O modo como as pessoas andam pode fornecer pistas para o diagnóstico precoce de doenças cognitivas. É o que indicam cinco estudos apresentados este mês na Conferência da Associação Internacional de Alzheimer (ALZ, na sigla em inglês), em Vancouver, no Canadá. Segundo os novos levantamentos, há evidências de que, quando uma pessoa anda mais devagar ou seu passo torna-se mais variável e menos controlado, suas funções cognitivas também estão sofrendo.

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De acordo com os estudos, o declínio das habilidades de pensamento - como memória, planejamento ou processamento de informações - ocorre quase em paralelo com a capacidade de andar normalmente. Em outras palavras: quanto pior a pessoa anda, maior sua dificuldade em pensar.

"As alterações na forma de andar precedem mudanças cognitivas que costumam ser observáveis em pessoas ao desenvolverem demência", revela Molly Wagster, chefe do Departamento de Neuropsicologia do Instituto Nacional de Envelhecimento dos EUA.Problemas não são apenas da idade

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Para os pesquisadores, suas conclusões podem levar ao desenvolvimento de ferramentas relativamente simples que permitiriam aos médicos prever ou diagnosticar o mal de Alzheimer.

"Você pode observar uma pessoa quando ela entra em seu consultório, prestando atenção se há alguma deterioração em seu modo de andar e se existe alguma explicação para esta dificuldade", conta William Thies, chefe de pesquisa médica e científica da ALZ. "Se não houver uma justificativa, devemos conversar sobre como está a memória do paciente."

Embora cientistas já tenham estudado mudanças no modo de caminhar após um ataque cardíaco ou causadas por doenças como o mal de Parkinson, apenas recentemente observaram-se as conexões entre o modo de andar e a cognição. Por décadas, os passos mais lentos eram atribuídos apenas à idade do paciente. Os novos levantamentos, no entanto, mostram como algumas alterações na forma de andar significam problemas que vão além do envelhecimento.

"É como dirigir um carro. Você precisa de um motor, um chassi e direção", compara Stephanie Studenski, geriatra da Universidade de Pittsburgh. "O motor da caminhada é composto por coração, pulmões e sangue. O chassi são os músculos, articulações e ossos. A direção é a fiação, o sistema nervoso. Os pesquisadores focados em cognição quase nunca veem as pessoas andarem. Os testes são sempre relacionados à forma de sentar."

Os novos estudos foram mais amplos e detalhados do que os anteriores, envolvendo medições sofisticadas na forma de caminhar. Alguns usaram uma espécie de calçada eletrônica - um longo tapete equipado com sensores que mediam pequenas diferenças na velocidade de andar, em sua cadência (o número de passos por minuto), na largura e variabilidade da passada (com que frequência muda o passo). Os voluntários incluíam pessoas com atrite ou outros problemas físicos, e os resultados foram postos em um banco de dados levando em conta altura, peso, idade e sexo de cada um.

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Uma idosa de 72 anos não teve problemas ao andar pela primeira vez. Mas, quando teve de repetir a caminhada contando a partir de 50 de trás para frente, seus passos pioraram dramaticamente.

"Ela vacilou e quase caiu", lembra Stephanie Bridenbaugh, diretora do Centro de Mobilidade de Basel, na Suíça. "E ela não reparou nada disso. Ela ficou irritada por não lembrar dos números."

A idosa foi encaminhada para uma clínica de memória, onde testes cognitivos indicaram que ela tinha um comprometimento cognitivo leve.