Claudinei Martins com o filho e a esposa: ele foi oito vezes ao obstetra durante a gestação do menino| Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo

Exames essenciais

Os futuros papais devem fazer os exames porque, mesmo tratada e vacinada, a mulher corre o risco de contrair doenças por meio da relação sexual e, assim, contaminar o bebê através da transmissão vertical (mãe-filho). Confira o nome dos testes essenciais e os dados em torno deles:

- HIV/Aids – em 2008, 42 mil mulheres no mundo morreram por complicações da Aids.

- Sífilis – a cada dez grávidas que possuem sífilis, quatro perdem o bebê.

- Hepatite B e C – um feto que contrair a doença tem 80% mais chances de ter câncer de fígado no futuro.

- Colesterol, diabetes e triglicérides – além destes exames, é preciso medir a pressão.

Fontes: OMS, Geraldo Duarte e Fernando Meyer.

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Pai presente

Em Curitiba, o pré-natal do homem é feito dentro de projeto da prefeitura. Confira os dados sobre atendimentos:

1.475 homens participaram do pré-natal da esposa grávida.

455 fizeram visitas prévias à maternidade onde o filho nasceu.

1.604 foram a postos de saúde para fazer exame de sífilis: houve quatro confirmações da doença.

1.470 realizaram o exame para detectar HIV (Aids): houve 10 confirmações.

Durante a gestação de Pedro Henrique, que completou quatro meses na semana passada, o paisagista Claudinei Alessandro Martins foi oito vezes ao obstetra. Fez exames laboratoriais, teve longas conversas com o médico e ouviu dicas de como se preparar para receber melhor o filho que estava chegando. Para quem se pergunta o que um homem foi fazer tantas vezes em um médico que cuida de mulheres grávidas, explica-se: Martins foi um dos 1,4 mil homens que, desde maio do ano passado, fizeram o pré-natal – durante a gestação da mulher – na rede municipal de saúde de Curitiba.

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Das nove consultas feitas pela dona de casa Juliana Stocco, a esposa de Martins, ele faltou apenas em uma, por causa do trabalho. Na primeira ecografia, ele também estava lá, ansioso. Só não participou do parto, pois não conseguiu chegar a tempo – embora a esposa brinque que ele ficou com medo. "Na primeira consulta, eu estava com receio, pois era algo novo, mas na segunda já estava à vontade. É incrível, quanto mais eu ia à consulta, mais tinha vontade de estar presente no desenvolvimento do meu filho", conta o pai.

Além de cuidar da saúde, Martins também aprendeu a lidar com as mudanças de humor de Juliana. "Ela é bem nervosa, de família italiana, e com a gravidez ela ficou ainda mais. Com as explicações do médico sobre por que isso acontece, eu passei a entendê-la melhor." A esposa complementa. "Às vezes, a gente ia à consulta depois de ter brigado e voltava bem após as conversas", comenta. "Foi muito importante, pois, para o homem, ver a barriga crescendo é uma coisa, mas ver que ali existe uma pessoa, poder olhar o filho na ecografia, saber o que está acontecendo com a mãe, é outra", diz ela.

Para especialistas, a atitude de pais como Martins tem relação direta com o aumento da qualidade de vida dos três: mãe, pai e bebê. "As vantagens são muitas: o pai se envolve mais com a gravidez, e a mulher se sente mais segura. Os laços familiares se fortalecem. Ele também cuida melhor da saúde e, caso tenha alguma doença, evita que ela seja transmitida à mãe e ao bebê", explica o médico-obstetra Edvin Javier Boza Jimenez, coordenador do programa da prefeitura Mãe Curitibana, responsável pelo projeto Pai Presente, que convida os pais a realizarem exames e oficinas durante a gestação da companheira.

Campanha

A presença dos pais ainda é pouca estimulada nos consultórios das redes pública e particular, mas uma campanha lançada pelo Ministério da Saúde no mês passado – junto às secretarias municipais de saúde – pretende reverter esta situação. De acordo com o ministério, o projeto busca fortalecer os laços familiares – que tem relação direta com o aumento da qualidade de vida das gestantes – e quer manter o compromisso assumido pelo Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), de conscientizar o homem para a importância de cuidar da saúde.

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"Ao contrário da mulher, que vai ao ginecologista desde a adolescência, o homem só vai ao médico quando tem uma doença crônica e, ainda assim, porque a esposa insiste. Essa campanha do Ministério da Saúde quer aproveitar esse período em que o pai está mais sensível, quando ele vai às consultas com a mulher, para mostrar que é importante ele também estar bem para poder cuidar da família", diz o chefe do setor de urologia do Hospital Universitário Cajuru, Fernando Meyer.

A estratégia consiste em solicitar uma série de exames ao futuro pai: primeiramente, pede-se que ele realize os testes de HIV, sífilis e das hepatites B e C, doenças que podem ser passadas para a mãe e para o filho. Paralelamente, o médico também pode pedir exames de colesterol, diabetes e triglicérides e medir a pressão arterial, como forma de monitorar os hipertensos. "Essas são as chamadas doenças crônicas, que atingem e matam mais os homens, que têm uma vida menos regrada, se alimentam pior, fumam mais e usam mais drogas. Nesse caso, aproveita-se para cuidar dessas doenças também", explica Meyer.

Falta política pública de saúde para os homens

Ao contrário do que muitos pensam – inclusive as futuras mamães –, a ausência do pai nesse período tão importante não deve ser atribuída à falta de vontade deles. A ausência de políticas públicas, aliadas à desinformação das equipes médicas, são os maiores entraves. Essa é a avaliação do obstetra Geraldo Duarte, professor titular de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.

Projeto

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O médico, responsável pela criação e implantação do pré-natal masculino no Hospital de Clínicas da USP em 2007, projeto pioneiro no país, conta que os homens ainda não são bem recebidos por médicos e enfermeiros quando a mulher vai a uma consulta médica. "Muitas vezes, quando ele chega ao posto de saúde para acompanhar a mulher, não há nem uma cadeira para ele sentar. Às vezes, ele é proibido de entrar na sala porque acredita-se que é um ambiente feminino", lamenta.

Melhorias

Para Duarte, é preciso que os gestores na área da saúde se conscientizem dos benefícios a longo prazo desse tipo de investimento. "Ao entender melhor o processo gestacional, o marido se torna mais compreensivo, e isso ajuda a diminuir as taxas de violência doméstica. A mulher, por sua vez, tem menos chances de ter depressão pós-parto. Em relação aos gastos feitos com os futuros papais, os benefícios depois são imensos."

O médico, que já atendeu mais de 300 casais – atualmente são 30 em acompanhamento –, acredita ainda que o homem também precisa mudar seu olhar em relação ao tema. "É importante ressaltar: ele tem de ver esses exames e esse acompanhamento não como uma obrigação, mas como um direito."

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Interatividade

O pré-natal para os futuros papais poderá incentivar o homem a cuidar mais da saúde?

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