Para entender
Regras determinam em que situação emagrecedores podem ser comercializados.
Como é a venda da sibutramina hoje?
O médico e o paciente assinam um Termo de Compromisso em que dizem estar cientes dos riscos do remédio. Este termo e a receita são obrigatórios para comprar o remédio em farmácia.
Quem não pode tomar o remédio?
Pacientes com histórico de anorexia e bulimia, com doenças cardiovasculares e psiquiátricas ou com hipertensão descontrolada, além de idosos, grávidas e lactantes.
Por que uns foram proibidos e outro não?
Os anfetamínicos proibidos são anorexígenos, que tiram a vontade de comer e fazem o paciente não se alimentar ou pular refeições, o que não é bom. Também causam dependência. Já a sibutramina tem efeito sacietógeno, pois faz a pessoa se sentir saciada mais rapidamente ao começa a comer.
Há um outro lado dos anfetamínicos?
Alguns médicos, porém, afirmam que se a pessoa não estiver no grupo de risco das anfetaminas, pode utilizar o remédio com acompanhamento criterioso. Também argumentam que, embora a União Europeia os tenha proibido, os EUA recentemente aprovaram o Qnexa, um anfetamínico associado a um anticonvulsionante que tem apresentado bons resultados.
Acompanhamento
Sibutramina tem mais defensores
De acordo com alguns especialistas, os anfetamínicos, de fato, têm efeitos colaterais indesejados. Mas eles também afirmam que é feito um acompanhamento sério para evitar que pessoas que têm predisposição a problemas psiquiátricos ou com histórico de uso de drogas utilizem o remédio.
Já outros discordam veementemente. De acordo com o cardiologista do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) Alexandre Alessi, os anfetamínicos causam mudança de humor, taquicardia e hipertensão. "Seu risco à saúde global é alto. São drogas perigosas que não devem ser prescritas".
Já a manutenção da sibutramina é defendida pela maioria dos médicos, desde que com restrições. De acordo com o endocrinologista do Centro de Diabetes do HNSG André Vianna, ficou mais difícil obter o remédio irregularmente por conta da necessidade de se apresentar um termo de consentimento na hora da compra, e que isso também coibiu uma prática comum, quando médicos não especializados em obesidade receitam sibutramina para fins estéticos.
Cronologia
21/01/2010 A Agência Européia de Medicamentos (EMEA) proíbe a fabricação, venda e prescrição da sibutramina em todo o continente, com base em um estudo feito ao longo de seis anos que associa o uso do medicamento ao aumento de problemas cardíacos e do sistema nervoso central.
23/02/2011 a Anvisa inicia audiência pública a respeito da proibição de três emagrecedores à base de anfetaminas - anfepramona, femproporex e mazindol -, vendidos há mais de 30 anos no país, além daqueles derivados da sibutramina.
10/10/2011 A Anvisa publica no Diário Oficial da União a resolução n.º 52 que proíbe os anfetamínicos e restringe a sibutramina, e dá 60 dias paras que o mercado e os pacientes se adaptem às novas regras. A diretoria afirma que, dentro de um ano, deverá colocar novamente em debate o uso da sibutramina.
13/10/2011 o Conselho Federal de Medicina entra com ação na Justiça Federal para derrubar a proibição. No dia seguinte, a Justiça mantém a proibição.
9/12/2011 A proibição de fabricação e venda passa a valer em todo o país.
21/11/2012 A Anvisa informa que deverá publicar até o final de janeiro uma decisão sobre manter ou não a fabricação, venda e prescrição da sibutramina, mas ainda não cumpriu com o prometido.
Fonte: Agência Brasil e Portal Anvisa
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Com a proibição de três emagrecedores à base de anfetaminas em dezembro de 2011, médicos que tratam a obesidade têm enfrentado dificuldades para encontrar alternativas eficazes e seguras para controlar e vencer a doença. Em breve, a situação pode ficar ainda mais complicada, já que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode proibir também a sibutramina, medicamento que aumenta a sensação de saciedade e que hoje é vendido e prescrito de forma restrita.
Após a retirada dos inibidores de apetite anfepramona, femproporex e manzindol, sob a alegação de que causavam dependência química e provocavam efeitos colaterais, restaram aos médicos quatro opções: fazer a migração para a sibutramina, receitar remédios off-label, indicar cirurgia bariátrica ou, simplesmente, ficar de mãos atadas até que surja um novo medicamento.
INFOGRÁFICO: Entenda como a sibutramina age no cérebro e causa a sensação de saciedade
Isso porque, ao contrário do que se pensa, a obesidade é uma síndrome que muitas vezes não é vencida apenas com exercícios físicos e reeducação alimentar. Além de hábitos saudáveis, a doença exige intervenção medicamentosa que atue diretamente nos centros da fome e da saciedade que existem no cérebro.
