Uma equipe de pesquisadores africanos do prestigiado Instituto Pasteur de Dacar, capital do Senegal, desembarca nesta terça-feira (5) em São Paulo para trabalhar em parceria com a Rede Zika, criada por cientistas, professores e alunos de instituições e laboratórios brasileiros para investigar o zika vírus e o aumento no número de casos de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré no país.
Os pesquisadores devem ajudar o grupo a acelerar os trabalhos, uma vez que a equipe africana tem grande experiência no controle de doenças e na neutralização de vírus. Além de conhecimento, eles trarão ao Brasil reagentes, antígenos e laboratórios portáteis para ajudar a treinar profissionais brasileiros.
Paolo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) e coordenador da rede, afirma que o país precisa começar a acompanhar o paciente portador do vírus em tempo real, evitando que ele seja picado novamente e infecte mais mosquitos.
“O paciente infectado vai ao posto de saúde em busca de tratamento, o mosquito não. Por isso, a forma inteligente é acompanhar o paciente virótico, não o vetor (transmissor da doença). Não dá para controlar o mosquito, mas acompanhando o paciente podemos evitar que mais mosquitos sejam infectados ao picá-lo”, explica.
Por esse motivo, Zanotto afirma ser importante que todo portador do vírus da dengue, zika ou chicungunha use repelente, impedindo a transmissão do vírus para outros mosquitos. Segundo o pesquisador, a Rede Zika, em parceria com o Instituto Butantã, já atua para desenvolver, em curto espaço de tempo, testes rápidos que possam identificar os portadores de vírus a custo mais baixo.
O professor lembra que há exemplos de sucesso no resto do mundo com os quais se pode aprender, como o de Cingapura, que combateu mosquitos transmissores de doenças com a aplicação de inseticidas em locais de grande aglomeração de pessoas, como terminais de ônibus e portas de fábricas. Ele afirma que os próprios postos de saúde e hospitais, que recebem um grande número de contaminados pelos três tipos de vírus, precisam ter um programa permanente de controle do Aedes aegypti.
“Armas” para combater o mosquito
A professora Margareth Capurro, do Departamento de Parasitologia da USP, diz que o Brasil precisa de todas as armas disponíveis para combater o Aedes aegypti – de telas nas janelas das casas até o controle biológico. Margareth trabalha em projetos que desenvolvem e testam mosquitos Aedes aegypti transgênicos.
“Não existe uma única técnica salvadora da pátria”, diz ela.
Margareth afirma que a soltura de Aedes transgênicos no bairro de Mandacaru, em Juazeiro, zerou casos de dengue durante três anos. Os mosquitos machos modificados em laboratório fazem com que as larvas das fêmeas não se desenvolvam. No Rio, a Fiocruz desenvolveu outro projeto, que espalha ovos do Aedes infectados com a bactéria Wolbachia, capaz de impedir a transmissão da dengue pelo mosquito. A experiência começou há cerca de um ano no bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador, e há pouco foi estendida para o bairro de Jurujuba, em Niterói.
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