O uso de antidepressivos nos dois trimestres finais da gravidez aumenta em 87% o risco de autismo para a criança, de acordo com um novo estudo publicado nesta segunda-feira (14). A pesquisa, realizada por cientistas da Universidade de Montreal, no Canadá, baseou-se na análise de dados sobre mais de 145 mil gestações.
Os resultados da pesquisa, coordenada por Anick Bérard, foram publicados na revista Jama Pediatrics, da Associação Médica Americana. Segundo a pesquisadora, os antidepressivos são amplamente utilizados durante a gravidez no tratamento da doença. “De 6% a 10% das mulheres grávidas estão sendo tratadas com antidepressivos”, disse Anick ao jornal O Estado de S.Paulo.
Os cientistas analisaram dados de crianças nascidas na província canadense de Québec entre janeiro de 1998 e dezembro de 2009. Dos 145.456 bebês nascidos vivos, 1.054 (0,7%) foram diagnosticados com autismo. A maior parte delas foi acompanhada pelos cientistas até os 10 anos. Os diagnósticos foram feitos, em média, aos 4,6 anos.
Do total de bebês avaliados, 4.724 (3,2%) foram expostos a antidepressivos quando estavam no útero. Destes, 4.200 foram expostos no primeiro trimestre e 2.532 foram expostos no segundo ou no terceiro trimestre da gravidez. Entre as crianças expostas ao medicamento no primeiro trimestre, 40 foram diagnosticadas com autismo. Já no segundo e terceiro trimestres, 31 apresentaram a doença.
Segundo Anick, as causas do autismo ainda não estão claras, mas sabe-se que tanto a genética como o ambiente têm seu papel. “Nosso estudo mostra que tomar antidepressivos no segundo ou terceiro trimestre de gravidez quase dobra o risco de que a criança seja diagnosticada com autismo por volta dos sete anos”, afirmou a pesquisadora.
Risco
“Normalmente, pensamos que o primeiro trimestre da gravidez é o mais arriscado para o feto. De fato, é um período problemático para a formação do embrião. Mas o segundo e terceiro trimestres são cruciais para o desenvolvimento do cérebro”, explicou a pesquisadora.
Segundo o estudo, a associação entre o autismo e o medicamento aparece especialmente quando há utilização de uma classe específica de antidepressivos: os inibidores seletivos da recaptação da serotonina.
“A depressão é uma doença séria e nosso estudo não está defendendo que mulheres grávidas não se tratem. Mas é preciso informá-las. O uso de antidepressivos é apenas um dos tratamentos possíveis”, disse.
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