Sem opção
Os mais prejudicados, de acordo com a endocrinologista do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo e diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), Cintia Cercato, são os pacientes do SUS. "Quando os inibidores foram proibidos, o HC deixou de receitá-los, e aqueles que não se adaptaram à sibutramina e não podem fazer a cirurgia ficaram sem remédio e voltaram a engordar", diz.
A médica explica que quem tem condições financeiras pode se valer de um medicamento off-label (que é quando é usado para tratar uma doença não descrita na bula, mas que a prática médica já constatou que é eficaz). É o caso do Victoza, aprovado para tratar diabete, mas que tem bons efeitos contra a obesidade, e é reconhecido pela Anvisa. Mas o remédio não é ofertado pelo SUS.
"Não vi benefício algum na proibição", lamenta Cintia, que diz que o argumento da Anvisa de que o medicamento faz mal e é muito consumido de forma clandestina o país é o terceiro do mundo que mais consome anfetamínicos não leva em conta quem realmente precisa do remédio. "O papel da agência é justamente fazer a vigilância e coibir o uso indevido, e não punir quem toma o remédio por questões de saúde, e não de estética, receitado por profissionais sérios".
O que dizem os pacientes
A assistente financeira Vanessa Martins, 46 anos, toma a sibutramina há um ano e dois meses e já conseguiu controlar o diabete e o colesterol alto. Com 1,70m ade altura, passou de 110 para 89 kg. "Também reeduquei minha alimentação. Como seis vezes por dia, sendo que antes até pulava refeições, e passei a caminhar três vezes por semana". Ela não está preocupada com a possibilidade de proibição do remédio.
Já a dona de casa Gleide Goulart Iatsky, 38 anos, teme que a Sibutramina seja banida. "Já tentei outros medicamentos, mas não resolveu. Tenho tendência a engordar. Ficará complicado, acho que posso ser prejudicada", diz. Há cinco anos se tratando com remédio, com alguns intervalos, a dona de casa de 1,62m de altura já pesou 98kg, passou para 60 kg e hoje está com 80 kg. O único problema, segundo ela, é a burocracia para comprar a sibutramina. Como está imobilizada por conta de um acidente, tem dificuldades para ir ao médico e à farmácia. "Antes era possível que alguém comprasse pra mim, e vendiam até duas caixas. Era melhor".
Estudo que gerou discussão divide os médicos
A polêmica a respeito da sibutramina se iniciou em 2009, quando foi publicado um estudo sobre seus efeitos adversos sobre a saúde cardiovascular. Chamado de SCOUT (Sibutramine Cardiovascular Outcomes Trial), o estudo avaliou 10,7 mil pessoas em 16 países por 7 anos e concluiu que o remédio aumenta em 16% o risco de enfarte e derrame em pessoas que já têm propensão à doença.
Com isso, a comunidade europeia proibiu o medicamento em 2010. Mas até um dos autores do estudo, o cardiologista dinamarquês Christian Torp-Pedersen, afirmou que a sibutramina não deveria ser proibida no Brasil. Durante audiência na Anvisa, Pedersen afirmou que a perda de 5% a 10% do peso propiciada pelo remédio é relevante para quem é obeso crônico e não consegue emagrecer com exercícios físicos.
Segundo o cardiologista do Hospital Constantini Everton Dombeck, é temeroso emitir uma opinião fechada sobre o medicamento. O remédio pode ser perigoso para quem o utiliza sem orientação médica - como para emagrecer com fins estéticos - ou tem doenças coronarianas, fez angioplastia ou tem pressão alta. Mas é, muitas vezes, a única solução para quem é obeso, não consegue emagrecer e corre risco de morte.
"Diretrizes [como a da Anvisa] servem de guia para a tomada de decisões pelos médicos, mas não podem virar uma regra para todos os casos. Nenhuma droga deve ser usada livremente, mas proibir o remédio é prejudicial a quem realmente precisa dele e não está no grupo de risco. O que não pode acontecer é ele ser usado indiscriminadamente, por indicação de parente, de forma clandestina", diz.
Anvisa
Já a Anvisa parece estar dividida. Em agosto de 2011, a chefe do núcleo de gestão do sistema nacional de notificação e investigação em vigilância sanitária da Anvisa, Maria Eugênia Cury, questionou: "O medicamento é indicado para pessoas que precisam emagrecer para evitar complicações em quadros de obesidade, como problemas cardiovasculares. Então qual o sentido de usar um remédio se ele próprio leva a esse quadro?".
Pouco depois, a agência resolveu manter a licença do medicamento, mas a decisão não foi unânime, já que de quatro diretores, um, o ex-ministro da Saúde Agenor Álvares, votou contra. "Se vários tiraram (do mercado) com base em evidências científicas, não podemos ignorar essas evidências. Se eles têm cuidado com as populações deles, temos também de ter com a nossa", disse na época.
O fato de o debate ainda estar em aberto - a agência não confirmou quando dará o parecer final - demonstra que ainda há muita polêmica pela frente.
Com Agência Brasil