Disciplina
O tratamento da depressão ainda é o mesmo para ambos os sexos: por meio de terapias e uso de medicamentos. Algumas pesquisas sugerem que homens e mulheres podem responder de forma diferente aos antidepressivos, mas os dados ainda não estão consolidados na literatura médica. A doença afeta o neurônio de forma severa, podendo causar atrofia. Mesmo que o paciente melhore no início do tratamento são necessários ao menos seis meses para que o neurônio volte ao normal.
Dicas
Exercícios e alimentação são importantes no tratamento da doença:
As atividades físicas são importantes aliadas na prevenção e no tratamento da depressão. Elas são uma fonte de endorfina, neurotransmissor que atua dentro do neurônio e pode ajudar no combate à doença;
Para que os resultados sejam efetivos, os exercícios precisam ser intensos. É necessário praticar pelo menos quatro vezes por semana e por pelo menos 40 minutos ininterruptos para que a produção de endorfina tenha efeito;
A alimentação também exerce papel importante na prevenção. Os alimentos considerados protetores do organismo são os ricos em antocianina, substância encontrada nas chamadas berries frutas vermelhas, roxas ou rosas bem pequenas, menores que um morango;
O consumo das berries também precisa ser significativo para gerar o efeito protetor: são necessárias quatro porções por semana;
Os alimentos ricos em ômega 3 também podem atuar na prevenção, mas somente quando presente em peixes de águas profundas, como o salmão e o atum, que não são criados em cativeiros. Dos peixes brasileiros, somente o ômega 3 encontrado na sardinha pode ser protetor. O consumo por meio de suplementos também é questionável. Algumas pesquisas apontam que pode ser efetivo, outras indicam que não.
Elas sentem mais dores, eles procuram esconder. Elas pedem mais ajuda, eles tendem a buscar o álcool. Elas tentam mais vezes o suicídio, eles se matam mais. A depressão é uma doença antiga, mas que ainda hoje afeta homens e mulheres em grandes proporções. Pouco se sabe sobre as sutis diferenças nas manifestações da doença entre os sexos, mas uma certeza já existe: são as mulheres as principais vítimas.
Uma pesquisa americana, reproduzida no Brasil no estado de São Paulo, apontou que 20% das mulheres apresentam episódios depressivos pelo menos uma vez ao longo da vida. Entre os homens, o índice é de 12%. A ciência ainda não sabe explicar os motivos que levam a essa diferença tão expressiva, mas já há algumas hipóteses. O papel social feminino é uma delas. A dupla jornada encarada por muitas mulheres, que precisam conciliar os afazeres domésticos com a atividade profissional é um fator que contribui para o desenvolvimento da doença. Além disso, elas estão mais vulneráveis a um fator importante para desencadear a depressão: a violência sexual, uma vez que são vítimas de casos de estupro e abuso mais recorrentemente.
Biologicamente, a alta incidência feminina da depressão também pode ser explicada pelas diversas variações hormonais que as mulheres sofrem ao longo da vida. O ciclo menstrual, a gravidez e a menopausa, episódios de importantes alterações hormonais, seriam os principais responsáveis. Segundo o psiquiatra Kalil Duailibi, presidente do Departamento de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina, a influência dos hormônios fica mais evidente quando analisamos as faixas etárias em que a doença costuma se manifestar: até os 10 anos e depois dos 60, quando a produção de hormônios de homens e mulheres é mais semelhante, a incidência da depressão é a mesma entre os sexos. É entre os 10 e os 60 anos que elas passam a sofrer duas vezes mais que eles com a depressão.
"Os hormônios podem afetar a reprodução de neurotransmissores que estão relacionados à depressão, desencadeando a doença. Mas ainda não sabemos exatamente como isso acontece. A questão é muito mais complexa do que pensávamos há alguns anos e isso fica ainda mais evidente a cada nova descoberta", explica o psiquiatra e coordenador do ambulatório de depressão do Programa de Transtornos do Humor do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Marcelo Fleck.
Se a vulnerabilidade feminina à depressão é maior, a manifestação da doença também apresenta diferenças entre os sexos. Segundo o pesquisador do Programa de Transtornos do Humor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas Fernando Fernandes, as mulheres tendem a apresentar mais sintomas chamados de somáticos, como dor pelo corpo, cansaço e sinais físicos de ansiedade, além de mais problemas da tireoide. As tentativas de suicídio também são mais recorrentes entre elas, apesar de o índice de morte por essa causa ser maior entre homens.
Doença reduz o desejo sexual dos pacientes
Uma pesquisa publicada no ano passado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), no Rio Grande do Sul, apontou outras diferenças na manifestação da depressão entre os gêneros. O estudo, desenvolvido por Mariane Lopez Molina, apontou que 70% das mulheres perdem o desejo sexual quando estão deprimidas. Entre os homens, o índice é de 40%.A forma de encarar a doença também é diferente: enquanto elas conseguem reconhecer que a depressão tem causas internas, os homens tendem a apontar situações externas, como problemas no trabalho ou mesmo o clima.
Fuga
A fuga masculina em aceitar a depressão como uma doença sua também fica evidente em outro fator apontado pelo psiquiatra Marcelo Fleck: muitos homens buscam no consumo de álcool uma forma de resolver suas questões, sem procurar a ajuda de médicos e, consequentemente, o tratamento adequado. Em muitos casos, o problema acaba sendo diagnosticado como alcoolismo, e não como depressão.
Lentificação
Falta de ânimo é comum para todos
Ainda que existam evidentes diferenças entre homens e mulheres, a principal característica da depressão é comum entre os sexos. Muito mais que a tristeza, que pode estar presente em qualquer momento da vida, o comportamento mais marcante entre os deprimidos é o de lentificação, quando a falta de ânimo e de vontade paralisa a vida, não sobrando motivação para fazer mesmo as coisas que antes davam prazer.
Vulnerabilidades
Tanto homens quanto mulheres precisam de duas vulnerabilidades para desenvolver a depressão: a genética quando alguém da família apresenta a doença e a social, que corresponde a todos os episódios vividos que podem influenciar a forma como a pessoa passa a lidar com as adversidades.
"Essa vulnerabilidade social começa a ser moldada ainda na gestação. A partir do terceiro ou quarto mês de gravidez, o bebê já consegue perceber os sentimentos da mãe, aumentando os riscos de a criança ser depressiva caso a mãe desenvolva a doença nesse período. Perdas importantes na infância, como a morte dos pais ou mesmo dos avós, também podem ser decisivas. Quanto menor a criança, maiores os riscos, pois há uma repercussão neurológica dessa perda", afirma o psiquiatra Kalil Duailibi.