Rio de Janeiro - Apesar de ressaltar que a eficácia da nova vacina ainda é parcial e restrita a uma minoria, a coordenadora da Unidade de Pesquisa do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Cristina Possas, disse que o resultado incentivará o Ministério da Saúde a destinar mais recursos no desenvolvimento de uma vacina contra a aids. Além disso, a descoberta ajudará o Ministério a definir quais projetos receberão o restante dos R$ 25 milhões que serão investidos até 2012. Atualmente, 13 estudos em andamento recebem financiamento federal e uma nova chamada está em andamento.
A vacina experimental teria reduzido em 31% o risco de infecção pelo HIV. No entanto, os pesquisadores ainda não explicaram como e por que houve essa imunização. "O que nos animou muito é que, pela primeira vez desde o início da epidemia, há um resultado positivo em pesquisas com seres humanos. Mas temos de receber essa notícia com expectativa moderada porque, por enquanto, é uma vacina de eficácia parcial", disse Cristina. Uma droga só é considerada eficaz quando consegue pelo menos 70% de imunização.
"Certamente, vamos focar mais nas pesquisas que estejam alinhadas com essas novas descobertas, tanto a da vacina quanto a da descoberta de dois anticorpos neutralizantes, que foi publicada na Revista Science do dia 14", explicou ela.
Perservativo
Uma pesquisa recente do Ministério da Saúde mostra que o uso de preservativo entre os jovens vem caindo. Em 2008, apenas 21,5% dos indivíduos com idade entre 15 e 54 anos usaram camisinha em todas as relações sexuais nos últimos 12 meses. Em 2004, esse porcentual era de 25,3%.
"Como o país conseguiu um avanço muito grande no controle da epidemia, que está concentrada em alguns grupos de risco, a percepção pode estar fazendo com que os jovens se sintam mais à vontade para não usar o preservativo", disse Cristina, acrescentando que, ainda que a vacina seja aprovada e colocada no mercado, o uso do preservativo continuará sendo necessário.
Repercussão
Representantes da luta contra a aids e do movimento gay também receberam com cautela os primeiros resultados divulgados da nova vacina. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), integrante da Frente Parlamentar de Luta contra a Aids, ressaltou que, além de se obter vacina eficaz, é preciso garantir também a sua distribuição. "Hoje, existem vários remédios que são eficazes no tratamento do portador de HIV, mas cujos preços são elevados e países africanos, por exemplo, têm dificuldade de comprá-los", lembrou. O deputado disse ainda que não se pode "baixar a guarda" da prevenção.
Para o estilista Carlos Tufvesson, ativista do movimento gay, a descoberta é um avanço, mas que precisa ser visto com cautela. "Os jovens de hoje não viram o Cazuza marronzinho por causa de tanto AZT que tomou, as campanhas de prevenção não falam dos efeitos colaterais do coquetel anti-HIV. Então, há uma galerinha que acha aids uma coisa leve. A forma como essa informação (da descoberta da vacina) vai chegar a esses jovens é muito preocupante", afirmou.
Ele lembrou que a vacina tem eficácia muito reduzida, só atinge um dos subtipos do vírus, ainda não tem data prevista para começar a ser distribuída em escala. "É muito se ainda, infelizmente. É preciso que se reforce a importância do uso da camisinha como forma de evitar o contágio."