Os casos recentes de dengue em Curitiba refletem a má condição dos serviços de saneamento, apontam especialistas. Ainda que a cidade tenha bons índices de cobertura da rede de água, esgoto e coleta de lixo, a situação de alguns bairros é precária, assim como o de municípios vizinhos. O cenário se agrava com a poluição nos diversos rios que cruzam a capital.
A atuação do El Niño, (...), aliada à condição deficiente de saneamento, pode causar uma situação grave em Curitiba em março e abril.
Segundo o geógrafo Francisco Mendonça, professor da UFPR, a capital paranaense não registrava casos autóctones de dengue até meados de 2014 sobretudo pelo clima. “As condições climáticas eram limitantes. A partir de 2015, a atuação do El Niño, provocando chuva e calor, aliado à condição deficiente de saneamento, pode causar uma situação grave em Curitiba em março e abril”, explica.
O grande problema é a urbanização desordenada na periferia da capital e nos municípios vizinhos. “Há uma mancha urbana de mais ou menos 3 milhões de pessoas, com situações gravíssimas de falta de saneamento”, alerta. “No geral todas as cidades têm galerias pluviais na área central, mas o declive das tubulações faz com que, depois que a chuva da água escorre, uma parte fica parada, pois a tubulação é plana. Vimos criadouros assim em Foz do Iguaçu”, relata, a respeito da cidade que tem 3.873 casos notificados até 8 de março.
Rios
Segundo o engenheiro ambiental Carlos Mello Garcias, professor da PUCPR, o Aedes encontra um ambiente para se proliferar nos rios de Curitiba. “Imagine uma lata boiando no Rio Belém. A lata enrosca em barranco. Quando chove, a água que está dentro vai transbordar. O que sobra é agua não tão limpa, com muita matéria orgânica. Está armado o circo para reprodução do mosquito”, descreve.
Ele critica o uso do fumacê. “Ficar matando mosquito não resolve. Precisa acabar com o foco, e isso passa pela educação ambiental”, acrescenta. Para o professor da PUCPR, a população precisa agir de forma mais consciente, e o poder público, de maneira mais incisiva. “Não se faz a conexão da falta de saneamento com o caos nos hospitais. Continuamos tendo lixo nas ruas, pessoal da construção civil que descarta em terreno baldio. A prefeitura, para fiscalizar, precisa derrubar muros e multar, as secretarias têm de fiscalizar”, aponta.
Duras críticas contra o poder público também foram feitas pelo patologista Beny Schmidt, professor na Unifesp. Em artigo distribuído à imprensa em fevereiro, ele apontou que o tema saneamento não foi abordado na reunião de combate ao Aedes aegypti promovida pela presidente Dilma Rousseff com os governadores.
A médica infectologista Margarete Villins, professora do curso de medicina da Faculdade Santa Marcelina (SP), engrossa o coro da importância da limpeza do ambiente. “Melhorar o saneamento básico é fundamental, assim como a limpeza das ruas. Qualquer lata de refrigerante pode acumular água suficiente para o Aedes se proliferar”, diz.
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