Características
No Paraná, desde 2005, cerca de 175 mil crianças foram triadas pela equipe da pesquisa. Delas, 670 tinham a mutação e 17 desenvolveram o tumor e foram curadas. Saiba mais sobre a doença:
- Atenção a sintomas como aparecimento de pêlos acima do pênis ou vulva e lesões no rosto semelhantes a espinhas
- Este tipo de câncer tem maior incidência nas meninas
- O câncer de córtex adrenal pode aparecer na criança até os 15 anos de idade
- Estudos mostraram que tumores abaixo de 35 gramas não reincidiram. A maior parte dos tumores com até 60 gramas também foram curados
- Durante o acompanhamento, a criança também fará exames de dosagem hormonal e exames de imagem.
Fonte: Bonald Figueiredo, médico e pesquisador do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe.
Ao trocar a fralda da pequena Maria Eduarda Woinarovcz, na época com 3 anos de idade, a mãe Andréia Ribeiro Pinto notou algo errado, pois havia alguns pêlos no órgão sexual. Desconfiada, ela levou a criança ao posto de saúde e de lá foi encaminhada ao Hospital Pequeno Príncipe. "Eles já a internaram e uma cirurgia aconteceu no dia seguinte", conta.
A menina tinha o chamado tumor de córtex adrenal, que atinge parte de uma glândula acima dos rins, principalmente em crianças e adolescentes até 15 anos. Sua incidência é cerca de 15 vezes maior no Paraná e em São Paulo em comparação ao restante do país. Graças à detecção precoce e à cirurgia, Maria Eduarda, hoje com 4 anos, é uma criança saudável que apenas realiza um acompanhamento médico.
O tumor de córtex adrenal (ou TCA) é objeto de pesquisa no Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, que faz parte do complexo Pequeno Príncipe, sob a coordenação do médico e pesquisador Bonald Figueiredo.
Este tipo de tumor é maligno, mas as chances de cura em fase inicial são de quase 100%, explica Figueiredo. "Quanto menor o tumor, maior a chance de se recuperar", diz. Quando não detectado precocemente, o índice de mortalidade pode ser de quase 50%.
Iniciada em 2005, a pesquisa é dividida hoje em quatro partes, que estão sendo desenvolvidas em paralelo. Uma das respostas que os pesquisadores querem ter é o porquê da alta incidência no Estado.
Acompanhamento contínuo
Fiqueiredo diz que a primeira parte da pesquisa foi um estudo iniciado nas maternidades (que representam o Paraná em quase sua totalidade), com a coleta de uma gota de sangue do pezinho que verificava a existência ou não de uma mutação em um determinado gene (a mutação R337H no gene TP53). Atualmente, uma a cada 400 crianças apresenta a mutação. Destas, cerca de 3% desenvolvem o tumor.
Detectada a mutação, as crianças são acompanhadas e a família recebe aconselhamento genético. Foi por causa deste acompanhamento que, desde o início da pesquisa, 17 crianças, incluindo Maria Eduarda, passaram pela cirurgia e se curaram. "Quando a família recebe o teste positivo, ganha uma cartilha, um DVD com orientações e uma aula com um médico treinado, além de realizar consultas a cada quatro meses", explica. As consultas com esta periodicidade são feitas até os 5 anos. Até os 8 anos, a cada seis meses e até os 15 anos, a cada 12 meses.
Porém, apesar da divulgação e do trabalho de conscientização da equipe médica, algumas famílias preferem não seguir o procedimento. O resultado é que algumas crianças ainda são levadas ao hospital com tumores grandes e de difícil cura.
A segunda parte da pesquisa é a do estudo molecular com cultivo celular, no qual o tumor é analisado em laboratório. "Com isso, podemos sugerir ou propor novas drogas que podem ser trabalhadas com as atuais", explica o pesquisador.
A saída para quem tem o tumor é a cirurgia com a retirada dele aindaencapsulado. Quando ele se rompe e atinge outras partes, a criança passa pela cirugia e continua o tratamento com a quimioterapia e mais um fármaco potente. "Cada tumor tem um perfil diferente", explica.
A terceira parte da pesquisa é a de avaliação de outros tumores na família, como de mama, estômago e cérebro. O estudo quer confirmar se há relação ou não desta mutação com outros tipos de câncer em crianças e adultos.
Ambiente
Uma última etapa do estudo procura saber, segundo o médico, porque o tumor se desenvolve em algumas crianças com a mutação e em outras não. "Pesquisamos o envolvimento que o ambiente pode ter que facilite o desenvolvimento do tumor, além de onde vivem estas famílias, principalmente durante a gestação e os primeiros três anos de vida", explica.
Estes resultados também estão sendo estudados juntamente com os aspectos genéticos e ambientais em um sistema de geoprocessamento, o Projeto Geomedicina. Por um sistema chamado Web Mapping é possível encontrar indícios de doenças que possam estar relacionadas com o meio ambiente.
Publicação
A pesquisa coordenada por Figueiredo deve ser publicada em veículos médicos internacionais até o final do ano. A coleta de dados já foi finalizada. Mas, caso os pais encontrem sintomas que podem caracterizar o tumor do córtex adrenal (ver mais abaixo), devem procurar atendimento médico imediato.