de quem não tomaria.
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