Tomar laxante a cada quatro dias para deixar o tubo digestivo desembaraçado, evitar excesso físico e não ingerir bebidas alcoólicas poderiam ajudar na prevenção da gripe espanhola, em 1918. As recomendações, que não fazem parte das indicações para prevenção da gripe suína, eram do Serviço de Profilaxia Rural do Paraná. O documento é reproduzido no livro O Mez da Grippe (Companhia das Letras, 1998), de Valêncio Xavier.

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O primeiro conselho do documento do Serviço de Profilaxia era "tranquilidade e confiança nas autoridades sanitárias". Em seguida, estavam recomendações como as vistas recentemente para a gripe suína: evitar locais fechados, ter higiene e procurar um serviço de saúde no início dos sintomas. A recomendação da época, porém, era só chamar o médico para os casos sérios, para evitar que os profissionais adoecessem e viessem a faltar no momento mais difícil.

Com relação à higiene, recomendava-se a desinfecção da roupa de corpo e de cama do doente, diariamente, pela fervura. A orientação era que os curitibanos não se visitassem, mesmo que não houvesse moléstias na casa em que pretendiam frequentar. Os cinemas e as "casas de diversão" ficaram temporariamente fechados.

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Já outros serviços paralisaram suas atividades por falta de pessoal, como o tráfego de veículos elétricos à noite. O jornal Commercio do Paraná não circulou em alguns dias ou teve a edi­­ção prejudicada. Uma em­­presa funerária também fe­­chou por causa da enfermidade – um serviço que fez falta. "No dia em que não houve caixões para serem transportados os cadáveres, mandei-os fabricar, e quando faltaram animais para conduzir os carros fúnebres, mandei-os alugar pelo pre­­ço pedido, para que não fi­­cassem insepultos os infelizes falecidos", dizia o relatório de Tra­­­jano Reis, diretor do serviço sanitário da época.

O relato de uma moradora, compilado no livro de Valêncio Xavier, dizia que faltava madeira para os caixões. "Ali naquela casa morreram sete. Era o pai chegar de um enterro, já tinha de levar outro filho para o cemitério. Ele mesmo fazia os caixões. No fim, faltou madeira."

Em 1918, a gripe espanhola matou 384 moradores de Curitiba e subúrbios, que contavam com uma população total de 73 mil habitantes. Para efeito de comparação, a nova gripe matou desde julho deste ano 65 pessoas na capital e região metropolitana, que atualmente têm 3,3 milhões de habitantes.