Métodos
Tratamentos com eletricidade buscam quebrar tabu
Procedimentos como a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a eletroconvulsoterapia (ECT) ainda são marcados por uma imagem negativa decorrente de décadas de aplicação imprópria em antigos hospitais psiquiátricos, como mostrado no filme Bicho de Sete Cabeças (2001). No longa-metragem, o protagonista, interpretado por Rodrigo Santoro, é submetido a sessões de eletrochoque depois que seu pai encontra um cigarro de maconha em seu casaco. "A mesma técnica era usada de forma punitiva em ditaduras, o que contribui para que o medo e a falta de informação das pessoas condenem o procedimento", analisa o neuropsiquiatra Wesley Hummig.
Com a regulamentação desses dois tratamentos, foram criados códigos que estabelecem critérios que devem ser seguidos. A neurologista Thereza Wickler enfatiza, no entanto, que a EMT e a ECT só podem ser aplicadas em última alternativa. "Os pacientes não podem encará-los como uma via fácil. Ambas requerem condições bem precisas para se tornarem uma alternativa", ressalta.
Particularidades
Há uma série particularidades para cada tratamento (veja o quadro ao lado), mas a principal diferença entre os dois está na forma como os impulsos elétricos são usados. A EMT lida com estímulos eletromagnéticos que geram uma corrente elétrica dentro do cérebro, enquanto a ECT busca causar uma convulsão nele. "Com isso, esta requer a administração de relaxantes musculares, anestesia e a aplicação exclusiva em hospitais, enquanto aquela não é invasiva e indolor ao paciente", explica Hummig, que tem esperança de levar os estimuladores magnéticos ao Sistema Único de Saúde (SUS).
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Parece coisa de filme de ficção científica, mas basta uma busca na internet para encontrar promessas milagrosas para melhorar a memória e os reflexos por meio do uso de uma espécie de capacete futurista que diz emitir impulsos eletromagnéticos diretamente no cérebro. Um desses produtos, dos Estados Unidos, custa pouco mais de R$ 500. A respeitada revista científica Nature apontou para a incerteza de resultados desse tipo de produto, levando em consideração a falta de comprovação médica de melhorias. O neuropsiquiatra Wesley Hummig concorda com a opinião da publicação. "Seria uma coisa incrível, mas não há máquinas que criam gênios", acrescenta.
Esse tipo de mercadoria busca se basear em pesquisas sérias e antigas ligadas ao uso de impulsos elétricos no cérebro há registros de experimentos realizados ainda no Império Romano, por volta do ano 46 d.C. Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, já conseguiram comprovar que a velocidade de aprendizado aumenta com um estímulo elétrico de baixa intensidade, por exemplo. Já o Hospital do Coração de São Paulo (HCor) testa a técnica para tratar a obesidade mórbida. "Há vários casos de melhora, como em casos de epilepsia, mal de Alzheimer e doença de Parkinson", cita a neurologista Thereza Wickler.
No entanto, todo cuidado é pouco. No Brasil, o uso de impulsos elétricos é regulamentado por órgãos como o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Associação Médica Brasileira (AMB) em duas modalidades: a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a eletroconvulsoterapia (ECT). Elas podem ser usadas exclusivamente em pacientes diagnosticados com depressão (uni e bipolar) e esquizofrenia que não responderam à medicação, além do uso para fazer o planejamento de neurocirurgia.
Efetividade
Por mais que pesquisas mostrem que esse tipo de técnica possa trazer benefícios ao cérebro humano, ainda não se sabe o motivo exato de a eletricidade ser efetiva. "Há uma série de medidas de segurança que precisam ser cumpridas para por tanto a EMT quanto a ECT em prática. São tratamentos que requerem a presença de um médico e não podem ser usados por qualquer um", analisa Hummig, que é sócio-fundador da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana (CBrEMT) e estuda o tratamento com ondas eletromagnéticas desde 2001.
Para quem encontrar produtos com promessas de melhora para o funcionamento do cérebro, a recomendação é a mesma para todo procedimento médico: "O paciente precisa ouvir a orientação de um médico de confiança. Não há cura ou tratamento milagroso quando o assunto é saúde", assegura Thereza.
Tarefas simples contribuem com o cérebro
Por mais que não existam máquinas com a capacidade de fazer com que pessoas comuns se tornem gênios, é possível praticar exercícios simples que ajudam a desenvolver a capacidade neurológica do ser humano. "É importante fazer coisas que saiam da rotina para estimular o cérebro a estabelecer novas conexões entre os neurônios", comenta a neurologista Thereza Wickler.
Além de palavras cruzadas e caça-palavras, que melhoram elementos como memória, linguagem e atenção, tentar escrever com a outra mão, percorrer rotas diferentes nos trajetos diários e aprender novos idiomas podem ajudar o cérebro e até prepará-lo para fatalidades. "Se um destro que já praticou escrever com a mão esquerda tiver um derrame, por exemplo, ele terá mais facilidade para voltar à rotina", analisa Thereza.