Prótese natural
Enxerto sem células chega ao mercado neste semestre
Até a metade deste ano, a Tissue Regenix terá lançado no mercado o chamado patch, espécie de enxerto de tecido descelularizado chamado de homoenxerto que pode substituir partes do corpo danificadas por doenças, inflamações ou por simples desgaste físico. Os patches podem ser usados para tratar de hérnias de disco, entupimento de vasos e artérias, problemas em tendões, ligamentos, meniscos, etc. "Os patches são como próteses, mas são feitos de tecidos que são repovoados de células pelo próprio organismo, por isso não oferecem risco de rejeição e duram muito mais, diferentemente das próteses de metal e de plástico, que precisam ser substituídas com o tempo", explica Dell. "O tecido descelularizado é como se fosse uma tela em branco com capacidade de se regenerar sozinho."
A técnica usada para criar os enxertos é diferente da usada com as válvulas cardíacas, embora existam muitas semelhanças entre elas. "Queremos trabalhar juntos justamente para aperfeiçoar essas técnicas e poder criar toda uma família de produtos que envolva a regeneração de tecidos."
O cardiologista Francisco Costa lembra que, além de aperfeiçoar cirurgias e transplantes já existentes, a engenharia de tecidos também poderá tratar problemas que até agora não tinham solução, caso dos tumores de bexiga. "Dispositivos artificiais não são resistentes à infecções, pois o nosso sistema imunológico não consegue atacar um material que é estranho a ele. Por isso o mais fácil é retirar o tecido infectado e substituí-lo por um tecido novo", explica.
Antony Dell confirma que, embora as técnicas sejam inovadoras, os produtos a serem desenvolvidos não chegarão muito caros ao mercado. "Temos que oferecer um preço justo, já que estaremos competindo com outros produtos não tão avançados, mas também efetivos."
Parece ficção científica, mas não é. Graças aos avanços da medicina, a autorregeneração de tecidos danificados por doenças ou simplesmente pelo tempo já é uma realidade. A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em conjunto com a Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, é pioneira no desenvolvimento de uma técnica de descelularização de tecidos. No caso dos estudos paranaenses, a técnica é usada para os transplantes de válvulas cardíacas.Segundo o cirurgião cardiovascular Francisco Diniz Affonso da Costa, líder da pesquisa e chefe do serviço de cirurgia cardíaca do hospital, as experiências brasileiras com a descelularização de válvulas começaram há 15 anos, com a criação do Banco de Valvas Cardíacas Humanas da Santa Casa, que até hoje é o único do país. Ele conta que, até então, o método usado para a preservação dessas válvulas era a criopreservação, que consiste em em congelá-las em um freezer de esfriamento programado, a 1ºC por minuto, até atingir 196ºC negativos, e mergulhá-las em uma solução de nitrogênio líquido para só então realizar o transplante. "O problema da criopreservação, entretanto, é que o organismo percebe que a válvula, que é um tecido vivo repleto de células viáveis, não faz parte dele", explica. "Não é que exista uma rejeição aguda à válvula, mas as suas células não são reconhecidas e morrem, o que significa que a válvula terá de ser trocada no futuro."
DescelularizaçãoCom a nova técnica de descelularização, a válvula é dissecada por uma solução de enzimas e detergentes. Todas as células são retiradas dela, restando apenas o seu arcabouço. "Esta matriz inerte, por sua vez, não é reconhecida como estranha pelo sistema imunológico, quando transplantada no paciente, por estar vazia", conta Costa. "As células do organismo do receptor então migram e povoam o novo tecido, transformando-o em uma válvula viva."
Mais recentemente, o grupo de pesquisadores colocou em prática uma evolução da técnica de descelularização, já que o método anterior fazia apenas o repovoamento parcial do tecido. Neste caso, além de todas as células serem retiradas da válvula do doador cadáver, retira-se do paciente um segmento da veia safena da perna, de onde são isoladas células endoteliais. Estas células são expandidas em laboratório até chegar a 6 milhões de unidades e então, semeadas na válvula.
Intercâmbio
O desafio, segundo Francisco Costa, é desenvolver uma técnica que permita o repovoamento "in vitro" da válvula descelularizada não só com células endoteliais, mas com todos os outros elementos celulares presentes em uma válvula normal. "A técnica não é perfeita", admite. "Ainda precisamos definir quais são os melhores tipos de célula e a quantidade que deve ser injetada, por exemplo. Para aperfeiçoar os nossos estudos, é fundamental promover a troca de experiências com outras instituições."
A Universidade de Leeds, na Inglaterra, desenvolveu uma tecnologia semelhante à da PUCPR. Mas, de acordo com Costa, o Brasil está à frente. "Há cinco anos estamos conseguindo implantar as válvulas descelularizadas em humanos", conta. "Os pacientes estão sendo acompanhados e têm mostrado bons resultados."
Mais de cem pacientes já foram operados, entre eles o auxiliar de produção Breno Fernandes Nunes, que fez o transplante de válvula há quatro anos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "O médico propôs a nova técnica e eu e minha família aceitamos já que, de acordo com o médico, não terei de fazer a substituição da válvula", explica. "Hoje, levo uma vida normal, não tenho mais problemas."
Em janeiro, a Tissue Regenix empresa de engenharia de tecidos que nasceu em 2006, a partir do grupo de pesquisa da Universidade de Leeds , veio a Curitiba conhecer de perto o projeto da instituição paranaense. Segundo Antony Dell, diretor executivo da empresa, o objetivo é juntar forças e investir na pesquisa para que se possa lançar um novo produto para o mercado o mais rápido possível. "Até agora os resultados têm sido impressionantes, excederam as nossas expectativas", avalia.
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