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Elson Egídio da Silva enfartou no inverno de 2004. De lá para cá, cuidados nos meses de frio é redobrado | Pedro Serápio/ Gazeta do Povo
Elson Egídio da Silva enfartou no inverno de 2004. De lá para cá, cuidados nos meses de frio é redobrado| Foto: Pedro Serápio/ Gazeta do Povo

Acidentes

Esquente-se com segurança

Além das doenças, a entrada do inverno é tempo de alerta também para alguns acidentes domésticos, como incêndios, choques elétricos e a chamada "morte branca", causada pela inalação de monóxido de carbono.

Segundo o Corpo de Bombeiros, nesta época é mais comum os acidentes devido às fórmulas caseiras de aquecimento e mau uso dos equipamentos elétricos. Somente em relação à morte branca, que pode ser causada por aparelhos de aquecimento a gás, foram 26 óbitos nos últimos cinco anos na Grande Curitiba.

Segundo orientação do comando do Corpo de Bombeiros, é preciso regular aparelhos de aquecimento e instalá-los somente em locais ventilados. Além disso, o órgão aconselha o uso de eletrodomésticos certificados por órgãos como o Inmetro.

  • Reforma em casa: Juliana Ribeiro tirou as cortinas para conter a rinite alérgica
  • Alexandre Palma e o filho Gustavo, que se queimou com água quente
  • A cozinheira Décia Bráz não sai de casa sem sua bomba de corticóides e, quando possível, recorre à inalação

Ar seco, frio, poluído e com mais micro-organismos em suspensão. Não é à toa que, com todas estas características, o inverno possa ser resumido como a "estação de clínicas e hospitais lotados". Em Curitiba, alguns destes estabelecimentos chegam a registrar 40% de aumento no número de atendidos durante a estação – que começa oficialmente no próximo dia 21. Entre as queixas mais frequentes, nenhuma surpresa: doenças respiratórias como gripes e resfriados, e alérgicas como rinite, lideram a lista de reclamações.

"Neste período crescem as ocorrências por doenças virais por haver mais vírus no ar. As características climáticas também prejudicam os alérgicos. Em função das mudanças de temperatura, ácaros e fungos se proliferam", explica a alergologista Adriana Schmidt, professora da Pontifícia Universi­da­­de Católica do Paraná (PUCPR) e membro da Sociedade Paranaense de Alergia. Para a pneumologista Laura Maria Lacerda de Araújo, a melhor explicação vem em números. "Atendo entre 35% e 40% mais pacientes nesta época do ano."

Mas não precisaria ser assim, concordam os profissionais da saúde. É possível reduzir os problemas e doenças de inverno com algumas medidas simples de prevenção. Limpeza de casacos e roupas de cama guardados há muito tempo antes de usá-los, redução do uso do ar-condicionado e afastamento das crianças da cozinha e dos aquecedores são exemplos de como se livrar de resfriados, ressecamento da pele e acidentes com fogo e calor.

Com ajuda de médicos especialistas de todo o Brasil, o Ca­­derno Saúde elaborou um guia com dez sugestões para fu­­gir dos males do inverno. Confira e proteja-se:

1 - Fique atento ao coração

É fato: o coração também sofre com o frio. A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo aponta que nos meses de inverno a incidência de enfartes chega a ser 30% maior que em outras estações.

Segundo o presidente da entidade, o cardiologista Luiz Antônio Machado César, ainda estuda-se os motivos disso. Algumas possibilidades são apontadas. "A causa aparentemente mais frequente são as infecções respiratórias (como gripe e resfriado), que podem levar alguém com o coração comprometido a um enfarte, principalmente se for um paciente idoso", diz. "Outro motivo é que, em uma mudança brusca de temperatura, ocorre uma vasoconstrição (fechamento) das artérias. Isso leva ao impedimento da circulação sanguínea", diz.

Agasalhar-se bem, evitando as mudanças de temperatura, e proteger-se contra as infecções respiratórias são, portanto, as principais dicas do profissional. Para o cardiologista Marcelo de Freitas Santos, diretor clínico do Hospital Costantini, outra sugestão é não descuidar em relação aos hábitos saudáveis. "No inverno existe a tendência de comer mais, deixar os exercícios de lado, fumar sem parar. São atitudes que comprometem a saúde do coração e devem ser evitadas", diz.

O representante de vendas aposentado Elson Egídio da Silva sabe o efeito devastador do frio. Durante o inverno de 2004 ele sofreu um enfarte. Mesmo recuperado, ainda hoje sente os desconfortos assim que a temperatura cai. "Começa a subir a pressão e tenho uma sensação muito ruim. Parece que a circulação do sangue não é a mesma.

