
O atraso dos laboratórios na produção da vacina contra a gripe A (H1N1), a gripe suína, pode atrapalhar os planos do governo brasileiro de imunizar quase metade da população do país contra a doença antes do início do próximo inverno. O governo encomendou 83 milhões de doses, que devem estar disponíveis entre março e abril do ano que vem.
Se o volume total previsto for alcançado, a vacinação será destinada a todos os adultos jovens saudáveis com idade entre 20 e 29 anos, profissionais da área da saúde, grávidas, pessoas com comorbidades, como diabetes ou obesidade, e crianças com até dois anos. Os idosos saudáveis receberão somente a vacina contra a gripe sazonal. Esta deverá ser uma das maiores campanhas de imunização já registradas no país.
No entanto, se o governo conseguir menos doses do que o previsto, terá de restringir o número de grupos considerados prioritários. E vendo a situação nos países do Hemisfério Norte, que enfrentam o inverno neste fim de ano, as possibilidades de redução no número de doses parecem grandes.
Compra
No início de novembro o Ministério da Saúde noticiou a compra de 40 milhões de doses para o próximo ano. O Instituto Butantan, em São Paulo, vai produzir mais 33 milhões e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) vai fornecer 10 milhões. No entanto, o ministro José Gomes Temporão só deverá fazer o anúncio oficial da distribuição por faixa etária no fim de janeiro justamente porque existe a possibilidade de o laboratório britânico GSK não conseguir fornecer todo o lote reservado pelo governo. Os Estados Unidos, por exemplo, planejavam 250 milhões de doses e conseguiram apenas cerca de 80 milhões até o momento, segundo informações do Center for Disease Control and Prevention (Centro de Controle e Prevenção de Doenças).
No mês passado, o governo brasileiro investiu aproximadamente R$ 444,7 milhões na compra das 40 milhões de doses. Cada uma custou cerca de US$ 6,43. A verba para pagar as vacinas virá da Medida Provisória 469, que destinou R$ 2 bilhões para o enfrentamento da pandemia da gripe A, causada pelo vírus H1N1. Metade desse recurso será destinado à vacinação e a outra metade à compra de equipamentos e a treinamento de pessoal.
Vacinas
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que os produtores optassem por produzir uma vacina contra gripe sazonal em idosos, dada todos os anos, trivalente (que protegesse contra o vírus pandêmico da gripe e outros dois circulantes) ou bivalente, sem o vírus pandêmico. Segundo o diretor de Vigilância Epidemiológica do ministério, Eduardo Hage, a pasta optou por orientar o Instituto Butantan, instituição pública que faz a maior parte das vacinas contra a gripe para idosos, a fabricar a bivalente para que pudesse usar as cepas do A (H1N1) na produção da vacina para os de maior risco. "A população acima de 60 anos teria uma imunidade, seja porque os mais idosos tiveram contato com o A (H1N1) ou pela vacinação prévia, que confere algum nível de proteção", diz Hage.
Não foi decidido se os idosos poderão receber as duas vacinas. "Há possibilidade de que uma interfira na outra." O diretor destacou, no entanto, que a prioridade aos cidadãos com doenças crônicas permitirá que grande parte dos idosos que têm esses problemas seja atendida.
Eduardo Hage também adiantou mudanças no protocolo de diagnóstico e tratamento da gripe suína: só casos graves internados farão o teste laboratorial confirmatório para o vírus e será oferecido um segundo tratamento, o zanamivir (Relenza), para casos resistentes ao oseltamivir (Tamiflu).
Para o ministério, a nova gripe está em baixa atividade no Brasil. Na semana entre 22 e 28 de novembro, foram registrados, em todo o país, apenas sete casos de doença respiratória grave causada pelo vírus pandêmico. Na semana de pico, entre 2 e 8 de agosto, foram 4.176 casos desse tipo. De 25 de abril a 28 de novembro, os estados notificaram ao Ministério da Saúde 27.850 casos graves e 1.628 mortes causadas pelo vírus pandêmico.
Jovens
A escolha pela faixa etária dos jovens como grupo prioritário para receber a vacina ocorreu porque eles foram as maiores vítimas de óbito e de contaminação. No Paraná, por exemplo, das 286 mortes, 176 tinham idade entre 20 e 49 anos. Segundo Hage, 50 das 83 milhões de doses foram reservadas para adultos jovens e saudáveis dos 20 aos 34 anos. "Muitos países não ofertaram vacina para essa população". Outra novidade é que indígenas também passam a fazer parte do grupo prioritário.



