Dê uma olhada na seção de fórmulas infantis, ou observe as opções de suplementos nutritivos pré-natais e vai notar que quase todos os produtos alardeiam o uso de ácidos graxos ômega-3 conhecidos como DHA para “alimentar o cérebro”. Contudo, apesar de décadas de pesquisa sobre o tema, ainda não se sabe se o DHA presente nas fórmulas realmente melhora a saúde do cérebro dos bebês.
Uma revisão sistemática de estudos publicados este mês pela Cochrane Collaboration concluiu que não existem evidências claras de que os suplementos de DHA, ou ácido docosahexaenóico, um nutriente encontrado principalmente em peixes e óleo de peixes, melhora o desenvolvimento cerebral em crianças. Ao mesmo tempo, o estudo não encontrou qualquer prejuízo advindo da adição do nutriente.
Ainda assim, muitos especialistas creem que pode ser relevante incluir o DHA na fórmula. “Mesmo que não seja fácil comprovar os benefícios, já que é difícil comprovar resultados no desenvolvimento, vale a pena usar o DHA”, afirmou o Dr. Steven Abrams, professor de Pediatria da Faculdade de Medicina Dell, na Universidade do Texas, em Austin.
Durante a gravidez e nos primeiros anos de vida, o DHA se acumula no cérebro e na retina dos olhos, desempenhando um importante papel no desenvolvimento neural e da visão. O leite materno contém DHA em variadas concentrações, dependendo de da dieta da mãe, e o corpo é capaz de produzir DHA com base em precursores de ácidos graxos ômega-3, embora o processo seja ineficiente.
Confusão
Esse tipo de confusão é comum nas pesquisas de nutrição, afirmou Carol Haggans, nutricionista e porta-voz do Escritório de Suplementação Alimentar do Insituto Nacional de Saúde dos EUA. No caso do DHA, Haggans afirmou que existem estudos de observação que revelam que peixes e outros tipos de frutos do mar são positivos para a saúde”. Contudo, quando os pesquisadores tentam isolar nutrientes como o DHA e incluí-los em suplementos, realizando testes randomizados controlados, os mesmos benefícios não são observados.
Estudos realizados nos anos 1990 revelaram que bebês alimentados com fórmulas infantis possuíam níveis mais baixos de DHA no cérebro que crianças alimentadas com leite materno, sugerindo que a adição de DHA às fórmulas melhoraria o desenvolvimento cognitivo e a visão. Os resultados foram convincentes o bastante para que, em 2012, o FDA aprovasse a adição de DHA em fórmulas infantis.
Atualmente, todas as grandes marcas de fórmulas para bebê vendidas nos EUA contêm DHA.
“Se eles dizem que dar essa fórmula tornará seu filho mais esperto, ou com QI mais alto, isso não está certo”, afirmou a Dra. Karen Simmer, professora de medicina de recém-nascidos na Universidade da Austrália Ocidental, autora da revisão publicada pela Cochrane.
A revisão combinou dados de 15 estudos controlados randomizados em uma meta-análise que incluiu quase 1.900 crianças, muitas acompanhadas desde o nascimento até a metade da infância. Alguns estudos encontraram ligeiras melhorias na visão e na cognição, mas a maioria não encontrou nada, e quando os resultados foram comparados, não havia um padrão claro, nem benefício do DHA adicionado à fórmula.
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