Pacientes em estado terminal e que estejam com tratamento contra o câncer em andamento não estarão entre os selecionados para participar da pesquisa clínica conduzida pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) com a fosfoetanolamina sintética, substância que se apresenta com potencial para curar a doença, mas que ainda não foi testada em seres humanos e não tem liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser usada como medicamento.
Os detalhes sobre a pesquisa, que pode ser feita com até 1 mil pessoas, foram apresentados nesta quinta-feira (17). “A ideia não é restringir o acesso, mas dar à medicação uma chance real de benefício e (fazer com) que não haja perda para o paciente”, explica Paulo Hoff, diretor do instituto. O investimento será de R$ 2 milhões.
Pacientes que estão em algum intervalo do tratamento convencional ou que estão em fase em que não há tratamento disponível estarão entre os selecionados. “Em pacientes com pouco tempo de vida, há pouca probabilidade que eles se beneficiem. O problema que aconteceria é que seria considerada uma falha do produto.”
O esquema de seleção ainda não foi divulgado, mas o objetivo é criar uma página na internet contendo todos os pré-requisitos para dar transparência ao processo.
O desenho da pesquisa clínica foi conduzido por Hoff junto a uma equipe e ficou determinado que dez tipos de câncer serão submetidos ao tratamento com a substância: cabeça e pescoço, mama, colo uterino, próstata, estômago, fígado, pulmão, pâncreas, melanoma, cólon e reto.
Autorização
O projeto foi encaminhado para aprovação da Anvisa e do Conselho Nacional de Saúde (Conep). Além da aprovação desses órgãos, será necessário ainda que o responsável pela substância, o professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos Gilberto Chierice, forneça a fórmula para que as cápsulas sejam produzidas pelo laboratório da Fundação para o Remédio Popular (Furp).
Segundo o secretário estadual David Uip, Chierice ainda não deu uma resposta. “Nós tratamos esse assunto com toda a formalidade. Eu oficiei o pesquisador e o reitor da USP e aguardo, de volta, uma formulação do mesmo tom na qual ele consinta que isso seja feito. Todos os envolvidos, tanto na elaboração do projeto quanto os pesquisadores, são pessoas muito sérias.”
Se houver as liberações, a pesquisa pode começar no primeiro trimestre de 2016.
Pesquisa
A pesquisa vai começar na fase 2. Segundo Hoff, os testes iniciais estarão contemplados pela pesquisa que será feita pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que tem um investimento de R$ 10 milhões.
Na fase inicial do estudo conduzido pelo Icesp, dez pacientes serão submetidos ao teste de segurança de dose. Caso eles não apresentem efeitos colaterais, grupos de 21 pacientes para cada tipo de câncer selecionado vão tomar a pílula.
“Vamos usar o mínimo de eficácia para levar o estudo à frente. Se 20% dos pacientes se beneficiarem, colocamos mais 20 pessoas. Se continuar apresentando eficácia, vamos aumentar para 100 pacientes”, explica Hoff.
Os testes serão feitos em quatro hospitais que atendem pela rede estadual: A. C. Camargo, Hospital do Câncer de Jaú, Hospital do Câncer de Barretos e o Icesp.
Ocupação
Nesta quarta-feira (16) cerca de 100 defensores da fosfoetanolamina ocuparam o plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) para pedir um acordo para a liberação do uso da substância.
O grupo chegou no período da manhã e fez a ocupação no início da tarde. Os defensores da pílula deixaram o local por volta das 23h30.
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