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Quando foi diagnosticada com câncer, Glaucia explicou à filha Estele que estava doente, mas sem dar detalhes | Pedro Serápio/ Gazeta do Povo
Quando foi diagnosticada com câncer, Glaucia explicou à filha Estele que estava doente, mas sem dar detalhes| Foto: Pedro Serápio/ Gazeta do Povo

Alterações

Com a notícia da doença do pai ou da mãe, é preciso ficar atento se a criança:

- apresentar mudanças intensas de comportamento

- tiver queda no desempenho escolar

- apresentar alterações (aumento ou diminuição) do apetite

- apresentar regressão ou perda de capacidades já adquiridas (voltar a urinar na cama ou a usar chupeta)

- passar a apresentar comportamento agressivo, hiperativo ou ansioso.

Momento delicado

Saiba como abordar a situação dependendo da idade dos filhos:

2 a 4 anos

Crianças nessa idade ainda não são capazes de compreender a gravidade da doença, mas percebem que alguma coisa está errada por causa do comportamento dos pais e familiares.

5 e 6 anos

Elas já têm habilidades cognitivas mais desenvolvidas e explicações superficiais talvez não sejam suficientes. É importante descobrir o que a criança sabe sobre o assunto e, a partir daí, tentar responder ao que ela questiona.

10 a 12 anos

Nessa idade já são bastante informadas, pois costumam navegar na internet, onde podem encontrar todo tipo de informação. É importante ajudá-las a filtrar essa informação e mostrar como lidar com ela.

13 a 18 anos

Adolescentes entendem claramente a doença dos pais, mas também podem ter dificuldades em lidar com isso, principalmente por estarem atravessando uma fase conturbada da vida. É importante estar aberto para conversar sobre o assunto.

Cuidado com as crianças

Como ajudar os pequenos a lidar com a doença dos pais:

- Mantenha um ambiente de confiança em casa, falando a verdade e deixando o diálogo aberto para as perguntas que possam surgir.

- Não tenha problemas em mostrar seus sentimentos para a criança: estar doente não é fácil e a criança pode entender isso. No entanto, tome cuidado para não torná-la sua fonte de apoio principal, pois ela não está em condições de fazê-lo. Mostre também sua força de vontade em vencer a doença.

- Procure manter a rotina da criança sem­­pre que possível, isso a deixa segura.

- Conte com a ajuda de familiares e amigos.

- Momentos de distração são importantes para todos. Procurem, dentro do possível, ter atividades prazerosas de lazer em família.

- Procure ajuda profissional para você e sua família, se sentir necessidade.

Ter algum parente próximo com uma doença grave é uma situação delicada e que muitas vezes desestabiliza toda a família. Mas como contar a uma criança que seu pai ou mãe está com câncer? Um estudo publicado no início do mês passado, na versão online do jornal especializado Câncer, revelou que nos Estados Unidos 1,5 milhão de pacientes que sobreviveram à doença têm filhos com menos de 18 anos. Considerando que, devido aos hábitos de vida atuais, o câncer é uma doença que vem atingindo cada vez mais pessoas jovens e que ao mesmo tempo casais estão tendo filhos mais tarde, essa é uma situação que deve se tornar cada vez mais frequente na vida familiar. Diante de uma questão dessas, surge a dúvida: as crianças devem ser informadas sobre a real condição de saúde dos pais? Para os especialistas, a resposta é sim. E isso não vale apenas para os casos de câncer, mas também para outras doenças graves que debilitam os pais ou colocam a vida deles em risco.

"É preciso respeitar a idade da criança e o que ela quer saber sobre o assunto, mas prezamos sempre pela verdade", diz a psicóloga do setor de pediatria do Hospital Erasto Gaertner, Iolanda Galvão. Além de ser responsável pelo acompanhamento das crianças internadas, ela também acompanha as que vão ao hospital visitar parentes doentes. "Nenhuma criança menor de 12 anos entra para uma visita sem ter passado por uma avaliação nossa", diz.

Embora, dependendo da idade, as crianças ainda não sejam capazes de entender claramente o que está acontecendo ou perceberem a gravidade da situação, elas podem notar que algo está errado. Por isso mentir, omitir ou criar eufemismos para explicar a situação não são atitudes recomendadas pelos especialistas. "A criança é muito sensível para mudanças no ambiente, especialmente nos que diz respeito aos pais. Ela perceberá que há algo de diferente, que os pais estão emocionalmente mobilizados pela descoberta da doença e, caso não lhe seja contado, poderá ficar mais angustiada por não entender o que está acontecendo", ressalta a psicóloga do Centro Paranaense de Oncologia, Marivel Azevedo.

Nos casos de câncer, tentar esconder o diagnóstico da criança pode ser ainda mais complicado quando o tratamento causa mudanças visíveis na aparência do paciente, como a perda do cabelo, por exemplo. "A revelação ajuda a preparar a criança para as mudanças na rotina da família e possíveis efeitos colaterais do tratamento", comenta Marivel.

Segundo a psicóloga Iolanda, recursos lúdicos como desenhos ou brinquedos podem ajudar a criança a compreender a situação. Se conversar é preciso, uma dúvida frequente é até onde se pode ir com a explicação. "Cada criança é única e pode reagir de uma maneira, mas digo sempre que, se ela foi capaz de formular uma pergunta, é porque está preparada para a resposta. No entanto, é importante perceber o que ela sabe sobre o assunto, o que ela quer saber e o quanto quer saber", explica.

Mesmo que a criança questione se o pai ou a mãe pode morrer, a psicóloga diz que é importante ser honesto. "É preciso dizer que essa possibilidade existe, mas que o pai ou a mãe que está doente está lutando e recebendo todos os cuidados possíveis para melhorar", afirma.

Medos

Não estar presente em momentos importantes da vida e do desenvolvimento das crianças e a possibilidade de que elas cresçam sem o amparo paterno é a grande preocupação de pais e mães que adoecem. Com o surgimento da doença, é frequente que o cônjuge acabe assumindo função dupla e ficando responsável pela administração da casa e do cuidado com os filhos. "Os pais se sentem eternamente responsáveis pela vida dos filhos e é natural que se questionem o que vai ser dessas crianças na ausência deles. É comum um sentimento de impotência", diz Iolanda. Por causa disso, os especialistas consideram importante que a família tenha acompanhamento profissional e possa ser orientada sobre a melhor forma de lidar com a situação.

História de vida

Professora optou por ser franca com a filha

A professora Glaucia Malaquias, 35 anos, foi diagnosticada com câncer do colo do útero em 2006, quando a filha Estele tinha apenas 4 anos de idade. Na época, a família decidiu contar à menina que a mãe estava doente e precisaria se tratar, mas sem dar detalhes sobre a doença. "Não precisei fazer quimioterapia, então não perdi os cabelos e nem sofri mudanças visíveis por causaa da doença. Explicamos para ela que eu estava doente e que tinha que ir para o hospital por uns dias. Depois da cirurgia fiquei uma semana na casa da minha mãe e ela ficou junto. Não tinha como fingir que nada estava acontecendo. Ela perguntava sobre mim para a avó e para o pai. Explicamos que a mamãe estava doente, mas que estava se tratando e logo ia ficar boa", lembra. Hoje, com 8 anos, Estele sabe que a mãe teve câncer. "O tempo passou e ela começou a me cobrar um irmãozinho. Como ela já estava maior e podia entender melhor, expliquei que tive câncer e tirei o útero e, por isso, não poderia dar um irmão a ela", conta Glaucia.

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