| Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo

Na prática

Veja algumas ideias que Fábio Feldman propõe para ajudar a diminuir o íncide de queda de idosos

Crianças engajadas

Com o objetivo de conscientizar os idosos sobre a importância de um "ambiente anti-quedas", a equipe de Feldman recrutou as crianças. Para isso, o brasileiro escreveu um livro, intitulado Safety Superheroes - Preventing Grandparents From Falling (Super-heróis da Segurança: Impedindo que os Avós Caiam, em tradução livre), que é lido para as crianças nas escolas. Para isso, 13 idosos vão até as salas de aula ler o livro e interagir com os alunos. Após lerem o livro, os pequenos vão para casa dos avós com um check-list, para observar se eles vivem em um ambiente seguro.

Chão seguro

Outra estratégia para evitar fraturas foi forrar 75 quartos e banheiros do asilo com o chamado chão anti-fadiga, uma tecnologia feita de polímeros que minimiza o impacto sobre as articulações e evita fraturas quando o idoso cai sobre o chão. A iniciativa faz parte de uma pesquisa em que 75 quartos receberão o tapete e 75 não receberão. A ideia é perceber se haverá diminuição no número de queda.

Exercícios

Para evitar que idosos mais frágeis, e até mesmo os que precisam usar andador, sentissem vergonha de fazer exercícios com idosos mais saudáveis, o governo criou aulas específicas para eles, com exercícios que podem ser feitos até mesmo com os idosos sentados. Também foi dada ênfase não apenas às caminhadas, mas também à musculação e a exercícios que focam no equilíbrio e na agilidade.

Vitamina D

Uma das formas encontradas para prevenir as quedas entre os idosos do asilo foi fornecer um suplemento de vitamina D aos residentes. Pesquisa conduzida por Feldman mostrou que a redução nas quedas, após um período que ia de 2 a 5 meses de tratamento, foi de 26%. O custo da suplementação é de R$ 0,42 por semana para cada residente. O dinheiro economizado com uma queda evitada – R$ 30 mil – paga todo o programa e a redução esperada nas quedas é de 20%.

Protetor de bacia

O acessório, feito com espuma e acoplado por dentro de uma espécie de calção aos quadris, é pouquíssimo usado no Brasil (por ser importado), mas é comum no Canadá. Se o idoso cai utilizando o protetor, a chance de ele se machucar diminui até 80%, pois ele protege a cabeça do fêmur durante a queda. No total, as ocorrências de fratura no asilo diminuíram 30%.

Três perguntas básicas

As enfermeiras do asilo possuem um crachá com três perguntas básicas que devem ser feitas antes de a profissional sair do quarto. São perguntas que muitas vezes não são feitas, na correria do dia a dia, e que contribuem para evitar que o idoso saia da cama sozinho e sofra uma queda: "Você precisa ir ao banheiro?", "você está sentindo alguma dor?" e "você precisa de alguma coisa?". As respostas são anotadas para um controle interno. Chamados às enfermeiras por meio de botões de emergência diminuíram.

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Desde 2007, o brasileiro Fabio Feldman tem sobre os ombros uma grande responsabilidade: desenvolver programas de prevenção para evitar quedas e fraturas entre os 200 mil idosos que vivem na província da Colúmbia Britânica, no Canadá. Por lá, a qualidade de vida dos idosos é levada a sério, uma vez que eles já representam 20% da população do país. Com o objetivo de ajudá-los a levar uma vida independente e ao mesmo tempo cortar gastos com internações, asilos e cuidadores domésticos, o sistema público de saúde da província, para o qual Feldman trabalha como manager, criou uma área só para tratar do assunto. São 86 asilos e três hospitais sob sua supervisão, o que exige, além do trabalho na rede pública, pesquisas constantes na Simon Fraser University (onde também leciona), visando a fazer uma ponte entre o conhecimento e a aplicação no dia a dia. Feldmann, que mora no Canadá desde 1996, conversou com a Gazeta do Povo durante sua passagem por Curitiba e discutiu ideias que podem ser aplicadas no Brasil, cuja população na terceira idade já ultrapassa os 10%.

Qual é o diferencial do Canadá no que se refere aos cuidados para evitar quedas entre os idosos?

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Há muita ênfase na prevenção. Há uma área só para isso, que é onde eu atuo, tanto que se o idoso cai e faz uma fratura, já não é mais comigo. Ele vai para outro departamento, tratar com cirurgiões e ortopedistas. Então, fazemos de tudo para garantir sua qualidade de vida e evitar gastos para para o sistema de saúde. A mortalidade por quedas é muito alta – de 25% a 30% dos que caem fraturam a bacia e morrem em até um ano. É um custo muito alto para a pessoa pela dor, para a família e também para o Estado, uma vez que lá todo esse cuidado é provido pelo governo.

Como é feita essa prevenção?

Um exemplo são os programas de exercícios criados para a comunidade de 13 cidades, para os idosos mais frágeis. Criamos programas para os idosos que usam bengala ou andadores, que são os que mais têm a ganhar com os exercícios. Só podem se registrar nestes programas os idosos que são mandados pelos médicos ou através dos nossos hospitais. Porque antes, tratávamos esses idosos e não tínhamos para onde mandá-los para fazer exercícios. Era difícil fazer com que eles acompanhassem o ritmo dos mais ativos, eles tinham vergonha por não conseguirem fazer a mesma coisa. Então, fizemos um grupo em que todos estavam no mesmo nível. É um programa que ocorre duas vezes por semana, por uma hora. É feito um teste antes e outro depois, e percebemos que a resistência a quedas aumenta em torno de 80%.

Quais são os tipos de exercício?

São os de agilidade, que ajudam a melhorar o equilíbrio e a força muscular. Há um pouco de musculação também. Um dos melhores exercícios já comprovados é o tai chi chuan, que pode ser feito devagar, ajuda no equilíbrio e na coordenação motora. Muitos voltam a conseguir pentear o cabelo e se vestir, pequenas coisas que eles não podiam fazer porque haviam perdido a força.

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Como essa mudança no perfil da população alterou o país e como o Brasil pode se adaptar em relação ao envelhecimento da população?

Lá, não existe mais entre os idosos esse complexo em relação aos andadores, por exemplo. Nos shoppings, há até estacionamento para eles. As calçadas são rebaixadas e o andador faz sucesso. As pessoas viajam e vão até aos cassinos usando andador. Você já não vê pessoas com bengala, pois o andador é uma evolução da bengala, é mais seguro e confortável. Há espaço para eles nos restaurantes, nos condomínios. As casas também são adaptadas, com portas mais largas para cadeiras de rodas. E no Brasil essa mentalidade também deve ocorrer, para que as pessos vivam de forma independente o máximo possível, como ocorre por lá.