Júlio Cezar testou diferentes tipos de remédios até encontrar o ideal| Foto: Hedeson Alves / Gazeta do Povo

Um susto e uma mudança

Depois de receber o diagnóstico de dislipidemia (colesterol alto), o administrador de empresas Júlio Cezar Portilho passou por um susto daqueles: em um exame de rotina, descobriu que estava com 98% da artéria coronária entupida. Para ajudar a controlar o problema, a sugestão do médico foi o uso de 40 miligramas de sinvastatina, mas a experiência não deu certo. "Usei por três anos, mas tive um problema de fígado. Como precisava da estatina para controlar o colesterol, tive que testar outros tipos até descobrir a rosuvastatina, há um ano", diz. A mudança fez diferença no tratamento. "Em poucos meses, os resultados dos meus exames melhoraram muito."

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O que é e quem pode usar

As estatinas são um tipo de medicação, ingerida via oral, para reduzir a produção de colesterol.

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Potência do remédio é o diferencial

No Brasil, há seis tipos diferentes de estatina à venda. A principal diferença entre elas é a potência para reduzir o colesterol em menor tempo.

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Recomendação da FDA não trará mudanças

Segundo o médico cardiologista do Hospital Costantini Everton Cardoso Dombeck, a nova recomendação da FDA não rende muitas mudanças nos atuais tratamentos, já que a maioria dos pacientes faz uso de 10 a 20 miligramas de estatina e, somente em casos muito graves, a quantidade sobe para 40 miligramas, raramente chegando aos 80 miligramas.

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Em junho, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) publicou um comunicado que reacendeu a discussão sobre os prós e contras das estatinas, substâncias usadas no tratamento de casos de colesterol alto. O documento pedia que os médicos reduzissem as aplicações de sinvastatina e atorvastatina – dois tipos de estatina – pela metade, diminuindo as doses máximas de 80 miligramas para 40 miligramas, devido ao risco de incidência de diabete e dores musculares graves.

"A entidade concluiu que, nestes casos, os riscos de alterações na saúde eram maiores que os benefícios da utilização dessa dosagem mais alta", explica o diretor do Departamento de Ateros­clerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Daniel Branco de Araujo. Mesmo sem afetar a maioria dos tratamentos (leia no box ao lado), a nova resolução ampliou a polêmica em torno do uso de estatinas e em que quantidade seu uso é seguro. Para Araujo, apesar da resistência de alguns profissionais e pacientes, a discussão está ultrapassada.

Benefícios

"Quanto maior a dosagem, maiores as chances de efeitos colaterais, mas há estudos sérios que mostram os benefícios da medicação. Ela é usada desde o final da década de 1980 e é comprovado que reduz o colesterol, previne problemas cardiovasculares, como aterosclerose, enfarte e AVC, e não oferece grandes riscos à saúde", diz Araujo.

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O professor de Cardiologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Dalton Precoma vai além e comenta que os riscos do colesterol alto são muito mais perigosos que os efeitos do remédio, quando administrado em doses seguras. "Nos casos indicados e com acompanhamento médico regular, os resultados positivos são incontestáveis", esclarece.

O especialista explica que a medicação é uma alternativa de tratamento para pessoas que têm colesterol alto e tenham tentado seguir uma dieta mais saudável, diminuir o estresse, praticar atividade física regularmente e parar de fumar, mas não tiveram resultados satisfatórios na redução do colesterol. Segundo Precoma, normalmente os pacientes conseguem uma redução de 10% a 15% das taxas de colesterol com a adequação de bons hábitos de vida. Com o uso regular do medicamento, essa redução é de até 56%.

Quanto aos efeitos colaterais, o médico cardiologista do Hospital Cardiológico Costantini Everton Cardoso Dombeck explica que somente em casos extremos os pacientes têm uma reação que possa ameaçar a vida. "Entre 5% e 10% dos pacientes sentem dores musculares, mas são somente aqueles que tomam altas doses, e basta tirarmos a medicação que elas cessam. Em raros casos, cerca de um em cada 4 milhões, a pessoa tem uma rabdomiólise [danos nos músculos esqueléticos devido à destruição das células], mas exames de controle periódicos reduzem os riscos a quase zero", comenta Araujo.

Ressalva

A principal ressalva é que pessoas com problemas musculares graves ou alterações hepáticas não devem usar estatinas. "Com o uso continuado, podem ser detectadas pequenas modificações no fígado, mas apenas 1% têm alterações consideráveis, que são solucionadas, e somente um em cada 1 milhão de pacientes manifesta problemas graves", ensina Araujo. Ele explica que alguns estudos sugerem que o uso de estatinas pode levar a um AVC hemorrágico, mas o problema não chega a ser uma preocupação. Afinal, as chances de isso ocorrer são mínimas perante a redução que a estatina gera nas chances de um AVC isquêmico. "Se compararmos, essa prevenção vale a pena diante dos riscos", diz. Segundo Precoma, também não é comprovado que as estatinas aumentam a chance de a pessoa ter câncer.

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