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Versão eletrônica evita a combustão do tabaco e permite que o fumante dose a concentração de nicotina | Tyrone Siu/Reuters
Versão eletrônica evita a combustão do tabaco e permite que o fumante dose a concentração de nicotina| Foto: Tyrone Siu/Reuters

Alerta

Calor de aparelho gera substância com alto potencial cancerígeno

O pneumologista Jonatas Reichert, membro da Câmara Técnica de Controle do Tabagismo do Conselho Regional de Medicina do Paraná, é um crítico ferrenho do uso de cigarros eletrônicos no tratamento para parar de fumar. De acordo com ele, a minimização de danos diz respeito exclusivamente à redução das substâncias inaladas para apenas uma, a nicotina. A dose de nicotina inalada, no entanto, ainda é alta.

Há ainda um agravante. Reichert explica que o calor produzido pela bateria que faz o aparelho funcionar faz com que a nicotina sofra um processo químico chamado nitrozação. Através dessa reação, da nicotina derivam as nitrosaminas, cujo potencial cancerígeno é o mais alto conhecido pela comunidade médica.

"O cigarro eletrônico não é um aliado no tratamento. Como contém nicotina em alta dosagem, não elimina a dependência. Além disso, o potencial cancerígeno é alto", diz Reichert, acrescentando que, para o fumante passivo, os danos são os mesmos provocados pela inalação da fumaça do cigarro convencional.

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No Brasil, a venda e a importação do cigarro eletrônico são proibidas pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009. A utilização é liberada.

Pesquisa desenvolvida por especialistas da Universidade College London, na Grã-Bretanha, reforça o discurso em defesa dos cigarros eletrônicos. Segundo o estudo, fumantes que recorrem ao dispositivo para parar de fumar cigarro convencional têm mais chances de superar o tabagismo do que aqueles que encaram a empreitada apenas com força de vontade ou com reposição de nicotina, com adesivos ou pastilhas.

O estudo, publicado no periódico científico Addiction, analisou dados de 6 mil fumantes que tentaram abandonar o tabagismo entre 2009 e 2014. De acordo com o levantamento, 20% do grupo que usou os cigarros eletrônicos obtiveram sucesso, enquanto no grupo que recorreu aos adesivos ou pastilhas de nicotina, a taxa foi de apenas 10%. A equipe responsável pela pesquisa afirma que a versão eletrônica do cigarro pode ter um papel positivo no tratamento contra o tabagismo, desde que usada com cautela.

A proposta do dispositivo é substituir a combustão do tabaco e demais substâncias que constituem o cigarro convencional pela nicotina líquida, que, ao ser queimada, transforma-se em vapor. Com a versão eletrônica, o fumante pode definir o nível de concentração e os ingredientes que deseja adicionar à nicotina.

A vantagem do aparelho seria oferecer nicotina sem o prejuízo da queima do fumo e das 4.619 substâncias tóxicas que constituem o composto do cigarro convencional. No entanto, a substituição dos cigarros convencionais pelos eletrônicos ainda gera controvérsia. Não há consenso entre especialistas e autoridades de saúde sobre os reais benefícios e malefícios do aparelho.

Regulamentação

Um grupo de 53 cientistas de 15 países divulgou uma carta aberta à Organização Mundial da Saúde (OMS) apelando para que os cigarros eletrônicos não sejam regulados com as mesmas restrições aplicadas aos convencionais. O documento alega que o aparelho pode ser uma das maiores inovações de saúde do século 21 e salvar milhares de vidas, pois são substitutos de baixo risco para o tabagismo.

Em contrapartida, uma parcela expressiva da comunidade médica afirma que os estudos dos efeitos sobre a saúde a longo prazo são recentes e inconclusos e, por isso, são necessários uma regulamentação mais restritiva e acompanhamento dos efeitos.

Tratamento deve incluir remédios e novos hábitos

Para que o processo de parar de fumar seja definitivo e o menos doloroso possível, o pneumologista Jonatas Reichert recomenda a associação de recursos medicamentosos. Segundo o médico, os adesivos apresentam eficácia de 35%, pois têm ação contínua e a quantidade de nicotina é reduzida gradualmente. Em casos mais severos de dependência, o tratamento indicado pode ser à base de antidepressivos e medicamentos que agem bloqueando os receptores nicotínicos causadores da dependência química, como a bupropiona e a vareniclina.

O tratamento do tabagismo deve agir sobre três tipos de dependência, a química, associada à multiplicação dos receptores nicotínicos; a psicológica, consequência da associação do fumo ao alívio de estresse e nervosismo; e a condicionada, relacionada ao hábito de fumar. Por isso, o melhor tratamento é o que combina terapias para tratar as três dependências: medicamentos, inclusão de exercícios e alimentação adequada e transformação da rotina antes adaptada ao ato de fumar.

Para Reichert, no entanto, o fundamental é desenvolver um eixo específico do tratamento, chamado de terapia cognitiva comportamental, que consiste em fazer o paciente compreender que tabagismo é uma doença grave. "O melhor tratamento é aquele encarado com consciência. O processo deve ser orientado para o desenvolvimento de habilidades para fugir da fissura, da abstinência. Remédios ajudam, mas se não houver mudança comportamental, a tendência é retomar o vício", explica.

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