• Carregando...
Wilma Heussinger, que já tratou o câncer, ensina a filha Natasha: “exame não pode ser tabu” | Hugo Harada / Gazeta do Povo
Wilma Heussinger, que já tratou o câncer, ensina a filha Natasha: “exame não pode ser tabu”| Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo

Prevenção

O papanicolau é o método mais eficiente para detectar o câncer no colo do útero. Saiba um pouco mais:

Importância

A vacina contra o HPV, vírus causador do câncer de colo do útero, não substitui o exame preventivo. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), as duas vacinas hoje disponíveis no país protegem contra os subtipos 16 e 18 do HPV, mas não oferecem proteção para 30% dos casos de câncer de colo do útero causado por outros subtipos oncogênicos.

Como se proteger

O uso da camisinha protege parcialmente do contato com o vírus HPV, já que a principal forma de transmissão se dá por meio das relações sexuais. Outras formas de contágio se dão pelo contato com a vulva, região do períneo, perianal e bolsa escrotal

Periodicidade do exame

Após realizar o exame uma vez por ano por dois anos consecutivos, é possível fazer o papanicolau apenas uma vez a cada três anos.

Experiência

Após tratar doença, empresária incentiva filha a se prevenir

As campanhas de divulgação, o barateamento do teste de papanicolau e a aceitação das mulheres em fazer o exame têm ajudado na diminuição dos índices de morte por câncer de colo de útero. Antes visto como um tabu, ainda que minimamente invasivo e indolor, hoje o exame é conhecido de mulheres das mais diversas camadas sociais, idades e escolarização.

Um exemplo de como a informação pode ajudar a salvar vidas vem da empresária Wilma Heussinger, de 50 anos. Em fevereiro de 2000, ela notou pequenos sangramentos vaginais indolores e foi ao médico pedir um exame. Na época ela amamentava a filha de um ano e oito meses, e, mesmo achando que a princípio poderia ser um distúrbio hormonal que estivesse desregulando a menstruação, resolveu pedir ao ginecologista para fazer o teste. "Uma tia morreu de câncer de colo de útero e também tinha sangramentos. Até pensei que era muito nova [37 anos] para ter o câncer, mas resolvi investigar. Na época, fazia 10 meses que eu havia feito e exame e o médico disse que eu poderia esperar para fazer quando completasse um ano, mas eu não quis esperar. Ainda bem", diz.

Tratamento

Como o estágio já estava avançado, ela operou no mês seguinte e fez radioterapia. Em julho, já havia terminado o tratamento, mas, até hoje, faz questão de ir ao oncologista e fazer o exame todos os anos. Por conta de sua experiência, ela costuma conversar com a filha Natasha, de 14 anos, que é instruída a pedir o teste ao ginecologista logo que iniciar a vida sexual. "O teste não é nada perto do tratamento. Por isso, não pode ser um tabu", ensina Wilma.

O câncer de colo de útero, o terceiro tumor que mais atinge as mulheres brasileiras, tem sofrido um revés entre as curitibanas: nos últimos 15 anos, a taxa de mortalidade na capital caiu 38% e atingiu o menor índice histórico. Em 1996, a mortalidade era de 10 para cada 100 mil mulheres, com 77 mortes; no ano passado, a taxa era de 3,8 mulheres para o mesmo grupo de 100 mil, com 35 óbitos, de acordo com dados do Sistema Único de Saúde (Datasus).

O índice ainda é alto se comparado com outros países ricos, de acordo com dados divulgados pelo International Cancer Screening Network, ligado ao Instituto Nacional do Câncer, nos Estados Unidos. No Reino Unido, a taxa é de 2 a cada 100 mil, no Canadá, 1,9; nos Estados Unidos, 1,7; e na Itália, 1,5. Apesar disso, a rapidez com que o índice caiu no Brasil – pouco mais de uma década –, é uma boa notícia.

Disseminação

De acordo com o médico oncologista do serviço de Ginecologia e Mama/Patologia Cervical do Hospital Erasto Gaertner (HEG) Carlos Afonso Maestri, a disseminação do exame preventivo foi o maior responsável pela queda. O procedimento, também conhecido como papanicolau, se disseminou entre a rede pública de saúde de Curitiba a partir de 1997, quando a capital foi uma das seis escolhidas para implantar um programa piloto do governo federal chamado Viva Mulher.

"Estamos colhendo o fruto do que foi feito lá atrás, quando foi estabelecida uma política pública de saúde para a área. Isso criou na população feminina o hábito de fazer a prevenção, desde escovar os dentes até fazer o papanicolau", diz Maestri. Naquele ano, o governo estipulou metas a respeito da quantidade de exames que deveriam ser feitos – pelo menos 80% da população-alvo (entre os 35 e os 60 anos) e os agentes de saúde passaram a se preocupar em cumpri-la.

"Para cumprir as metas, foi criado um sistema de busca ativa para ir ao encontro das mulheres. Toda vez que ela ia ao posto de saúde, fosse para levar o filho para uma consulta ou para checar a pressão alta, o diabete, o médico a convidava a fazer o teste", relembra o oncologista e mastologista do HEG José Clemente Linhares. A simplicidade e rapidez do teste, que custa apenas R$ 6, ajudaram: foi possível realiza-los nos postos de saúde dos bairros, ao invés de em hospitais.

Hoje, além do câncer de colo de útero, o programa também abrange o de mama, e quando uma mulher vai ao médico em busca da guia para uma mamografia de rotina, é abordada sobre o papanicolau (e vice-versa). O grande desafio é levar este exemplo para outras cidades do estado. O Paraná ainda apresenta uma mortalidade alta, de 5,3 por 100 mil mulheres, semelhante à da Malásia (5,6) e Hungria (5,8).

Brasil discute vacina contra o HPV

Está em discussão no país a adoção da vacina contra o HPV (vírus do papiloma humano que causa o câncer do útero) no calendário oficinal de imunização. Atualmente, um projeto de lei (PL) que propõe imunizar meninas de 9 a 13 anos está tramitando na Câmara dos Deputados. O PL nº 4483/12 já recebeu parecer favorável na Comissão de Assuntos Sociais do Senado.

O Distrito Federal se adiantou e irá vacinar meninas de 11 a 13 anos matriculadas na rede pública distrital a partir de março, mediante autorização dos pais. Para ser efetiva, a vacinação deve ocorrer antes do início da vida sexual, já que o contágio pelo vírus se dá por meio do contato com o órgão sexual e regiões ao redor do ânus e períneo.

O governo federal, por outro lado, tem se colocado contra uma vacinação em massa. Segundo o Planalto, a vacinação custaria muito aos cofres públicos – hoje, cada dose sai por R$ 300, e são necessárias três. Além disso, o governo sustenta que o teste de papanicolau é o que mais apresenta benefícios, uma vez que é barato e, se feito todo ano, permite detectar as lesões em sua fase pré-cancerosa.

O oncologista Carlos Afonso Maestri discorda. Ele afirma que sai muito mais caro tratar a lesão do que vacinar as meninas, e que se o governo usar a vacina em larga escala, conseguiria reduzir o valor da dose para R$ 50. "Não poderemos vacinar todas as mulheres. Mas se vacinarmos, todo ano, apenas as que têm 11 anos, em alguns anos teremos uma longa faixa de mulheres vacinadas. E elas serão poupadas do tratamento".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]