A busca do equilíbrio entre o corpo e a mente
Em conjunto com a psicoterapia, algumas práticas como acupuntura e homeopatia também podem ajudar a tratar quem sofre com a somatização. "A homeopatia trabalha o equilíbrio do organismo como um todo, tratando não apenas os sintomas, mas buscando a causa, e por isso ajuda a melhorar desordens psíquicas como angústia, depressão e medo que muitas vezes se transformam em queixas físicas", afirma o presidente da Associação Médica Homeopática do Paraná, Jaime Simões.
A medicina tradicional chinesa também não diferencia a saúde emocional da física e vê na acupuntura uma das formas de buscar equilíbrio do organismo. "Não se faz a relação de causa e efeito. A medicina chinesa vê o indivíduo como um todo, se há alguma desarmonia isso se reflete em todo o organismo", explica o psicólogo e acupunturista Márcio Busato. Para a prática, as emoções têm repercussões principalmente em cinco órgãos: coração, fígado, rins, estômago e pulmão, que por sua vez estão relacionados com elementos da natureza. Cada órgão corresponde a uma emoção e o desequilíbrio dessa emoção pode afetar o funcionamento do órgão. "Os chineses acreditam por exemplo que a gastrite é ocasionada por um desequilíbrio do elemento madeira, que está relacionado com o fígado e teria ligação com emoções como agressividade e irritação. O excesso do elemento no organismo teria repercussões no estômago", explica. Para tratar esses desequilíbrios, a acupuntura trabalha pontos específicos do corpo, procurando restaurar a harmonia do organismo.
Os exames não indicam nenhuma causa orgânica, mas os sintomas estão lá. E por mais que o médico tente combatê-los, eles retornam, principalmente em situações de tensão. Sim, emoções como estresse, tristeza, decepção e frustração podem se converter em enxaquecas, gastrite, doenças de pele e em casos mais grave até mesmo servir de gatilho para doenças autoimunes. É o que os médicos chamam de somatização.
O estresse é considerado o principal causador das doenças emocionais. Uma situação de tensão ou risco produz no organismo uma série de reações: o corpo libera adrenalina, aumenta a glicose e concentra energia nos músculos e órgãos vitais, como cérebro e coração. A respiração se acelera para oxigenar os pulmões, a frequência cardíaca aumenta, a pupila dilata. Tudo isso para que possamos reagir rapidamente. Embora seja um processo natural, a defesa constante do organismo pode ocasionar problemas. Isso significa que as angústias produzidas diariamente pelo fim do prazo para entregar um trabalho, os problemas de relacionamento em casa ou o trânsito que não flui acabam tendo impacto na saúde.
Com a estimulação constante para o enfrentamento, o corpo produz grandes quantidades de cortisol, que circula no sistema nervoso e afeta o sistema imunológico. O cortisol, hormônio produzido pela glândula supra-renal, é capaz de destruir células de defesa do organismo e com isso deixar as pessoas mais propensas a doenças e infecções. "Cada pessoa tem um ponto fraco, o que chamamos de órgão alvo. Para alguns, o estresse emocional ataca o sistema gástrico, e por isso ao sofrer uma situação de tensão a pessoa acaba tendo diarreia ou dor de estômago. Outras pessoas apresentam dor de cabeça, mas essa dor não tem origem neurológica, é puramente tensional. Há casos até em que a pessoa desenvolve dificuldade para respirar que pode chegar a asma", explica o psiquiatra Eduardo Aratangy, do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Nesses casos, mais do que tratar o sintoma, é preciso buscar a causa. "Muitas vezes os exames desses pacientes não acusam nada de errado, por isso é importante que a equipe médica trabalhe unida, o clínico tem que saber quando encaminhar esse paciente para terapia", diz a psicóloga clínica Marcia Regina dos Santos. Ela ressalta, entretanto, que assim como a somatização é um processo lento, seu tratamento também é. "A terapia vai trabalhar o comportamento da pessoa e por isso exige dedicação", afirma.
Perfil
Embora não exista um padrão entre os pacientes que somatizam, sabe-se que a personalidade podem influenciar no surgimento de doenças. Pessoas pouco flexíveis, que se frustram com facilidade e se cobram demais tendem a ter mais problemas. "Estudos mostram que os latinos costumam ter maior propensão à somatização, talvez pela maneira como expressam e lidam com seus sentimentos", afirma Aratangy. Da mesma forma, acredita-se que as mulheres também sejam mais suscetíveis.
Sabe-se também que algumas doenças como lupus, artrite, fibromialgia e vitiligo têm relação com as emoções. "Sabemos que pacientes com lupus ou artrite frequentemente apresentam também depressão, mas o que não sabemos ao certo ainda é o que é causa e o que é consequência, ou seja, se a depressão levou a uma dessas doenças autoimunes ou se a ocorrência dessas doenças é que acabou deixando o paciente deprimido", afirma.
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