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O primeiro desafio do cirurgião plástico José Horácio Aboudib ao assumir a presidência da Socie­dade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em janeiro de 2012, foi lidar com o escândalo das próteses francesas Poly Implant Protheses (PIP) e holandesas Rofil, que estiveram presentes em casos de rompimento devido à qualidade duvidosa do material. Apesar do transtorno que afetou a vida de milhares de pessoas que colocaram os im­­plantes nos seios, ele acredita que o problema não é motivo para que os pacientes desconfiem da segurança da cirurgia plástica estética.

Dados de uma pesquisa Data­Folha encomendada pela SBCP sobre a atuação de 3.533 cirurgiões plásticos no Brasil mostram que, em 2009, das 639 mil operações feitas por eles, 73% foram estéticas – sendo 88% destas em mulheres. Com mais de 10 mil plásticas executadas em 30 anos de carreira, Aboudib explica que a intervenção cirúrgica feita para promover melhorias estéticas é um meio que homens e mulheres utilizam para viver de forma mais saudável. "Não adianta uma pessoa estar bem fisicamente, mas estar mal e insatisfeita com sua imagem no seu contexto social", diz Aboudib.

Leia abaixo trechos da entrevista com o cirurgião plástico formado pela Universidade de Brasília (UnB) e também coordenador e vice-chefe da disciplina e do departamento de Cirurgia Geral da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ):

O problema com as próteses de silicone PIP e Rofil fez com que a cirurgia plástica passasse a ser vista com certa desconfiança?

Na verdade não, pois quanto a isso o médico não tem culpa alguma. O material tinha sua comercialização autorizada no Brasil e possuía a autorização das agências de vigilância sanitária de seus países. Não tínhamos como saber das fraudes, pois isso acontecia na indústria, não nos consultórios.

Os pacientes que se submetem a cirurgias plásticas conhecem os riscos do procedimento ou estão mais preocupados com os resultados?

Eles têm noção dos riscos e é sempre dito a quem vai se submeter a uma cirurgia plástica que o maior risco é morrer. Isso não é comum, mas pode acontecer. Quem quer fazer uma cirurgia estética não costuma desistir por conta dos riscos envolvidos.

O cirurgião plástico é muitas vezes visto como um artista. Isso faz sentido?

Em partes sim, mas o artista pode criar o que ele quiser e nós, como profissionais da Medicina, não. Nós temos os limites da anatomia humana e não podemos ir além dele. É diferente de Picasso, por exemplo, que em suas obras criava um rosto e colocava o nariz onde quisesse. Nosso trabalho depende da vontade do paciente, mas também da avaliação do médico e das possibilidades que o profissional enxerga.

Quais são os procedimentos mais pedidos e o que as pessoas buscam?

As mulheres pedem mais implantes de silicone [21% do total de cirurgias] e lipoaspiração [20%]. Os homens fazem lipo, implante de cabelo e rinoplastia. Todos desejam ter uma adequação do corpo com a sua autoimagem. Não adianta uma pessoa estar bem fisicamente, mas estar mal e insatisfeita com a sua imagem no contexto social. A plástica ajuda o indivíduo a se enquadrar dentro do seu universo.

O senhor percebeu mudanças nos pedidos dos pacientes durante seus 30 anos de profissão?

Os pedidos sempre foram parecidos, mas hoje as pessoas já chegam ao consultório sabendo o que querem. Elas têm menos ilusões do que antigamente. Já tive caso de pacientes mulatas que chegaram ao meu consultório com a foto de uma atriz branca, de olhos azuis e nariz fininho, pedindo para ficar como aquela imagem. Apesar da diminuição da ilusão, hoje, a cobrança dos pacientes aumentou muito e houve um esfriamento da relação médico-paciente. Virou uma relação de consumo, algo mais comercial, de cobrança por resultados, com diminuição do respeito à figura do médico.

Um cirurgião plástico costuma acompanhar o paciente por muito tempo depois da cirurgia?

Aquele que ficou satisfeito com o resultado, geralmente, some do consultório. Já quem não ficou satisfeito volta sempre. Depois da cirurgia [em pacientes que gostaram do resultado] é possível perceber uma diferença na forma com que o paciente se veste e se comporta. A pessoa se mostra mais alegre e jovial.

Quando o resultado é insatisfatório, quais são os danos?

Quando isso acontece, o paciente se queixa e volta. Algumas vezes o resultado não fica exatamente como poderia ser e compete ao cirurgião mostrar o que ainda dá para melhorar. Existem casos de pacientes insatisfeitos, mas neles o resultado não poderia ir além daquilo, é preciso que ele compreenda os limites. Algumas pessoas esperam mais do que é possível fazer.

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