HU não forneceu valores
A reportagem do JL entrou em contato o Hospital Universitário (HU) que informou não ser possível fazer o levantamento dos gastos com os atendimentos realizados na instituição nos últimos 22 dias. Apesar de admitir haver custo fixo para ocupação dos leitos, a instituição alegou, por meio da assessoria de imprensa, serem números que "não refletem a realidade do atendimento". Do dia 29 de julho até a última quarta-feira (19), o HU registrou 70 internações nas enfermarias por suspeita de gripe A e outras 9 em leitos de UTI.
Impactos na rotina da Saúde foram para operacionalizar atendimento
A gripe A (H1N1) trouxe impactos para a rotina do sistema de saúde observados pelo secretário estadual de Saúde Gilberto Martin. Porém não chegou a trazer prejuízos para o atendimento de pacientes com outras doenças. "Foi preciso suspender cirurgias eletivas que necessitariam de leito de UTI depois", afirma. "Mas foram suspensas apenas aquelas que poderiam ser adiadas." A ocupação de 61 leitos comuns/dia e 12 leitos de UTI/dia, com casos suspeitos da nova gripe, também não provocou um impacto significativo, segundo o secretário.
"Nesta época do ano temos, normalmente, uma intensificação da demanda de doenças respiratórias, mas nos últimos quatro ou cinco temos conseguido equacionar o déficit de leitos em UTIs", afirma. "Passamos de 700 para 1.300, aproximadamente, no estado. Na região de Londrina houve um aumento de 40%. Londrina tem 100, Cambé, 10, Arapongas, 40. Isto nos ajudou bastante agora."O surgimento de uma nova doença para o sistema de saúde dar conta preocupa, mas, segundo o secretário, a gripe A já foi absorvida por esse sistema. "Não senti uma pressão de demanda tão grande como sentimos em outros momentos, quando tínhamos menos leitos, menos teto financeiro", afirmou.
Os impactos sentidos na rotina do sistema de saúde foram mais na operacionalização do atendimento. Entre estes impactos, o secretário cita: criação de ala específica na saúde para entrada de pacientes com sintomas suspeitos; treinar funcionários para o manejo clínico adequado deste paciente; repasse de equipamentos de proteção individual.
Martin atribui em parte o fato de a pressão de demanda não ser tão grande como em situações anteriores, por se tratar de uma doença nova. "Como é uma doença que não tínhamos antes, tivemos uma injeção de recursos", explica. "Do tesouro do Estado recebemos R$ 19 milhões e do Ministério da Saúde, R$ 6 milhões em três vezes."
(Erika Pelegrino)
- Evasão escolar por causa da gripe A chega a 35% na rede estadual
- Londrina adia aulas na rede municipal por mais uma semana
- PR confirma mais 12 mortes por gripe A; total chega a 119
- Comitê da gripe A em Londrina quer dez novos leitos de UTI
- Morre em Londrina segunda vítima de gripe A H1N1 de Rolândia
- Saúde confirma segunda morte de morador de Londrina por gripe A
Desde o final de julho, quando os atendimentos de casos suspeitos de gripe A foram intensificados em Londrina, os hospitais Santa Casa, Mater Dei, Infantil, Evangélico, Zona Norte e Zona Sul já acumulam gastos de R$ 763.356 apenas com internações. Somando-se a esse valor, os R$ 750 mil liberados pela Prefeitura para pagamento de horas extras e contratações temporárias de profissionais de saúde para a rede pública, os R$ 49.434 relativos aos 4.708 atendimentos do Centro de Referência, funcionando no Pronto-Atendimento Municipal (PAM), e R$ 288.425 com 6.640 tratamentos com o medicamento Tamiflu liberados para a 17ª Regional de Saúde, a conta sobe para R$ 1.851.215 em 22 dias.
O secretário da Saúde, Agajan Der Bedrossian, disse que a pasta não tem como levantar o que já foi gasto no combate da gripe A, afirmando que esse não é o momento para "ficar calculando os gastos, mas sim de tratar das pessoas". Segundo ele, "quando a situação estiver mais tranquila", a secretaria levantará todos os custos. No entanto, ele informou que os principais gastos têm sido para manter o custo operacional. Para calcular os gastos com os atendimentos no Centro de Referência, o JL tomou por base o valor repassado pelo SUS à Santa Casa, que é de R$ 10,50 por pessoa. Em relação ao Tamiflu, o preço unitário, R$ 43,43, foi calculado com base na última compra realizada pelo Ministério da Saúde, no valor de R$ 34,7 milhões, pagos por 800 mil tratamentos.
