Mutação
Maioria das drogas foi desenvolvida como medicamento
A maioria das substâncias usadas para melhorar o rendimento esportivo foram desenvolvidas originalmente como medicamento. É o caso dos esteroides anabólicos, desenvolvidos entre os anos 30 e 50 e usados para acelerar a recuperação de feridos em guerra. Quase ao mesmo tempo, passaram a ser administrados em soldados sadios para aumentar a agressividade e resistência. A intenção do doping, portanto, é ultrapassar as limitações naturais do corpo, às vezes com consequências graves para quem tenta. "O ciclo olímpico acaba sendo um grande laboratório, e os atletas são usados por interesse político. Não é à toa que os ciclos de vitória durem tão pouco", afirma Eduardo Branco, presidente do Conselho Regional de Educação Física do Paraná.
Modificados
Hoje, os produtos usados em doping guardam pouco da fórmula original do medicamento. As doses são mais fortes e com efeito mais intenso. Devido à alta tecnologia de engenharia farmacêutica envolvida na feitura desses produtos, a produção é reservada a grandes companhias. "Jamais se discutiu essa produção exagerada de substâncias, não sei se por hipocrisia ou interesse", critica Julimar Luiz Pereira, professor de Atividades de Academia e Futebol da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Há casos de laboratórios que aplicavam esteroides em atletas patrocinados por eles." A lista geral de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) tem 70 itens. Um atleta de competição está impedido de tomar um antigripal que contenha cafeína, como o Benegrip e a Coristina D.
Interatividade
Na sua opinião, de que forma pode ser feito o controle do consumo dessas substâncias? Deixe sua opinião no espaço abaixo do texto.
Imagine que você é um atleta profissional. Durante os últimos 15 anos, treinou cinco horas ao dia, seis dias por semana, e percebe que seu desenvolvimento estancou a poucos segundos de um recorde mundial. A única alternativa, ao que parece, é usar substâncias capazes de dar o empurrãozinho extra rumo à linha de chegada.
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O caso dos velocistas Asafa Powell (Jamaica) e Tyson Gay (EUA), dois dos principais atletas da modalidade flagrados recentemente com substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping, mostra o quanto a prática é comum. "Atletas que participavam de campanhas contra o doping acabaram pegos. É um problema geral", acentua Antonio Eduardo Branco, presidente do Conselho Regional de Educação Física do Paraná.
Uma abundância também disponível para os atletas amadores ou de lazer. O uso de esteroides por praticantes de musculação é um fenômeno comportamental antigo, e que costuma receber "vista grossa" nas academias.
Em uma blitz realizada no começo de julho, em Curitiba, 14 academias foram fechadas e os responsáveis, presos. "Assim como aumentam músculos, os esteroides são capazes de aumentar outros tipos de tecido, até os cancerígenos", salienta Julimar Luiz Pereira, professor de Atividades de Academia e Futebol da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Alta nos batimentos
Também há risco no consumo de estimulantes como anfetamina e efedrina. Em atletas de fim de semana, essas substâncias são usadas para inibir o cansaço e aumentar a sensação de força.
Essa sensação de bem- estar é conseguida a partir do aumento dos batimentos cardíacos, que podem chegar a 200 batidas por minuto. Corpos destreinados para aguentar esse tipo de esforço podem colapsar. Mesmo suplementos alimentares tidos como "naturais", como proteína concentrada (Whey) ou creatina, podem causar dano aos sistemas digestivo e excretor, caso o usuário tenha predisposição para problemas hepáticos ou renais.
"Infelizmente, o esporte serve como uma janela de exposição para o bem e para o mal", afirma Sergio Gregorio, doutor em Fisiologia do Exercício e professor associado da UFPR. "O consumo de substâncias vetadas está descontrolado. É muito fácil comprar qualquer tipo de dopagem na internet."