| Foto: PAULO WHITAKER/REUTERS

Para o representante da Opas/OMS (Organização Pan-Americana de Saúde) no Brasil, Joaquín Molina, não há dúvidas de que o vírus zika, identificado no país neste ano e transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, esteja relacionado ao surto de microcefalia em recém-nascidos.

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Hoje, a organização acompanha as ações do Ministério da Saúde e tem especialistas em campo em Pernambuco para investigar os casos e propor ações de resposta à emergência em saúde.

Segundo Molina, o relato de sintomas comuns da infecção pelo vírus entre gestantes e os estudos que apontam que o zika age no sistema nervoso central colaboraram para que a relação com o aumento de casos de microcefalia fosse confirmada.

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“As evidências se acumulam e apontam que é o zika. Possivelmente alguns cientistas acreditem que é preciso mais evidências, mas como profissional de saúde pública, não tenho dúvida”, afirma o diretor.

“Há a necessidade agora de identificar como isso acontece, em que momento afeta e como atravessa a barreira placentária. E esclarecer o grau de risco de [o bebê desenvolver] anomalia congênita”, completa.

Avanço de casos

O aumento dos casos de microcefalia começou a ser percebido em hospitais do Recife a partir de agosto deste ano. Desde então, em pouco mais de três meses, o país já soma 1.248 casos suspeitos de microcefalia em 13 Estados e no Distrito Federal. O número é oito vezes maior do que o registrado em todo o ano passado, quando houve 147 casos da má-formação em recém-nascidos.

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Para Molina, não houve atraso na identificação dos casos. “O Brasil tem um mérito, que é principalmente dos profissionais e serviços de saúde de Pernambuco, que foi perceber rápido o aumento de casos de microcefalia e se questionar por que isso estava acontecendo.”

E diz que o aumento dos casos da anomalia, que já era de notificação obrigatória, surpreende o setor. “Quando se faz uma análise, é possível ver um crescimento inusitado. Os Estados têm seus próprios dados. Pernambuco, por exemplo, tinha média de 10 a 12 casos por ano. É algo que chama a atenção.”

As previsões não são animadoras. Ele estima que, considerando os piores meses de circulação do Aedes aegypti começam no início do ano e seguem até abril e maio -quando o país vivia uma epidemia de dengue e já investigava os casos de zika- os registros de microcefalia ainda devem crescer.

Na última semana, a OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou um alerta mundial para que países reforcem a vigilância para evitar zika. O documento cita o aumento de casos de microcefalia no Brasil. “O alerta da OMS dado pela experiência no Brasil serve para que se comece a tomar mais cuidados. Mas nesse momento para alguns fetos em gestação não há o que fazer.”

Expansão

Uma das primeiras epidemias de zika ocorreu na Polinésia, em 2007. Hoje, nove países das Américas já tem circulação confirmada do vírus: Brasil, Chile, Venezuela, Colômbia, Paraguai, Suriname, El Salvador, Guatemala e México. No mundo, há registros em 22 ao todo, segundo a OMS.

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O zika pode então chegar a mais países? “Se tem Aedes aegypti, vai chegar. É questão de tempo, é o mesmo que dengue”, afirma Molina.

De acordo com o representante da Opas, alguns fatores, porém, ainda podem alterar esse cenário -como a prevenção ao mosquito transmissor.

“Como todos os arbovírus, principalmente os transmitidos pelo Aedes aegypti, sabemos que a transmissão passa muito pela combinação de pessoas suscetíveis e pelas condições do ambiente para que isso ocorra. O mosquito tem uma cultura muito definida, da hora que pica, o lugar onde fica. Se diminuir a possibilidade do mosquito nascer, diminui esses fatores”, afirma.

O aumento de casos da má-formação em bebês também deve exigir um plano de assistência na rede de saúde. “O sistema de saúde precisará aumentar a rede de neuropediatria para cuidar dessas crianças. A atenção pré-natal também precisa ser reforçada.”