É aí que cuido ainda mais da saúde", diz.

2 - Não se esqueça de se agasalhar

Quem não lembra daquela frase entoada por dez em cada dez mães em dias frios: "não esqueça o casaco?" Pois essa é também a recomendação médica para evitar desde um simples resfriado até um enfarte. Manter o corpo bem protegido evita variações bruscas de temperatura e seus efeitos, que podem ser mais graves do que se imagina.

O médico infectologista Clóvis Arns da Cunha, da Amil Planos de Saúde, Hospital das Clínicas e Nossa Senhora das Graças, aponta que um dos efeitos da variação de temperatura é a diminuição das defesas do organismo. "É preciso atenção. Sair de casa só de bermuda no frio vai exigir que o organismo gaste muita energia para tentar manter o corpo na temperatura ideal, entre 36 graus C e 37,5 graus C. Isso pode afetar o sistema imunológico. A pessoa fica vulnerável aos vírus e bactérias. Vai pegar gripe e resfriado bem mais facilmente." Além disso, a queda muito acentuada na temperatura corporal, chamada hipotermia, leva à morte. No último inverno paranaense, oito pessoas morreram dessa forma, segundo a Secretaria de Saúde do Estado do Paraná.

Mas é preciso bom senso, principalmente com crianças. Nada de agasalhos em excesso. Na hora das brincadeiras ou esportes, quando há um aquecimento do corpo, deve-se reduzir o número de blusas. Segundo o profissional, o corpo superaquecido também pode levar a problemas respiratórios, além do desconforto.

3 - Cuidado com as roupas guardadas

Se esfriou, é hora de tirar os casacos e roupas de cama do último inverno do fundo do armário. É justamente aí que mora um perigo constante para os alérgicos. Roupas guardadas por muito tempo são um prato cheio para fungos, ácaros e outros micro-organismos – todos grandes causadores de doenças respiratórias.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia, cerca de 20% dos brasileiros têm alguma alergia. Destes, a maioria, (80%), não podem entrar em contato com o ácaro, que é o mais numeroso micro-organismo encontrado nas roupas guardadas. Essa porcentagem representa pessoas principalmente com rinite e asma, as doenças alérgicas mais comuns no país.

Para não desenvolver ou desencadear uma crise alérgica, não há outro jeito: tem de fazer uma limpeza cuidadosa. Mas não é preciso produtos especiais. Basta água quente e sabão. É o que explica a alergologista Adriana Schmidt, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e membro da Sociedade Paranaense de Alergia. "Essas peças devem ser lavadas com água acima de 60 graus C e colocadas no sol para secar." Além disso, a médica dá conselhos para a guardá-las novamente, quando chegar o fim do inverno. "Armazene as roupas em um saco plástico, desde que sejam bem lavadas antes. É preciso também, pelo menos uma vez no período, tirá-las para fazer uma nova limpeza", afirma.

4 - Deixe a casa limpa

Não são só os casacos e roupas de cama precisam estar limpos. Durante o inverno, a casa toda pode se revelar um ninho de substâncias alérgenas. É que, ao contrário do que acontece no calor, o ar frio e seco desta época do ano torna a dispersão das partículas suspensas no ar mais difícil.

O resultado desse fenômeno climático aliado às janelas e portas fechadas para manter a temperatura da residência são um veneno para quem não pode entrar em contato com fungos e ácaros. A Organização Mundial da Saúde estima que, durante o inverno, uma cama de casal acumule 60 milhões de bolotas fecais de ácaros. Se não forem dispersas, essas partículas entram em contato com o ar e com as vias aéreas dos alérgicos.

A alergologista Paula Levorin alerta: no inverno a limpeza de casa deve ser diária. "Deve-se passar a vassoura e panos umedecidos todos os dias, principalmente quem tem alergia. A esses pacientes sempre recomendo trocar carpetes por pisos laminados e impermeabilizar sofás, colchões e travesseiros", diz ela, que é membro da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Medidas seguidas ao pé da letra pela assistente comercial Juliana Ribeiro. Para livrar-se das crises diárias de asma e rinite no inverno, ela montou quase uma barreira de guerra contra os micro-organismos. "Tirei as cortinas de tecido, tapetes e tudo que acumule pó, até objetos decorativos. Qualquer resquício me fazia ter reações", diz.

