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A nutricionista Dolores Cardoso engravidou de Miguel três meses após o fim da quimioterapia | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
A nutricionista Dolores Cardoso engravidou de Miguel três meses após o fim da quimioterapia| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

Segurança

Ainda faltam exames conclusivos, diz pesquisadora

Restrições quanto ao tempo de gravidez podem mudar de uma mulher para outra. Isso porque ainda não existem exames conclusivos a respeito do tema, defende a professora Giseli Klassen, do departamento de Patologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). De acordo com a pesquisadora, o que é certo é que quanto mais tempo se passar e o câncer de mama não voltar, mais seguro é para que a paciente busque a gravidez. Ao mesmo tempo, ao menos no Brasil, a grande diversidade étnica não contribui para uniformizar os estudos desenvolvidos na área a respeito da gestação subsequente. "Só depois de cinco anos é que se pode arriscar e dizer que a doença não vai voltar ", diz.

Giseli observa que alguns estudos também apontam que gestações que ocorrem até os 25 anos ajudam a diminuir as chances de câncer mamário. Isso aconteceria porque o "amadurecimento" das células da mama só ocorre completamente durante a gestação. É neste período, por exemplo, que a mama é preparada para a amamentação. "Quanto mais cedo esse desenvolvimento ocorrer, menores as chances de se ter uma transformação maligna das células", comenta a pesquisadora.

Nesta perspectiva, a gravidez no estágio inicial da vida ajudaria a reduzir de sete a oito vezes as chances da neoplasia em questão. Este tipo de tese pode explicar ainda, em parte, porque se tem mais casos de câncer de mama nas regiões Sul e Sudeste, na comparação com o Norte e o Nordeste brasileiros. "Não é por termos menos diagnósticos naquela região. O que percebemos é que quando há mais precocidade para a gestação, a incidência de câncer de mama diminui".

Conforme Giseli, diante de um cenário em que mulheres decidem engravidar cada vez mais tarde e o câncer mamário acomete pacientes cada vez mais jovens, pesquisadores já estudam como produzir os efeitos de uma gestação, por meio de medicamentos, a fim de prevenir tumores cancerígenos na mama.

Ela teve câncer de mama, fez tratamento e sente-se curada. Agora, quer ser mãe. Envolta em uma série de discussões, a decisão de gerar um filho após lidar com uma neoplasia divide opiniões entre os médicos quando o assunto é quanto tempo a paciente deve esperar para levar seu sonho adiante. As maiores dúvidas têm uma mesma base -- a possibilidade de uma recidiva da doença, principalmente em função das mudanças hormonais que ocorrem no corpo da mulher na gestação.

De um lado, estudos mostram que se deve aguardar dois anos. De outro, o indicado são cinco anos de quarentena. A resposta, sugerem os especialistas, vai depender de condições apresentadas pela paciente envolvida.

"A maioria dos casos de cânceres hormonodependentes precisa de cinco anos para completar a primeira fase do tratamento. Ainda assim, as pacientes podem tomar medicamentos que ajudam a reduzir este prazo para dois anos, com o recuo da menstruação", explica a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama).

Ela orienta que para evitar problemas futuros, a mulher diagnosticada, com idade entre 30 e 40 anos, consulte sua equipe médica sobre como garantir fertilidade após tratamentos como a quimioterapia. Isso inclui até a possibilidade de congelar embriões. "A paciente pode congelar óvulos, por exemplo, para o caso de perda da função do ovário. Também pode buscar meios de protegê-los com medicações e tratamentos adjuvantes", assinala Maira. A médica diz que, mesmo não vendo piora no prognóstico, é importante esperar no mínimo dois anos para engravidar.

Restrições

Diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o ginecologista Fábio Postiglione Mansani também avalia que a gestação não aumenta as chances de uma recidiva da doença ou de outros tipos de câncer. O que ocorre é que na gravidez o diagnóstico da neoplasia pode ser mais tardio em decorrência das condições da mama naquele período. Além disso, caso haja uma nova confirmação de câncer, a grávida poderá ser exposta a tratamentos nocivos ao bebê. "Não se deve fazer radioterapia durante a gravidez e a quimioterapia não pode ocorrer nos primeiros três meses nem no último mês", alerta. Por isso, ele recomenda que se espera, no mínimo, dois anos para lidar com uma gravidez.

O médico Eduardo Millen, chefe da Seção de Mastologia do Instituto Nacional de Câncer (Inca), enfatiza que é essencial que a grávida mantenha acompanhamento oncológico. "As pacientes devem imediatamente comunicar seu médico, para suspenderem a medicação (no caso de tamoxifeno), devido aos riscos de má formação fetal, e manter os programas propostos pelos médicos mastologistas e oncologistas", completa.

Orientação

Informação sobre cuidados como os citados, analisa o autônomo Paulo (nome fictício), de Curitiba, são essenciais para as vidas da mãe e do bebê. Há cinco anos, ele perdeu a filha, então com 35 anos, vítima de uma neoplasia. Ela havia tratado um câncer no intestino e engravidou no meio das intervenções. A criança nasceu, mas a doença avançou, lembra o pai. Foram pouco mais de três anos de tratamento, até que a moça faleceu. "Poucas pessoas sabem que é preciso esperar cinco anos para ficar isento do câncer. Os médicos precisam avisar as pacientes sobre isso e formas para que elas possam ter filhos depois deste período. Na gravidez, o organismo acaba multiplicando as células do câncer", observa Paulo.

Esperança três meses após fim da quimioterapia

Mesmo sabendo das advertências sobre gravidez subsequente a casos de câncer, em especial o de mama, a nutricionista Dolores Martins Cardoso, 31 anos, de Londrina, engravidou três meses após a última sessão de quimioterapia. Na época com 23 anos, ela lutava contra um câncer de mama. Seus médicos, ao saberem da notícia, ficaram um pouco assustados, lembra. Mas isso não tirou o entusiasmo da jovem. "Fiquei feliz com a gravidez, a encarei como um presente depois do que enfrentei. Para mim, entendi como uma cura, uma renovação na minha vida", define. O pré-natal seguiu paralelo ao acompanhamento oncológico e exatamente um ano após o fim do tratamento contra o câncer nascia Miguel, hoje com seis anos. A experiência tornou-se enredo do livro "Paz, Amor e Quimioterapias", lançado pela nutricionista nas ações do Outubro Rosa, de 2012, em Londrina.

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