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Comportamento

As redes sociais são o novo divã?

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Em uma sessão de psicanálise, o divã fica posicionado de costas para a poltrona do analista. É um princípio freudiano: o profissional não deve ser visto durante a sessão. Mas hoje qual­­quer especialista pode ser visto pelo Google. Isso se for necessário. Porque há analistas com perfis em redes sociais. E que "twittam". Será que eles es­­tão virando o divã?

Psicanalistas famosos, como Jorge Forbes, Contardo Calliga­ris e Regina Navarro Lins, já são seguidos por milhares de pessoas no Twitter – o que, claro, inclui eventualmente alguns pacientes. O fenômeno é visto com entusiasmo por alguns profissionais, mas com receio por outros.

O psiquiatra e psicanalista Plinio Montagna, presidente da Sociedade Brasileira de Psi­­canálise em São Paulo, não man­­tém perfis pessoais na in­­ternet, mas é cauteloso ao co­­mentar o assunto. "O foco da re­­lação analítica deve ser o pa­­ciente – não o analista", diz.

Mas Plinio não é proibitivo. "Os psicanalistas são humanos: têm amigos, fazem piada, exercem a sua cidadania." Para ele, as redes sociais são um jeito contemporâneo de viver. "O que o profissional precisa é gerenciar a sua privacidade na rede ."

É o que faz a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins. No seu perfil no Twitter, que é republicado no Facebook, ela trata exclusivamente dos te­­mas que pesquisa: amor, desejo e relacionamentos. "Na verdade, eu sou uma militante [da liberação sexual]", diz a autora de A Cama na Varanda (Editora Best Seller). Uma vez por semana, Regina tira algumas horas para programar os tweets dos próximos sete dias – um por hora, das 9 h da manhã à 1 h da madrugada.

No decorrer da semana, a psicanalista também responde a perguntas do público, enviadas pelo Twitter. "Aprendi que colocar um caractere antes de cada resposta permite que to­­dos os meus seguidores acompanhem os debates que vão sur­­gindo", ensina. "Mas preciso tomar cuidado – já perdi seguidores por poluir suas timelines", diverte-se. Regina segue 311 pessoas, mas ela admite que já não os lê há tempos, por estar muito ocupada com as pesquisas de sua próxima obra, O Livro do Amor.

Para o psicanalista freudiano Antonio Jeam, que não está no Twitter, o sucesso das redes sociais é um desdobramento de fixações como o voyeurismo e o exibicionismo. "Há uma gana de afirmação tanto de quem observa quanto de quem se expõe", provoca. "É uma questão de autoestima baixa – não há nada de novo nisso." Ele afir­­ma que seus colegas acabam expondo suas fragilidades na rede, o que poderia atrapalhar a análise.

Citando Carl Jung, Antonio explica que o psicanalista desfruta de um arquétipo de "pessoa ideal" aos olhos do paciente. E isto seria material de tra­ba­­lho. "Informações pessoais podem destruir essa relação", diz. "Porque, se o paciente percebe que o analista tem também dilemas, o ‘mentor’ pode perder a credibilidade."

Na série americana Mad About You (no Brasil, Louco Por Você), vários episódios foram dedicados aos constrangimentos causados pelo contato dos protagonistas com a terapeuta do casal fora do consultório. Em um deles, a profissional be­­be demais em uma festa.

O estudante Marcos (a pedido dele, o seu sobrenome foi omitido) acompanhava os tweets de seu analista. "Fui percebendo que ele era uma pessoa ra­­dical", lembra. "Não era na­­da muito pessoal, mas a forma como ele escrevia [sobre política e meio ambiente] soava agres­­siva." O paciente não aban­­donou o tratamento especificamente por causa do que leu na internet, mas acha que isso contou. "Fiquei decepcionado."

Impessoal

Mas e se o analista se ater a obser­­vações pontuais sobre a sociedade? Alguns profissionais usam a ferramenta para sugerir leituras e avisar sobre en­­trevistas e palestras. Mas eles parecem atrair mais seguidores pelo que dizem sobre política, cultura e sociedade. É assim que se tornam muito seguidos e retwittados.

"Acho que o Twitter favorece a divulgação de ideias e o contato com universitários", argumenta o estudante de psicologia Thomás Gomes. Ele conta que o tema vem sendo debatido na instituição onde estuda, a PUC-RS. Não em uma disciplina sobre novas tecnologias, mas na aula de ética.

Depois de passar uma temporada na Argentina, Thomás parece convicto de que psicanalistas devem, sim, participar da sociedade, dentro e fora da internet. Em Buenos Aires, eles são muito presentes nos meios de comunicação; e o assunto, na vida das pessoas. Não é raro ver alguém lendo Freud, Jung ou Lacan no metrô.

De todo modo, a presença de psicanalistas no Twitter parece enfrentar menos resistência que formas existentes de terapia online, vistas com desconfiança pelos principais conselhos da área, mas em experimentação por alguns profissionais e instituições. Muitos psicanalistas ainda devem twittar sobre o assunto.

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