A técnica em laboratório Waldette Bourguignon descobriu que era diabética e precisou mudar seu estilo de vida| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Susto acompanhado por mudanças

"Foi um susto tão grande que fiquei sem reação". Foi assim que a técnica em laboratório Waldette Bourguignon recebeu a notícia de que era diabética, há dois anos. Tudo começou com algumas alterações, como incômodos na visão, boca seca, muita sede e vontade constante de ir ao banheiro. O alerta principal foi quando ela percebeu que tinha perdido quatro quilos em apenas um mês. Com a descoberta vieram as mudanças no estilo de vida. "Não como mais açúcar e frituras e substitui por adoçante, pães integrais e produtos com fibras."

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Complicações

Entenda os perigos associados à doença

A diabete é uma doença caracterizada pela alta taxa de glicose – substância presente nos alimentos e que funciona como "combustível" para as células – em circulação no organismo. Isso acontece porque o pâncreas não produz insulina, um hormônio que sintetiza a glicose, ou o organismo cria resistência a esse hormônio.

Como o corpo não a aproveita a glicose, a substância não penetra nas células e acaba se depositando nas paredes internas dos vasos sanguíneos, o que leva ao seu entupimento, compromete a circulação e resulta em alterações nos tecidos, principalmente em áreas como retina, coração, cérebro e pernas, causando enfarte, AVC, necrose de dedos e pés e perda de visão. Em homens, também leva à impotência sexual.

Características

Há três tipos de diabete. Veja a diferença entre elas

- Tipo 1: corresponde a 10% dos casos da doença, atinge principalmente crianças e adolescentes e somente em 3% dos casos têm relação com a história familiar da doença. É uma doença autoimune que causa a destruição das células pancreáticas, o que impede que o organismo produza insulina, dificultando a síntese de glicose no organismo. Suas causas não estão associadas com obesidade ou maus hábitos na alimentação.

- Tipo 2: 90% dos casos registrados, é mais comum entre as pessoas com mais de 30 de anos. Causada principalmente por fatores como obesidade, sedentarismo e histórico familiar da doença. Nela, o organismo produz insulina, mas o organismo se torna resistente e o hormônio é mal aproveitado. Com isso, a glicose dos alimentos não é sintetiza e passa a circular pelo organismo, o que sobrecarrega os tecidos e leva a complicações.

- Gestacional: surge durante a gravidez porque a placenta produz hormônios anti-insulínicos, mas tende a sumir após o parto. Geralmente acomete mulheres que têm histórico do problema na família, são obesas, engordaram acima do normal durante a gestação, são hipertensas e tiveram filhos que nasceram com mais de 3,8 kg. Mulheres com diabete gestacional têm 70% de chances de continuarem diabéticas ou manifestarem a diabete tipo 2 no futuro.

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Uma doença silenciosa e incurável, que compromete a qualidade de vida dos pacientes, pode levar a problemas graves (como enfarte, AVC e amputações de membros) se não for bem tratada e que atinge cerca de 12 milhões de pessoas no Brasil, segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês). Esse é o perfil da diabete atualmente e os especialistas são unânimes: o quadro vem se agravando e tende a ficar muito pior nos próximos anos.

De acordo com a IDF, são quase 350 milhões de diabéticos no mundo atualmente, mas esse número deve saltar para mais de 550 milhões até 2030, um aumento de 57%. Em Curitiba, dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSC) mostram que 71 mil pessoas maiores de 40 anos têm a doença, o que corresponde a 11% da população nessa faixa etária.

Segundo o presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Balduino Tschiedel, a doença está crescendo em todos os países e o motivo principal é uma combinação de sedentarismo e alimentação cheia de produtos industrializados – ricos em sódio e em gordura saturada – e pobre em frutas, verduras, legumes, carnes magras e cereais integrais, levando a um aumento dos casos de obesidade.

"Como o excesso de peso e problemas associados a ele, como hipertensão e colesterol alto, são fatores de risco para a diabete tipo 2, eles estão fazendo o número de diabéticos disparar", explica Tschiedel. Além do aumento nos casos, o presidente da SBD aponta outro agravante: a mudança de perfil dos diabéticos. "É cada vez maior o número de crianças e adolescentes com diabete tipo 2, o que é resultado direto da obesidade e dos maus hábitos e, até então, era típica dos adultos."

Para o presidente do Centro de Diabetes de Curitiba (CDC) e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes - Seção Paraná, Edgard Niclewicz, a diabete deve inspirar cuidados pelas complicações que provoca quando não é tratada corretamente.

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"Ela é a maior causa de perda de visão entre os 20 e 70 anos, aumenta em quatro vezes o risco de um enfarte e, excetuando as guerras e acidentes de trânsito, é a principal causa de amputações de membros no mundo", diz Tschiedel. Os danos incluem ainda disfunção erétil, AVC e falência renal, o que obriga a pessoa a recorrer à hemodiálise e, em casos extremos, a um transplante de rim. Niclewicz explica que metade dos pacientes com diabete também é hipertensa, o que exige que seja feito o acompanhamento regular dos níveis de pressão arterial e, em muitos casos, a prescrição de remédios específicos. "Vários também têm alterações nos níveis de gorduras do sangue, então precisamos normalizar o colesterol."

Sintomas

Niclewicz explica que a diabete tipo 2 tem poucos sintomas. "Ela é uma doença que não dá sinais e vai deteriorando os órgãos da pessoa progressivamente. É comum atender a pacientes que são diabéticos há mais de dez anos, mas só foram sentir alguma coisa quando já tinham complicações da doença, como um enfarte ou um AVC." O mais frequente é a pessoa perceber alterações na pele, diminuição da visão, boca seca, fome e sede excessivas, vontade exagerada de urinar ao longo do dia, cansaço extremo e perda considerável de peso em pouco tempo – quatro ou cinco quilos em um mês, por exemplo.

Remédios e novos hábitos de vida

Como não tem cura, a diabete exige acompanhamento por toda a vida do paciente. Nos casos do tipo 1, o tratamento é feito com mudanças na alimentação, exercícios físicos e uso de insulina. No tipo 2, o mais comum é fazer a associação entre o uso de medicamentos, para diminuir a resistência à ação da insulina no organismo, e uma mu­­dança no estilo de vida.

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"Basta fazer 30 minutos de exercício aeróbico por dia, como uma caminhada ou uma corrida, e manter uma alimentação balanceada, rica em grãos, frutas, verduras, legumes, carnes magras e cereais integrais, e pobre em alimentos industrializados, açúcares simples, gorduras saturadas e sódio", diz o presidente eleito da SBD, Bal­­duino Tschiedel.

Os especialistas garantem: o diagnóstico de diabete não impede que o paciente tenha uma alimentação variada e quase co­­mum. "O que acontece é que a pessoa precisa banir o açúcar, evitar pães, bolos e outros pratos feitos com farinha branca e ingerir uma quantidade controlada de carboidratos, mas nem de longe as refeições se tornam pouco sa­­borosas", explica Maria Izabel Mar­­tins, presidente da Associação Paranaense do Dia­­bético (Apad).

Segundo ela, a dica é reforçar o consumo de farinhas e cereais integrais e produtos dietéticos. "E o paciente não deve confundir diet, que é sem açúcar e faz bem para o diabético, e light, que tem baixa caloria, mas contém açúcar e é uma bomba para o organismo de quem tem diabete."A Apad faz teste de glicemia e conta com um empório para venda de produtos específicos para diabéticos. Mais informações podem ser obtidas pelo (41) 3244-7711 ou no www.apad.org.br.

Interatividade

Como você costuma se prevenir contra a diabete?

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