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No Brasil, a vacinação de grupos de atenção prioritária vai até meados de maio | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
No Brasil, a vacinação de grupos de atenção prioritária vai até meados de maio| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Adultos jovens

3ª etapa começa segunda-feira

Começa nesta segunda-feira a terceira etapa da vacinação do vírus H1N1, quando serão imunizados jovens entre 20 e 29 anos. A vacina está disponível nas unidades de saúde básica e, durante os fins de semana e feriados, quando os postos estão nos fechados, nos Centros de Urgência Médicas, das 8 h às 18 horas. O Ministério da Saúde adiou o término da terceira etapa na cidade e as doses para gestantes, bebês entre 6 meses e 2 anos e portadores de doenças crônicas até dia 23 de abril. O objetivo é vacinar 80% da população de risco até maio, o que no Paraná corresponde a 1,1 milhão de pessoas. O total de doses que estará disponível no Paraná é de 5 milhões.

Calendário

O Ministério da Saúde vai vacinar grupos prioritários em seis etapas diferentes. A da segunda fase foi prorrogada.

2ª Etapa

Até 23 de abril: gestantes, crianças de 6 meses a 2 anos de idade; e doentes crônicos com idade abaixo de 60 anos;

3ª Etapa

Entre 5 de abril e 23 de abril: po­­pu­­lação com idade entre 20 e 29 anos;

4ª Etapa

Entre 24 de abril e 7 de maio: idosos com mais de 60 anos com doenças crônicas;

5ª Etapa

Entre 10 de maio a 21 de maio: população com idade entre 30 e 39 anos.

A mobilização global para o combate da gripe A está sendo alvo de contestações. Nos países europeus, a baixa adesão da população à campanha de vacinação deixou um estoque de milhões de doses e o Conselho da Europa, organização não relacionada à União Europeia que reúne todos os países do continente, considerou exagerado o alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os riscos da enfermidade. Especialistas julgam que a mobilização foi adequada diante da falta de conhecimento sobre a letalidade da doença que havia inicialmente e defendem sua manutenção, uma vez que o continente americano é o mais afetado.

"Diante de um surto de uma doença desconhecida, sempre se peca por excesso. Hoje temos uma melhor avaliação do número de infectados e óbitos, o que não tínhamos no passado", pondera a chefe do Departamento de Infectologia do Hospital de Clínicas de Curitiba, Marta Fragoso. O vírus da gripe A (H1N1) se mostrou menos letal que o da gripe comum. De acordo com a OMS, de 1,6 milhões de infectados com o vírus e 16,9 mil morreram – uma taxa de 0,01%. A gripe comum tem um índice de letalidade de 0,05% e mata, anualmente, entre 250 e 500 mil pessoas.

Pandemias de gripe são uma preocupação permanente das entidades de saúde. O último alerta global ocorreu em 2004, quando surgiram indícios não confirmados de transmissão entre seres humanos do vírus da gripe aviária. O contágio, no entanto, estacionou entre 70 a 100 novos casos por ano. Um alívio, considerando que a doença tem uma letalidade de 60%. "No caso da gripe A tivemos um espalhamento muito rápido, que colocou em risco uma parcela significativa da população mundial, mesmo que no final ela não tenha sido tão letal", compara Marta.

Apesar da baixa mortalidade da doença, ela apresentou características diferentes da gripe comum, o que aumentou a preocupação dos agentes de saúde. Uma delas é o fato de levar a um alto índice de mortes entre adultos jovens e gestantes e não em crianças ou idosos. "Muitas dessas vítimas, ainda por cima, não tinham nenhuma doença concomitante, eram saudáveis. Tivemos casos de jovens que morreram em dois dias", lembra o médico Alceu Fontana Pacheco Júnior, presidente da Sociedade Paranaense de Infectologia.

Além disso, se a doença parece branda na Europa, o continente americano está sendo o mais afetado. Quase a metade do número de mortes no ano passado ocorreu deste lado do Atlântico – foram 7,7 mil mortos. "As pandemias não se manifestam com a mesma intensidade em todo o globo. Se a gripe asiática foi mais sentida no sudeste da Ásia, esta foi a gripe das Américas. Por isso a mobilização deve se manter pelo menos até o fim do nosso inverno", observa a epidemiologista Susana Moreira.

Comparação

Mesmo levados em conta esses fatores, a atenção dada à gripe A não deixa de impressionar se comparada à dispensada a doenças que matam muito mais. Brasil, Estados Unidos, França, Alemanha e Inglaterra desembolsaram aproximadamente US$ 5 bilhões na aquisição de vacinas contra a H1N1. Pelo menos 80 milhões de doses não foram usadas, a um custo de US$ 1 bilhão.

Enquanto isso, o combate e prevenção da malária, que acomete 240 milhões de pessoas e mata 860 mil ao ano – 90% na África – recebeu US$ 1,7 bilhão em 2009, de acordo com a OMS. A atenção à tuberculose, que afeta 9,4 milhões de pessoas e mata 1,3 milhão ao ano, recebeu US$ 4 bilhões. Para a organização, o ideal seriam US$ 5 e 6 bilhões, respectivamente. "São doenças que atingem áreas específicas do globo, afetam uma parcela da população, por mais que significativa, e não o todo. No caso de uma pandemia, como a gripe A, todo o mundo está em risco", pondera a infectologista Marta.

No caso do Brasil, onde o vírus pode ter infectado 43 mil pessoas (desde o segundo semestre foi dispensada a necessidade de comprovação laboratorial para o tratamento) e matou 2 mil, o gasto com as 113 milhões de doses da vacina foi de R$ 1,2 bilhão. O valor corresponde a 18 vezes o valor aplicado com prevenção e combate à tuberculose – que afeta 94 mil brasileiros e mata 4,5 mil ao ano –, que em 2009 foi de R$ 70 milhões.

"É claro que essas doenças precisam de atenção e o gasto com a gripe A foi significativo para um país pobre como o Brasil. Mas tivemos casos de pessoas que morreram de gripe A em dois dias, enquanto a tuberculose tem desenvolvimento lento e a morte está associada ao abandono do tratamento. Quan­­do você tem esse risco generalizado e para pessoas saudáveis, há prioridade", contrapõe a chefe do Departamento de Epi­demiologia do Hospital Pe­­queno Príncipe, Heloísa Giam­berardino.

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