Prevenção
Diagnóstico precoce reduz chances de sequelas nos bebês
Grávida do terceiro filho, a dona de casa Daniela Camila Maia, 20 anos, de Londrina, conta que informações sobre toxoplasmose no pré-natal só apareceram há pouco tempo. "Na primeira gravidez não falaram sobre a doença. Na segunda, já vieram orientações para não comer carne crua, lavar bem os alimentos." Ela procura seguir as recomendações à risca.
O diagnóstico precoce da toxoplasmose congênita em bebês, explica a pediatra infectologista Jaqueline Dario Capobiango, pode reduzir em mais de 40% as chances de sequelas no paciente, em especial quando o tratamento é desenvolvido no primeiro ano de vida. É por isso que pesquisadores envolvidos no programa de Vigilância em Saúde da Toxoplasmose Gestacional e Congênita, da UEL, defendem o teste da toxoplasmose em todos os bebês, ainda nas primeiras horas após o nascimento. O diagnóstico viria com o "teste do pezinho". Nesse caso, haveria a possibilidade de detectar a doença em crianças cuja mãe adquiriu toxoplasmose no fim da gravidez e o diagnóstico não pôde ser feito nos três testes oferecidos no pré-natal.
Universidade vai lançar curso, site e aplicativo
A coordenação do programa de Vigilância em Saúde da Toxoplasmose Gestacional e Congênita da UEL se prepara para lançar um curso de educação a distância, um aplicativo e um site para disseminar capacitações sobre a doença para profissionais da saúde do estado e de outras regiões do país. A expectativa é de que a iniciativa esteja disponível em breve.
Para o coordenador das pesquisas, o médico veterinário Italmar Teodorico Navarro, a toxoplasmose ainda é uma doença negligenciada, uma vez que diagnosticá-la após o nascimento ainda é mais barato que os custos do seu tratamento. "Infelizmente, falta empenho político para resolver o problema", afirma.
O número de grávidas infectadas por toxoplasmose, patologia também conhecida como a "doença do gato", cresceu 40% no Paraná nos últimos cinco anos. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), em 2009 foram 173 notificações, ante 239 no ano passado. Os registros em recém-nascidos também saltaram no período, passando de zero para 30.
A toxoplasmose é uma doença silenciosa. Em cerca de 90% dos casos ela não apresenta sintomas claros, tornando-a mais perigosa. Se contraída pela gestante, pode causar sequelas no bebê, como lesões oculares, auditivas e neurológicas, e até provocar o abortamento.
Um levantamento feito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), de 2000 a 2010, com 31 crianças com toxoplasmose congênita apontou que 68,9% apresentaram alguma consequência em função da doença 55% tiveram problemas na visão. "O bebê infectado pode apresentar sequelas tardiamente. A doença só é descoberta quando a criança está em idade escolar, porque apresenta dificuldades neuromotoras que são percebidas pela professora", explica a pediatra infectologista Jaqueline Dario Capobiango, do Hospital Universitário (HU) de Londrina.
Diagnóstico
Segundo a Sesa, o crescimento nos registros de toxoplasmose no estado se deve às ações voltadas ao diagnóstico no pré-natal. A coordenadora do Departamento de Atenção Primária à Saúde, Shunaida Sonabe, diz que antes de 2011 não havia na rede pública a prática de solicitar exames para detectar a doença em gestantes. Hoje, apesar de a notificação dos casos ainda não ser obrigatória nos municípios, são feitos três exames durante o pré-natal. "O exame da toxoplasmose se tornou parte da rotina das grávidas no Paraná; está entre os 17 exames do pré-natal", diz.
O protocolo adotado pelo programa Mãe Paranaense, do governo do estado, é inspirado no programa de Vigilância em Saúde da Toxoplasmose Gestacional e Congênita, implantando em Londrina em 2007. O método foi criado por pesquisadores da UEL com apoio dos ministérios da Saúde e da Educação. As pesquisas começaram em 2004. Coordenador do programa, o professor Italmar Teodorico Navarro, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da UEL, relata que entre os fatores que levaram à criação da iniciativa estão o fato de existirem poucas informações sobre a doença. "As lesões oculares mais graves no mundo causadas por toxoplasmose estão no Brasil."
Pelo protocolo desenvolvido, a primeira medida a ser estabelecida é um trabalho de prevenção com as grávidas. Isso, em geral, é feito nas unidades de saúde ao longo do pré-natal. Em seguida, vem o monitoramento sorológico para diagnosticar a doença no primeiro trimestre da gestação. No segundo e terceiro trimestres ocorrem outros testes. Caso o diagnóstico seja positivo, mãe e bebê já recebem tratamento.
Esqueça a lenda, os gatos não são os culpados
Os gatos, ao contrário do que muita gente pode pensar, não são os vilões da saúde das gestantes quando o assunto é a toxoplasmose. O professor Italmar Teodorico Navarro, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da UEL, explica que o protozoário Toxoplasma gondii, causador da doença, pode ser encontrado nas fezes dos felinos e outros animais. Nem por isso, o convívio com os bichos de estimação precisa ser evitado. "O ovo presente nas fezes do gato é infectante quando vai para o chão, não quando está no gato. No chão, ocorre uma esporulação, o que contamina esse solo por um período de seis a 18 meses."
Por isso, a recomendação é lavar bem legumes, verduras e frutas antes de comer, evitando assim qualquer tipo de infecção. Esses alimentos podem ter sido contaminados em um solo que recebeu fezes de animais hospedeiros do protozoário. A contaminação no homem costuma ocorrer através da ingestão de carnes cruas ou mal passadas, como churrasco e quibe cru, verduras e frutas sem a correta higienização, ingestão de água contaminada ou leite cru e por meio de mãos sujas com areia ou terra.
Navarro explica que a prevenção consiste em medidas sanitárias fáceis de serem adotadas. Nas refeições, deve-se consumir apenas alimentos bem lavados, cozidos ou assados, água filtrada ou fervida e leite fervido ou pasteurizado. Também deve-se cuidar da higiene das mãos e utensílios de cozinha. "Se a gestante tiver um gato, deve pedir para que outras pessoas retirem as fezes do animal, além de evitar que o felino coma carne crua."