Vários servidores tiveram de ser afastados por apresentarem sintomas de gripe, assim como as gestantes. "Pelo que já analisamos esse valor [R$ 750 mil liberados pela Prefeitura] ainda será pouco. Mas também tivemos outros gastos, como produção de material explicativo. Fizemos 450 mil panfletos e cartazes para a distribuição, tudo com recursos próprios." Entre os hospitais, o maior impacto com os atendimentos de pacientes suspeitos da gripe A está sendo sentido pela Irmandade Santa Casa (Iscal), que administra a Santa Casa, e os hospitais Mater Dei e Infantil, que gasta diariamente R$ 40 mil. A direção da Iscal realizou um levantamento, a pedido do JL, e informou que nas últimas três semanas já foram gastos R$ 895 mil com internações e atendimentos de pronto-socorro.
Segundo o superintendente da Iscal, Fahd Haddad, os três hospitais são os que mais têm pessoas internadas com suspeita da nova gripe. Haddad disse que 63% dos atendimentos e 70% das internações da cidade estão concentradas nesse complexo hospitalar. Para o superintendente, esse levantamento mostrou que os hospitais estão "bancando" a maior parte do tratamento. Haddad explicou que uma diária de paciente em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) custa para o hospital R$ 2.241, porém recebe do SUS somente R$ 508. Já pela diária de um leito de enfermaria, o hospital recebe do governo R$ 115, enquanto tem custo de R$ 490.
"A maior conta está sendo paga pelos hospitais. Mas não podemos interromper o atendimento. É impossível recusarmos pacientes, pois estamos lidando com vidas. Por isso, vamos continuar realizando o nosso trabalho e cumprindo o nosso papel. Depois vamos ver se alguém pode nos ajudar", disse.
O superintendente da Iscal vê com preocupação o aumento da "fatura" a ser arcada pelos hospitais. Haddad disse que ainda há muita oscilação no número de pessoas internadas. "Teve dias que internamos 16 pessoas, outros foram dois. Depois sobe para oito, nove. Nos últimos dias, nos quais tivemos chuva e temperaturas mais amenas, as internações voltaram a aumentar. Então, estamos preocupados, pois os custos aumentam", explicou.
Ele acrescentou ainda outro fator que tem aumentado a fatura para os hospitais: a contratação de funcionários temporários para a vaga dos que precisaram se afastar por apresentarem sintomas da gripe. Haddad salientou que nesse cálculo não está incluído no levantamento realizado a pedido do JL.
"Já tivemos que contratar temporariamente aproximadamente 60 pessoas, para cobrir a vaga dos funcionários que precisaram se afastar com atestado médico, além de todas as grávidas da Iscal estarem afastadas temporariamente. Também temos um gasto alto com horas extras. Por isso, é preciso que a área da saúde seja vista com maior atenção pelos governantes, pois o hospital é o fim da linha: ou o paciente é curado ou ele morre."
No Hospital Evangélico, segundo a assessoria de imprensa, nas últimas três semanas permaneceram internados em média 20 pacientes por dia em enfermaria e dois em leitos de UTI. De acordo com o hospital, o custo médio de uma diária de enfermaria é de R$ 300, enquanto o da Unidade de Terapia Intensiva é de R$ 600. Com isso, o hospital já gastou aproximadamente R$ 158 mil em 22 dias.
Nos hospitais da Zona Norte e da Zona Sul, nesse mesmo período foram internados 95 pacientes. Segundo a diretora clínica do HZN, Vera Lúcia Marvulle, como as instituições são classificadas como hospitais secundários, a diária média paga pelo SUS é de R$ 70. Levando em consideração que cada paciente permanece internado, em média, cinco dias, o valor com o tratamento nas últimas três semanas, nas duas unidades, foi de aproximadamente R$ 11.480.
Deixe sua opinião