5 - Desligue o ar-condicionado

Você fica o dia todo em um escritório com o ar-condicionado ligado? Cuidado. Segundo os médicos, sua pele e nariz já estão sofrendo o impacto disso. É que o aparelho é um dos principais vilões da estação. Ele resseca o ar. Para aquecer (ou resfriar) um ambiente, ele precisa tirar a umidade. Esse efeito causa o ressecamento também do muco presente nas narinas (que protege contra a entrada de vírus e micro-organismos) e do tecido da pele.

Além disso, a exposição ao ar-condicionado e, em seguida, ao ar exterior pode causar uma variação térmica muito brusca.

Achou pouco? Segundo a médica pneumologista Laura Maria Lacerda Araújo, da Amil, o ar-condicionado pode esconder ainda alguns inimigos quase invisíveis. "Se não ocorre a manutenção do aparelho com frequência, ele vai ter certamente fungos e ácaros e irá espalhá-los por todo o ambiente", diz. O resultado: tosse, espirros e reações alérgicas. Uma exposição prolongada pode levar ao desenvolvimento de asma e rinite.

Mas se você não tem como fugir deste perigo, a profissional ensina como reduzir os risco e melhorar a qualidade do ar que respira. "Tem de exigir do responsável a manutenção do aparelho. A cada seis meses uma equipe especializada deve fazer a limpeza e regulagem dele", aponta. Além disso, é aconselhável a ingestão de muita água (cerca de dois litros diários).

6 - Fuja dos lugares cheios e fechados

Com certeza nada resume mais os problemas de inverno do que gripes e resfriados, principais causas do aumento da procura dos serviços médicos neste período. Tudo resultado de uma maior quantidade de vírus no ar, combinada com a maior permanência em ambientes fechados.

O infectologista Clóvis Arns da Cunha explica que os vírus multiplicam-se no frio. "Eles precisam de temperaturas baixas, por isso aparecem mais no inverno". E é nessa época que as pessoas ficam mais próximas umas das outras e em lugares fechados. "Como são transmitidos na tosse e espirro, chegam mais facilmente a um novo hospedeiro", diz. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações, a ocorrência de gripes e resfriados chega a ser 60% maior no frio. Embora ser infectado dependa também de fatores como resistência natural e tipo de micro-organismo a que se é exposto, ele aponta que basta seguir uma cartilha básica para ficar quase livre dos problemas. "Para a gripe, seja ela a H1N1 ou a comum, a melhor forma de prevenir é a vacina. Quanto aos resfriados, o conselho é evitar locais fechados e cheios e manter sempre uma boa higiene. Usar álcool gel é recomendado", diz. Depois de infectado, o médico explica que a gripe pode ser curada com medicamentos antivirais. "Já os resfriados não têm cura.

O tratamento visa apenas a diminuir os sintomas, que podem durar até sete dias ."

7 - Crianças longe da cozinha

Inverno não é sinal de alerta apenas para doenças alérgicas e respiratórias. É hora de redobrar os cuidados com acidentes de crianças em casa. Mantê-las longe da cozinha e de aparelhos como aquecedores (que costumam ficar no piso) é a dica para se evitar acidentes domésticos, principalmente queimaduras.

José Eduardo Viana, médico pediatra do serviço de queimaduras do Hospital Evangélico de Curitiba, aponta que o número de acidentes dessa modalidade é consideravelmente maior nessa época do ano. "Embora não existam estatísticas oficiais sobre isso, percebemos no dia a dia um número maior de queimados no frio, sobretudo por líquidos aquecidos. As crianças vão mais para a cozinha em busca do calor. Às vezes, as mães as carregam no colo enquanto preparam o alimento", diz.

E é justamente nesse ambiente que o risco é maior. De acordo com o clínico chefe do serviço de queimados do Evangélico, José Luiz Takaki, 80% das queimaduras acontecem na cozinha.

Os dados mais recentes da ONG Criança Segura – de prevenção a acidentes domésticos – apontam que as principais vítimas têm entre 1 e 4 anos. Em 2007, 90 das 173 mortes causadas por contatos com uma fonte de calor (como líquidos quentes, óleos de cozinha, água da torneira ou aparelho doméstico quente, como o aquecedor) pertenciam a essa faixa etária. Esses acidentes, aliás, foram a segunda maior causa de hospitalizações naquele ano.

Mas o cuidado deve acontecer com todas as idades. O pequeno Gustavo Palma, de apenas 8 meses, é prova disso. "Estava segurando ele no colo enquanto colocava chá em sua mamadeira. Então ele deu um tapa no recipiente e acabou derrubando água quente em seu braço", conta o pai, o advogado Alexandre Palma. O resultado foi uma queimadura de segundo grau e uma lição. "Temos que estar sempre atentos a esse tipo de acidente", diz o pai.

