Pesquisa
Fobia de tirar férias
Embora o período de 30 dias de descanso seja um direito do trabalhador, previsto em lei, muitos profissionais têm medo de tirá-lo. De acordo com uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR) com 678 profissionais de 25 a 55 anos, 38% dos entrevistados têm fobia de tirar férias. O principal receio dos participantes do estudo é que decisões importantes sejam tomadas na empresa durante sua ausência (46%). Outros 32% têm medo de mudanças de cargo ou responsabilidades, enquanto a preocupação de 3% é que ninguém sinta a falta deles.
Para a consultora Daniela Zanuncini, os maiores responsáveis por disseminar essa sensação entre os empregados são os chefes. "É preciso entender que dar férias aos funcionários faz bem à saúde da própria empresa. E os funcionários precisam lembrar que mudanças não acontecem apenas quando estamos ausentes", argumenta.
Para o psicólogo Willian Mac-Cormick Maron, esse medo também pode estar ligado à dificuldade que algumas pessoas têm em compreender o seu papel. "O trabalho ajuda a criar nossa identidade. Muitos sentem perdê-la quando não estão trabalhando, como se perdessem utilidade social", explica. (JK)
A empresária Mariana Palu Córdova, 26 anos, não tira férias há seis anos. E mesmo quando tira alguns dias de folga geralmente não mais que três não consegue se desligar do trabalho. "Estou sempre conectada à internet, com o celular na mão, resolvendo problemas", diz. Foi assim quando aproveitou a viagem de negócios aos Estados Unidos para conhecer Las Vegas. E foi assim também no último réveillon na praia. Mariana confessa que o estresse a incomoda, principalmente no fim do ano, quando o movimento do posto de gasolina da família aumenta. Mas ela conta que nunca teve nenhum problema de saúde por passar tanto tempo sem descanso.
Médicos e especialistas em qualidade de vida, entretanto, explicam que a falta de um período de descanso do trabalho pode, sim, prejudicar o organismo. Segundo o cardiologista Mário de Camargo Maranhão, presidente do Instituto Qualivitae, o estresse laboral que se acumula quando o indivíduo fica longos períodos sem se desligar do trabalho pode causar queda na imunidade, problemas cardiovasculares, ansiedade, depressão, problemas digestivos constipação, diarreia, gastrite e até úlceras , hipertensão, alergias e problemas respiratórios. "O nosso organismo necessita de período livre das obrigações habituais, não só para descansar corpo e mente, mas também para reorganizar a vida. Quem não tira férias regulares perde em produtividade e se torna emocionalmente instável", explica Maranhão.
Para a consultora empresarial Daniela Zanuncini, da Bem-Estar Desenvolvimento Humano, o estresse faz parte da vida, mas, quando não existe um período de descanso, o organismo não tem tempo de se reestruturar para responder melhor aos problemas. "Todo conflito não resolvido se transforma em sintoma. Leva-se apenas cinco segundos para entrar em um estado de estresse, mas cerca de meia hora para se acalmar. Muitos, dependendo do problema, levam horas e até dias para relaxar", lembra.
De nada adianta, porém, tirar longas férias se o período não for aproveitado com qualidade, alerta o psicólogo Willian Mac-Cormick Maron, da clínica Sefit Prevenção Laboral. "O desafio durante este tempo livre é apagar a luz do escritório, ou seja, nada de passar horas por dia respondendo aos e-mails ou ligando para os clientes. O objetivo das férias deve ser, principalmente, cuidar de si mesmo: fazer um esporte, dormir até mais tarde, aproveitar o tempo com a família", aconselha.
Os especialistas acreditam que 30 dias seriam o ideal para realmente conseguir se desligar da rotina. Mas eles também concordam que 10 dias bem aproveitados valem muito mais do que um mês sem qualidade. "Geralmente uma semana não é suficiente. Leva-se entre 5 e 10 dias para entrarmos no clima, nos desligarmos de fato do ambiente de trabalho. Para que esse período seja bem aproveitado, prepare-se para a folga", aconselha a consultora empresarial.
Paz no emprego
Para Maranhão, outra forma de combater, ou pelo menos amenizar o estresse laboral, é fazer aquilo de que se gosta ou, se não for possível, gostar do que se faz. "Não somos máquinas, também temos de encontrar diversão e prazer na profissão. É essencial trabalhar em um ambiente saudável, agradável e ter um bom relacionamento com os colegas", explica.
Ter uma atitude mais positiva em relação ao emprego é importante, inclusive para diminuir o sofrimento de voltar à labuta. "O retorno ao trabalho é uma ótima oportunidade para implementar mudanças. Assim como é necessário se planejar antes de sair, é bom estabelecer algumas metas para a volta e assim tornar a atividade mais prazerosa e atrativa", afirma o cardiologista.
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