Cigarro? Só se for nas baladas
Há dez anos, o autônomo Jefferson Simioni, de 27 anos, começou a fumar sempre que sai com os amigos ou ingere bebidas alcoólicas: cerca de quatro vezes por semana. "Quando estou em casa, não sinto a mínima vontade de fumar. O cigarro até fica guardado no armário. Só lembro que está ali quando vou pegar o maço para sair", diz. Apesar da frequência, Simioni diz não se sentir dependente. "Sinto vontade quando bebo, mas, se não tiver um cigarro, também não faço questão. Não preciso dele para me divertir", explica. Mesmo assim, os prejuízos à saúde começam a dar os primeiros sinais. "Faço clareamento porque os dentes ficam amarelados e, quando vou surfar, me sinto cansado mais rápido que antes."
Modalidades
Entenda as diferenças entre aqueles que fumam com regularidade e os fumantes eventuais:
Fumante regular é aquele que fuma ao menos um cigarro por dia e mantém uma regularidade no consumo, ou seja, precisa fumar sempre nos mesmos horários ou antes ou depois das mesmas atividades. Costuma sentir crises de abstinência quando precisa aumentar o intervalo de consumo dos cigarros e manifesta irritação, ansiedade e desconforto até conseguir fumar novamente.
Fumante Ocasional é aquele que não tem uma regularidade para fumar. São pessoas que não associam horários ao cigarro (como fumar sempre logo depois de acordar, na hora do almoço ou antes de dormir), não fumam diariamente, preferem deixar o hábito para momentos especiais, como fins de semana, festas e reuniões com os amigos, e não ligam de passar dias sem consumir um cigarro.
Charuto e cachimbo são mais tóxicos
Não é só o fumo ocasional de cigarros que é perigoso, segundo os médicos. O consumo esporádico de charutos e cachimbos também ameaça a saúde.
Desde que o uso do cigarro foi proibido em lugares fechados, um novo perfil de fumantes vem ganhando força, principalmente entre os jovens. Perdem espaço aqueles que consomem cigarros todos os dias e entram em cena os tabagistas ocasionais, que deixam o cigarro para os fins de semanas ou preferem fumar em festas, passando dias longe do cigarro.Segundo dados de uma análise feita pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMSC) a partir da pesquisa Vigitel Brasil, do Ministério da Saúde, entre 2006 e 2009 (primeiro ano da proibição do fumo em locais fechados no Paraná), o número de fumantes esporádicos na capital subiu 70%, enquanto que o de fumantes regulares estabilizou-se.
O fenômeno, segundo Alberto de Araújo, presidente da comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, não é novo. "Nos Estados Unidos, após a implantação da lei, os fumantes regulares reduziram o consumo e os ocasionais se tornaram maioria", diz. Na opinião dele, é perceptível que o número de fumantes ocasionais no Brasil está crescendo entre os jovens. "Como eles são mais informados sobre os riscos, preferem não abusar. Mas é ilusão achar que cinco cigarros no fim de semana não fazem mal. Eles fazem, e muito."
Riscos
De acordo com os especialistas, o hábito de fumar esporadicamente diminui as chances de incidência de doenças, mas os riscos são altos. "Quanto mais tempo a pessoa fuma, maior a possibilidade de ter problemas como enfarte, acidente vascular cerebral, alergias respiratórias e câncer, mas o efeito não tem uma relação clara com a quantidade de cigarros e sim com a toxicidade das substâncias", diz João Alberto Rodrigues, coordenador do programa de controle do tabagismo da SMSC.
Pessoas com arritmia cardíaca, hipertensão, bronquite e asma, por exemplo, podem ter uma crise de desconforto cardíaco ou respiratório com apenas um ou dois cigarros. "Independentemente da quantidade consumida, fumar compromete a qualidade de vida e pode matar", alerta Ricardo Meirelles, pneumologista da divisão de controle de tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca). E engana-se quem pensa que fumar de vez em quando não é vício. Mesmo que precise de poucos cigarros para se satisfizer, a pessoa mantém uma relação psicológica de prazer e dependência. "Não existe o fumar somente quando quer. Sem perceber, você fica ansioso para tragar o cigarro e tão dependente que não consegue mais viver sem."
Um dos riscos, segundo Araújo, é que a pessoa que hoje se satisfaz com cinco cigarros por semana pode, em alguns meses, querer um maço ao dia. Isso porque a nicotina faz com que o cérebro libere dopamina (que dá a sensação de prazer). Com o tempo, o cérebro se acostuma e passa a pedir mais nicotina.
Para Meirelles, apesar dos riscos, a mudança de perfil dos fumantes faz com que muitos acabem reduzindo o consumo de cigarros e motivem-se a largar de vez o vício. "Cada vez mais pessoas abraçam a ideia de que o tabagismo é doença e deve ser combatido."
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