Fatores de risco
Neurologista aponta a importância de dados para políticas públicas
Chefe do Setor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Bertolucci diz que os estudos epidemiológicos e os estudos de custo das doenças são fundamentais para fazer políticas públicas de qualidade, e cita os bons resultados colhidos do Estudo de Framingham, realizado em 1948, que determinou os fatores de risco para doenças cardiovasculares.
"Os resultados desse estudo permitiram que o Reino Unido e os países nórdicos desenvolvessem políticas de prevenção a essas doenças, e como os fatores de risco são os mesmos para as doenças que causam demência, as estimativas não cumpriram nesses países, ficaram abaixo do esperado", explica, acrescentando que os fatores de risco para o Alzheimer e outras doenças são a inatividade intelectual, inatividade física, hipertensão e diabetes na meia-idade, obesidade, depressão e tabagismo. "Isso prova que é possível prevenir e combater a demência", conclui.
71% é a porcentagem de casos de demência no mundo que se concentrará em países em desenvolvimento como o Brasil em 2050, segundo a pesquisa da Alzheimers Disease International.
Em pouco menos de quarenta anos, o mundo terá três vezes mais pessoas com doenças causadoras de demência. Essa é a estimativa atualizada de um estudo publicado este ano pela Alzheimers Disease International, federação internacional que reúne organizações destinadas a estudar e apoiar pacientes de demência, sendo a doença de Alzheimer a mais comum entre elas. O estudo estima que existam hoje no mundo cerca de 44 milhões de pessoas com a condição. O número deve aumentar para 76 milhões em 2030 e, finalmente, para 135 milhões em 2050.
O aumento recairá principalmente sobre países em desenvolvimento, com renda baixa ou média (veja o gráfico). Cerca de 71% dos casos ficarão nesses países. Segundo o chefe do Setor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Bertolucci, a pesquisa evidencia um fenômeno que, por um lado, é positivo.
INFOGRÁFICO: Veja a estimativa de crescimento da demência nas próximas décadas
"Os países em desenvolvimento estão expandindo suas expectativas de vida, e isso faz com que tenhamos mais idosos no mundo. A má notícia é que, com isso, aumentam-se também os casos de demência. Os países desenvolvidos já têm seu número de idosos bem estabelecido, e por isso não há aumento significativo nessas populações."
Informações escassas
O estudo não especifica o crescimento por país, mas por áreas do globo. Na América Latina, segundo um estudo realizado em 2009, 8,5% dos idosos teriam algum tipo de demência. O neurologista critica a abordagem. "Não dá para filtrar por área porque alguns países têm políticas de prevenção e cuidados com o Alzheimer, e alguns não."
No Brasil, os estudos são raros e concentrados, diz Elizabeth Piovezan, diretora-presidente do Instituto Alzheimer Brasil, ONG sem fins econômicos que visa amparar portadores de demência e familiares. "Eu desconheço levantamentos nacionais sobre a doença, e faltam, sobretudo, estudos de custo. Na Europa e nos Estados Unidos, eles sabem exatamente quanto custa um paciente com Alzheimer para o Estado, aqui não se tem ideia. Serviços gratuitos para pessoas com Alzheimer são muito poucos, e têm toda a demora do sistema de saúde público que todos já conhecem".
Elizabeth explica também que a doença de Alzheimer é apenas uma das doenças que pode causar demência. "O Alzheimer representa 70% dos casos de demência, seguido pela demência vascular, a demência frontotemporal e a doença de Pick", afirma. Outras doenças que levam a demência são o mal de Parkinson, a esclerose múltipla e a doença de Huntington.
PaliativoTratamentos atuais visam apenas retardar os efeitos das doenças
Os tratamentos para o Alzheimer e outras doenças causadoras de demência ainda não são curativas. "A grande maioria dos tratamentos tem como objetivo retardar a progressão da doença, e enquanto isso novas linhas de estudo tentam buscar curas efetivas para o Alzheimer", diz o geriatra Mauro Roberto Piovezan, responsável pelo setor de neurologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ele, a grande preocupação no momento é encontrar métodos de diagnóstico precoce, já que a descoberta tardia da doença dificulta respostas efetivas aos tratamentos. Piovezan explica que existem atualmente dois grupos de medicamentos que retardam os sintomas da demência: os anticolinesterásicos, que permitem a produção de acetilcolina, um neurotransmissor decisivo na função cognitiva, e a memantina, que regula a entrada de cálcio nos neurônios, fazendo com que se diminua a morte cerebral. "Existem medicamentos de outras linhas de atuação que ainda estão sendo estudados, mas ainda em fase pré-clínica", completa.
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