
Para Samira Kawash, escritora que mora no Brooklyn, em Nova York, um incidente com jujubas, há cinco anos, desencadeou uma pesquisa e o nascimento do blog Candy Professor.
Sua filha, na época com 3 anos, foi convidada para brincar na casa de uma nova amiguinha e ela foi junto. Na hora do lanche, tendo notado a presença de açúcar (na forma de caixas de suco e biscoitos) na cozinha, Samira, na época professora da Rutgers, sacou algumas jujubas.
A mãe da amiguinha ficou paralisada. A criança nunca tinha experimentado balas, mas talvez não houvesse problema, só daquela vez. No entanto, o pai gritou de outro cômodo, argumentando que era melhor darem cocaína às crianças. "Ficou claro para mim que havia uma relação irracional entre doce e perigo naquela casa", diz Samira, em recente entrevista. "Isso foi irresistível para mim".
A partir dessa linha de pensamento, nasceu o blog Candy Professor. Em seus posts, Samira mergulha profundamente na relação dos Estados Unidos com os doces, encontrando ideias irracionais e interessantes em toda parte. A "grande ideia" por trás do Candy Professor é que as balas e doces carregam tanta bagagem moral e ética que as pessoas os enxergam de uma forma diferente pior em relação a outros tipos de comida.
"Pelo menos as balas são honestas em relação ao que são", diz. "Elas sempre foram um alimento processado, consumido por puro prazer, sem nenhum benefício nutricional em particular". Hoje, todos os corredores do supermercado possuem produtos altamente manipulados com essas características.
Samira ainda aponta que muitas pessoas que evitam balas comem alegremente barrinhas energéticas cheias de açúcar e com pedaços de chocolate e tomam Gatorade por motivos de saúde, embora uma porção da bebida contenha aproximadamente a mesma quantidade de açúcar que umas 12 balinhas. Alguns nutricionistas compartilham a mesma opinião sobre o status de renegado das balas e doces. "Não acho que as balas fazem mal", afirma a professora de nutrição da Universidade de Vermont Rachel Johnson e principal autora de um abrangente estudo da American Heart Association, publicado em 2009, sobre a literatura científica envolvendo açúcar e saúde cardiovascular.
Rachel explica que as balas são consideradas ruins porque não têm a "aura de saúde" que circunda alguns alimentos doces como barras de granola ou sucos de fruta. "Em termos de nutrição, há pouca diferença entre jujubas e frutas secas."
A professora de nutrição também observou que as balas oferecem apenas 6% do açúcar adicionado da dieta americana, enquanto bebidas doces e sucos fornecem 46%. "Há motivos para crer que o açúcar na forma líquida é na verdade pior que as balas, pois enche o estômago e com isso dá menos espaço para escolhas mais saudáveis", comenta.
Samira, que estudou teoria arquitetural, narrativas de mulheres e medicina, e a imagem do terrorismo antes de começar a escrever no Candy Professor, tem sentimentos conflitantes em relação a sua atual especialidade. Ela descreve sua infância em Sunnyvale, Califórnia, na década de 1970, como uma "busca incessante e em grande parte frustrante por doces", restringidos a uma pequena indulgência semanal depois da missa aos domingos. Mais tarde, ela disse, farras alimentares à base de jujubas e drops abasteciam sua pesquisa de graduação em Stanford; mais recentemente, ela se viu dando descarga em punhados de balas para evitar comer "só mais uns". "Obviamente, minha própria relação com doces não é totalmente saudável", admite.
Há muitos blogs dedicados a experimentar, fotografar e identificar tipos obscuros de balas, como o Candy Addict e o Candy Blog, mas o trabalho de Samira não se trata de gosto ou nostalgia. Ela está muito mais interessada em esclarecer os fatores de controle, perigo e tentação que as balas trazem desde que se tornaram amplamente disponíveis, nos anos de 1880.
Até então, a maioria dos doces como caramelos, doce de amendoim ou bala puxa-puxa era feita em casa e balas duras compradas em lojas, como as de menta, eram relativamente caras. Porém, avanços tecnológicos permitiram que o açúcar fosse fiado, aerado, amaciado e aromatizado de novas formas, sendo vendido por preços bem baixos. Rapidamente os doces entraram para a cultura popular.



