Monitoramento
Nível de transmissão de pessoa para pessoa é considerado baixo
O que acalma a comunidade médica é que o nível de transmissão do H7N9 e do coronavírus causador do Mers-Cov entre humanos é baixo. "Os casos de transmissão no caso do coronavírus, por exemplo, foram percebidos em pessoas com contato muito próximo do doente", diz Sônia. O mesmo vale para o H7N9.
Em agosto deste ano, foi divulgado o registro do primeiro caso de contaminação entre humanos da nova gripe.
Segundo o estudo publicado no British Medical Journal, um homem que frequentava um mercado chinês de aves foi contaminado com o vírus e o passou para a filha que o acompanhou durante todo o tratamento e nunca havia estado no local da contaminação inicial. Ambos morreram.
Mesmo sendo poucos os casos de transmissão de pessoa para pessoa, a situação preocupa. Isso porque há indícios de que os dois vírus podem ser transmitidos por meio do ar, o que é o grande pesadelo dos médicos quando se trata de doenças virais e devastadoras.
"Quando você inala uma partícula, existe uma infinidade de possibilidades de locais para onde esse vírus pode ir e se instalar", comenta o médico infectologista Eurico Arruda Neto, coordenador do comitê de influenza e virologia clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Dificuldade
Além disso, a possibilidade de se barrar a transmissão de um vírus que se propaga pelo ar é muito pequena. "É muito complicado você pensar que tipo de isolamento fazer para evitar a transmissão quando ela é por via respiratória. Mesmo porque nem todo mundo é sintomático", diz a infectologista Sônia Raboni, médica do laboratório de virologia do Hospital de Clínicas de Curitiba.
Ela destaca a importância de manter uma rede de monitoramento ativa para detectar logo no princípio casos inusitados jovens saudáveis que morrem por doença respiratória. "Todos têm de fazer essa vigilância. Não dá para dizer que isso é coisa apenas dos países desenvolvidos", completa.
No Brasil
O Ministério da Saúde vem monitorando a situação do H7N9 e do novo coronavírus. A Secretaria de Vigilância em Saúde divulga constantemente para estados e municípios informações sobre os dois vírus, com aspectos como perfil, diagnóstico e tratamento. Suspeitas devem ser notificadas imediatamente.
Na última semana, mais duas mortes causadas por uma nova linhagem do coronavírus que causa a Síndrome Respiratória Coronavírus do Oriente Médio (identificado pela sigla Mers-Cov) foram registradas na Arábia Saudita. O país também noticiou mais um caso da doença, que desde o ano passado já infectou 130 pessoas e causou o a morte de 58, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O temor agora é que no próximo mês, durante a peregrinação à Meca, a contaminação saia do controle e se espalhe pelo mundo. Outro vírus que também preocupa as autoridades sanitárias é o H7N9, que causa uma variação grave de gripe aviária. No início da semana passada, a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou um alerta sobre a possibilidade de proliferação da doença, que já causou 44 mortes na China desde o início deste ano.
INFOGRÁFICO: Confira o número de casos registrados de MERS-Cov e de H7N9
Os dois vírus, que têm mantido em alerta as autoridades médicas internacionais e os cientistas, atacam o sistema respiratório, causando febre alta e tosse, chegando a um quadro de pneumonia. Pacientes com o sistema imunológico debilitado são as principais vítimas. Mas também há registros de mortes de pessoas jovens e saudáveis. Esse é o ponto que mais preocupa os médicos por ser considerado inusitado e ser uma mostra da agressividade do vírus.
A origem dos dois vírus, assim como o da gripe suína que assustou o mundo em 2009, está relacionada à convivência entre homens e animais. No caso do Mers-Cov, os cientistas ainda tentam descobrir exatamente de onde partiu o organismo causador da doença. Duas pesquisas recentes apontam que teria vindo de camelos, mas nada ainda foi comprovado. O H7N9, por sua vez, foi detectado em aves domésticas como frangos e galinhas. Pesquisa publicada em abril deste ano mostrou que o vírus está presente nesses animais, com quem o homem tem convívio muito próximo nos mercados de aves chineses.
"Os vírus são entidades químicas muito plásticas. Então, sempre existe a possibilidade de um vírus que não causa doença na ave, por exemplo, de repente, desenvolver uma variedade capaz de causar uma grave infecção no ser humano", explica o médico infectologista Eurico Arruda Neto, coordenador do comitê de influenza e virologia clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A infectologista Sônia Raboni, médica do laboratório de virologia do Hospital de Clínicas de Curitiba, comenta que esse pulo de espécie ocorreu, por exemplo, com o HIV, que passou de macacos para os humanos e ainda desafia os cientistas. "Isso [a transmissão de vírus de animais para humanos] sempre ocorreu. Hoje, talvez, esteja mais frequente porque se detecta um pouco mais, pelas aglomerações de pessoas, alterações climáticas e ambientais, com o homem entrando em contato com animais que antes estavam isolados", diz.
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