8 - Para a pele, hidratantes

O ar mais seco do inverno retira a umidade natural da pele, fazendo com que ela sofra mais. "É muito comum resultar em rachaduras, envelhecimento precoce e alergias, que podem evoluir para uma dermatite", explica Maurício Sato, médico dermatologista do Hospital Nossa Senhora das Graças, do ambulatório de câncer de pele do Hospital das Clínicas e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

E esses não são os únicos riscos. "Durante o inverno as pessoas tomam banho quente e usam mais agasalhos. Isso também resseca a pele. O frio inibe ainda a produção de suor. É um conjunto de fatores bastante prejudiciais", diz.

Para evitar os danos, o dermatologista aconselha uma preparação de guerra. "É preciso hidratar a pele com mais frequência. Usar cremes e loções hidratantes diariamente. Para pessoas com maior ressecamento, os compostos de ureia são os mais indicados e devem ser usados mais de uma vez por dia. Os banhos devem ser mornos e de, no máximo, sete minutos. Além disso, todos precisam usar sabonetes delicados, de preferência líquidos, e jamais esquecer os protetores solares, pois a radiação incide também no inverno."

Para acabar com os lábios rachados, o médico anuncia: nada de ficar passando a língua para deixá-los úmidos. "A saliva pode piorar o ressecamento no local. Ela contém enzimas para a digestão dos alimentos que causam feridas. O ideal é mesmo usar os batons e pomadas específicas para este fim", diz.

9 - Corra da poluição

Se a poluição é ruim o ano todo, é no inverno que ela se torna mais intolerável. Culpa do fenômeno chamado inversão térmica, em que o ar frio fica abaixo do ar quente, tornando a dispersão da poluição mais difícil.

Segundo a Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a concentração de poluentes no estado neste período é 80% maior. "É quando os níveis ficam extremos e começam a ter efeitos na saúde. A qualidade do ar cai muito", diz o engenheiro da companhia, Alexandre Bravia.

No Paraná não há estudos semelhantes. Por meio de seus relatórios anuais, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) aponta que a qualidade do ar na Grande Curitiba é aceitável. Ainda assim, o Núcleo de Estudos de Doenças Relacionadas à Poluição do Ar da Universidade de São Paulo (USP) garante que o problema é alarmante em todas as grandes cidades.

De acordo com o núcleo, os problemas decorrentes da exposição a altos níveis de poluição vão das crises alérgicas (rinite e asma), irritação dos olhos e fadiga a complicações cardíacas e pulmonares. A dica, segundo os especialistas, é fugir dos bolsões de poluição, como grandes avenidas, fábricas e centros comerciais, pelo máximo de tempo possível – sobretudo no começo da manhã e no fim de tarde. Na hora dos exercícios físicos, a indicação é optar pelos parques ou academias, em vez das ruas.

10 - Água, óculos e inalação contra as irritações

Olhos lacrimejantes e coriza são velhos conhecidos do frio. A irritação ocular e das narinas é reclamação frequente nos consultórios médicos entre junho e setembro. É assim também na sala do médico Carlos Augusto Seiji Maeda, otorrinolaringologista da Paraná Clínicas e membro da Associação Parananese de Otorrinolaringologia. Ele explica que até mesmo quem não sofre de rinite ou outra crise alérgica fica à mercê do clima seco e pesado.

Para fugir desses sintomas, o médico aponta algumas soluções. Não descuidar dos óculos de sol é uma delas. "Com esse clima ocorre uma secura ocular. Usar óculos cria uma barreira que protege contra o contato direto com partículas prejudiciais", diz. Além disso, a água é uma grande aliada. "Mas não é preciso, a princípio, lágrimas artificiais ou algo parecido. Uma boa hidratação oral, ou seja, beber bastante água (mais de dois litros diários), dá bons resultados."

Ainda segundo Maeda, inalações constantes são também formas de fugir das irritações, principalmente para quem tem doenças pulmonares. É o caso da cozinheira Décia Bráz. "Sempre quando esfria, corro para fazer inalação. Tenho bronquite e os meus problemas com a irritação de olho e nariz são muito incômodos", diz. Porém, as sessões são realizadas em um consultório médico. "Nem sempre tenho tempo de fazê-las, apesar de ser a recomendação médica. Para esses casos, nunca desgrudo da bombinha, que é a inalação de emergência."

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