Frutas vermelhas, o açafrão, o brócolis, o ômega-3, o chá verde e o tomate estão entre os citados| Foto: Antonio More/Gazeta do Povo

Cuidar da alimentação é importante mesmo depois do diagnóstico

Os hospitais já aproveitam em sua rotina as novas descobertas sobre os alimentos. O Albert Einstein, em São Paulo, tem um serviço para orientar familiares de pacientes oncológicos sobre a dieta capaz de reduzir o risco de câncer. A partir deste ano, serão oferecidas aulas sobre o assunto. O A.C. Camargo Cancer Center, também em São Paulo, oferece oficinas de culinária, com a oferta de receitas que ajudariam na prevenção, abertas ao público em geral. "Infelizmente, muitas pessoas só se dão conta da importância da alimentação depois do diagnóstico. Aí, procuram mudar de hábitos. Mas os estudos mostram que o papel mais importante da dieta é na prevenção", observa Ana Carolina Cantelli, nutricionista do A.C. Camargo.

Ainda assim, muitas pesquisas revelaram que uma mudança na dieta pode ter um papel crucial também para quem já é paciente de câncer, seja colaborando no tratamento ou reduzindo o risco de uma reincidência do tumor. "Mudar os hábitos alimentares melhora o prognóstico do paciente. Ele tem uma melhor resposta ao tratamento, vive mais e tem menos chances de recidiva e de um segundo câncer. É uma coisa que frisamos muito com os pacientes, mesmo quando estão curados. Há estudos sobre o ômega-3, por exemplo, mostrando que ele ajuda no tratamento de quem já tem o câncer", exemplifica Andréa.

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A atuação no corpo

Uma dieta com base em frutas, verduras, legumes e grãos tem sido tradicionalmente recomendada por médicos como forma de reduzir o risco de desenvolver o câncer. A novidade é que uma enorme quantidade de estudos recentes identifica exatamente quais devem ser consumidos para evitar a doença. Alguns deles emergem das pesquisas científicas com o status de anticancerígenos poderosos.

O princípio básico é que o desenvolvimento do câncer depende, com frequência, do fato de um microtumor encontrar condições favoráveis ou desfavoráveis para crescer. É aí que entram os alimentos. Alguns deles têm características que fomentam o câncer. Outros podem desacelerar o processo. Quando são estes últimos que predominam na dieta, a doença teria condições de ser contida e evitada.

Nos alimentos com esse potencial, os cientistas encontraram compostos fitoquímicos de propriedades antimicrobianas, antifúngicas, anti-inflamatórias e antioxidante que agem sobre os mecanismos biológicos agressores. Conforme as moléculas presentes em sua composição, esses alimentos conseguem eliminar toxinas cancerígenas, reforçar o sistema imunológico, brecar a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos necessários ao crescimento dos tumores), combater inflamações, bloquear a invasão de tecidos e induzir o suicídio de células malignas.

Entre os produtos citados com mais entusiasmo estão as frutas vermelhas, o açafrão, o brócolis, o ômega-3, o chá verde e o tomate. A nutróloga da oncologia Andréa Pereira, do Hospital Israelita Albert Einstein, observa que as pesquisas sobre o efeito preventivo de certos alimentos ainda é incipiente e gera controvérsia, mas os indícios de que eles podem trazer benefícios já justifica a inclusão no prato. "Há trabalhos mostrando que a curcumina, presente na cúrcuma, diminui o risco de câncer. Também foi demonstrado que o licopeno, encontrado no tomate e nas frutas vermelhas, tem ação preventiva. Há trabalhos que mostram que funciona e outros que não funciona. Muitos estudos ainda estão sendo feitos, mas com base nos indícios existentes há certos alimentos que podem ter um papel importante na prevenção e que seria interessante introduzir na dieta", diz Andréa.

Especialistas do mundo todo não têm dúvidas em afirmar que os hábitos alimentares estão profundamente relacionados ao desenvolvimento de vários tipos de câncer. A Organização Mundial de Saúde (OMS), o Instituto Nacional de Câncer brasileiro (Inca), o Instituto Nacional do Câncer norte-americano e o órgão britânico de pesquisa em câncer coincidem em apontar a mudança da alimentação das pessoas como uma das medidas mais importantes de prevenção. Estima-se que entre 30% e 60% dos casos poderiam ser evitados com um dieta apropriada.

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A preocupação aumenta diante do que alguns consideram uma epidemia da enfermidade. Nas últimas décadas, a incidência dos tumores cresceu e passou a atingir grupos mais jovens. Não por acaso, o avanço do câncer coincidiu com uma mudança sem precedentes na alimentação da humanidade. Ao longo de meio século, houve um incremento espantoso no consumo de açúcar e de alimentos processados pela indústria, que passaram a incluir doses maciças das perigosas gorduras trans e produtos químicos desconhecidos no passado. Em paralelo a isso, a agricultura e a pecuária se transformaram para ganhar produtividade. Na lavoura, disseminaram-se os pesticidas, enquanto os animais passaram a receber hormônios e outras fontes de alimento, para crescer mais rápido. Tudo isso mudou o que nos chega ao prato. E muitos especialistas acreditam que colaborou para nosso risco de ter um câncer aumentar.

Precaução

Meses atrás, Susan Levin, diretora de educação em nutrição do Comitê de Médicos pela Responsabilidade na Medicina, uma organização norte-americana, publicou com um grupo de colegas um artigo conclamando população, médicos e autoridades a adotar o princípio da precaução no que diz respeito à relação entre câncer e comida.

Ela usa o cigarro como comparação: "Durante décadas, os indivíduos e os governos tomaram poucas medidas para reduzir doenças e mortes relacionadas ao fumo. Não podemos fazer o mesmo com a dieta e esperar 50 anos para prevenir o consumo de alimentos que induzem doenças".

De acordo com Levin, o princípio da precaução já é aplicado a toxinas em relação às quais ainda se acumulam evidências a respeito de seu prejuízo à saúde. Com base nessa abordagem, deve-se limitar carnes vermelhas, carnes processadas e laticínios. "Um estudo publicado em 2013 analisou dados de 21 cânceres diferentes em 157 países e concluiu que a associação entre ingestão de produtos de origem animal e o câncer é tão forte quanto a relação entre o tabaco e o câncer", afirmou.

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Além de evitar carnes vermelhas, gorduras trans e açúcar, que estão relacionados ao aumento dos casos de câncer, pesquisadores e autoridades recomendam a adoção de uma dieta equilibrada, com forte presença de frutas, verduras e legumes.

Outro norte-americano, Tim Byers, diretor associado de controle e prevenção ao câncer do Centro de Câncer da Universidade do Colorado, afirma que a dieta capaz de prevenir o surgimento de tumores não precisa ter nada de especial: seria a mesma indicada para reduzir o risco de outras doenças graves, como diabetes, derrames e doenças do coração. "Ingerir menos calorias e consumir frutas, vegetais e grãos integrais reduz todas essas doenças, além de evitar a obesidade, que é um fator de risco para pelos menos dez tipos de câncer, incluindo os de mama, cólon, esôfago, útero, rim e fígado" alerta Byers.