Enquanto profissionais de saúde investigam o surto de casos de microcefalia em Pernambuco, mais estados do Nordeste registram aumento de notificações da doença. Em um período de 20 dias, entre outubro e novembro, foram 141 casos registrados em Pernambuco. O Rio Grande do Norte sinalizou que, desde agosto, foram identificadas 22 ocorrências. Os números são equivalentes aos registros de microcefalia do Ministério da Saúde para todo o país durante um ano. Segundo dados da pasta, entre 2010 e 2015, a média foi de 154 casos de microcefalia no Brasil por ano.
Poucos casos no paraná
Há poucos casos de microcefalia registrados em Curitiba e no Paraná. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, entre 2010 e 2015, houve sete casos de internamento de crianças com o problema pelo SUS na cidade. Já no Paraná, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informa que, em 10 anos, foram registrados 55 casos da doença.
Para o neurocirurgião pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe André Malheiros, há de se considerar a subnotificação, já que os médicos não são obrigados a informar aos órgãos de saúde sobre o nascimento de crianças com essa malformação. “Em qualquer UTI neonatal a incidência é alta, mas não se notifica a microcefalia, apenas a causa da cirurgia.”
O médico explica que a doença pode ser provocada por fatores genéticos ou ambientais, como doenças que afetam a mãe (veja infográfico). No caso do surto no Nordeste, a linha de investigação segue para a segunda hipóteses e engloba até o surto de zika vírus, registrado em alguns estados no começo do ano. A doença é transmitida pelo mesmo mosquito da dengue.
Conversa entre médicos alertou para surto
O aumento de casos de microcefalia em Pernambuco foi descoberto a partir de uma conversa entre mãe e filha. Intrigada com a rotina pouco usual do dia, Ana Van der Linden, neuropediatra do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, contou para filha, também neuropediatra do Hospital Barão de Lucena, ter atendido, em um só dia, sete casos da doença. “No mesmo dia, recebi cinco casos”, recorda Vanessa Van der Linden. Para tirar a prova, ambas ligaram para a neuropediatra Adélia Souza, que também relatou aumento de casos. “A partir daí, uma rede se formou”, conta Adélia. “Em poucos dias, já tínhamos mais de 40 casos.”
O diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, avalia que a maior dificuldade é estabelecer causa e consequência nos casos de microcefalia, sobretudo pela falta de ferramentas de diagnóstico. “A causa da malformação aconteceu há pelo menos seis meses. Esse período pode fazer com que boa parte dos detalhes seja esquecida”, afirma.
Para Malheiros, a investigação das causas da doença agora terá de unir a história da mãe e da criança, para identificar o que aconteceu. “Precisamos saber como foi o pré-natal dessa gestante, que exames ela fez”, diz. Isso é importante porque os exames que identificam infecções provocadas por vírus transmitidos por insetos geralmente são pouco específicos: funcionam no período da contaminação. Quanto mais longe o período, mais difícil identificar o agente. Se a gestante foi diagnosticada com a doença, é uma peça a se encaixar no quebra-cabeça dos médicos
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