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Silvio Adriano Pinto, que passou apenas 24 horas na UTI do Hospital Vita, achou que o videogame ajudou na sua recuperação | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Silvio Adriano Pinto, que passou apenas 24 horas na UTI do Hospital Vita, achou que o videogame ajudou na sua recuperação| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

O Brasil é um dos primeiros países do mundo a utilizar o videogame Nintendo Wii como ferramenta da fisioterapia em pacientes que estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A tecnologia avançada desse brinquedo simula movimentos reais, por meio de dispositivos adaptados para os pés e para as mãos. Em Curitiba a técnica é utilizada de forma experimental em dois hospitais: Vita Curitiba e Santa Cruz.

A técnica é aplicada no Hospital Santa Cruz há quase um ano. A coordenadora do serviço de fisioterapia da UTI geral e da UTI cardíaca do hospital, Amanda Teixeira, afirma que o objetivo é publicar um artigo científico com a experiência. "Conheci a nova técnica em 2007, em um congresso na Alemanha. Quando implantamos o Wii no hospital montamos uma rotina de uso, com tempo de duração e métodos de aplicação."

No primeiro semestre deste ano o hospital pretende tornar público os benefícios do jogo para a reabilitação em UTI. "Também planejamos levar esse estudo para o Congresso de Terapia Intensiva, que será realizado em setembro, em Brasília, e a um evento médico que acontecerá em outubro, na Espanha", afirma Amanda.

O emprego do Nintendo Wii, no Hospital Vita Curitiba, também ocorreu em 2009. Os mé­dicos se inspiraram em um es­­tudo realizado em clínicas de fisioterapia do Canadá. "A segurança dos exercícios foi aprovada. Usamos o Teste de Nothiran, que mede a qualidade de vida em diversas áreas da percepção, como dor e isolamento social. Com apenas três dias de exercícios descobrimos que os pacientes tiverem um acrés­­cimo de 30% no nível de qualidade de vida dentro da UTI", conta Espe­­ridião Elias Aquim, coordenador geral da Fisioterapia dos Hospitais Vita Curitiba e Vita Batel.

Esperidião Aquim acredita que a técnica configura uma evolução dentro das unidades de terapia intensiva. "O paciente se movimenta de diversas formas com os braços, os ombros, o tronco e as pernas. Funciona como nos exercícios comuns da fisioterapia, com o diferencial de que é mais agradável e lúdico. Eles nem percebem que estão se movimentando."

Segundo a secretária da Socie­­dade de Terapia Intensiva do Paraná (Sotipa), Luana Alvez, o uso do equipamento em UTI’s é inédito. "Não conheço nenhum artigo em revistas científicas que faça referência ao uso do Wii em Unidade de Terapia Intensiva, portanto não há evidência científica atual que comprove sua eficácia. Porém, acredito que é um método bastante promissor por trabalhar a parte motora e psicológica dos pacientes."

Restrições

Mas nem todos os pacientes po­­dem utilizar o videogame. Em al­­guns casos a técnica é prejudicial. "Não indicamos o uso do Wii para pessoas com acessos intravenosos em membros superiores e em hi­­pertensos, porque a atividade leva ao risco de taquicardia, aumento de frequência respiratória e da pres­­são arterial. Pacientes pré-ope­­ratórios de cirurgias cardíacas também não podem, devido ao risco de sobrecarga no coração," diz a coordenadora Amanda.

A fisioterapia dentro da Uni­dade de Terapia Intensiva tem um papel fundamental. Os pacientes chegam na ala muito debilitados e se não realizarem exercícios po­­dem piorar. "A grande preocupação é entregar o paciente para a sociedade nas melhores condições possíveis. Com capacidade funcional de se higienizar e voltar a trabalhar, por exemplo. É por isso que o trabalho da fisioterapia é tão importante."

Os exercícios também evitam que o paciente desenvolva outras doenças. "O grande problema da UTI é a imobilidade do pulmão, que acaba perdendo volume. Isso facilita o acúmulo de secreções, o que gera pneumonia. Quando a pessoa joga o videogame é também estimulada a respirar e isso previne problemas respiratórios e pulmonares," explica o coordenador Aquim.

A aposentada Maria Aparecida Batista, 71 anos, sofre de insuficiência cardíaca e, por isso, foi para a UTI do Santa Cruz, em 28 de ja­­neiro. Ela ficou surpresa com a ideia de jogar videogame no hospital. "Quando me explicaram, eu achei que iria passar mal. Mas foi muito bom, porque fiz exercício sem esforço. Elimina o estresse por­­que a gente se movimenta e tam­­bém se diverte."

Agora a fisioterapia é a hora mais esperada do dia para os pacientes da UTI do Hospital Vita Curitiba. "Eu fiz o tratamento durante quatro dias, de manhã e de tarde. Ficava ansioso esperando pela hora de jogar novamente. Era a minha diversão dentro da unidade, já que recebemos poucas visitas e não podemos levantar da cama nem para ir ao banheiro," conta o aposentado Michel Antonio de Freitas, 48, que sofreu um enfarte em novembro do ano passado e ficou 4 dias internado. O programador de informática Silvio Adriano Pinto, 34, concorda com Freitas. Ele tem diabetes e apesar de só ter ficado um dia na unidade, confirma que o jogo foi importante para sua recuperação. "Foi a primeira vez que estive em uma UTI. Antes de ser internado eu nem sabia que tinha diabete. Pensava que era um bicho de sete cabeças, que tinha que ficar horas preso em uma cama e não foi isso. Me chamaram para jogar de manhã e de tarde. Isso me acalmou e me ajudou a ver o problema com outros olhos."

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