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Antes da fotografia, ele conheceu a guerra. Bernardo Soares Lobo, 79 anos, um dos últimos fotógrafos lambe-lambes, é um exemplo de uso polivalente da tecnologia de imagens ao longo da vida. O homem usa a tradicional máquina no centro da cidade diariamente. Mas também trabalha com uma Polaroid, uma Nikon antiga e já experimentou câmeras digitais. "Na minha opinião, fotografia digital é boa para imagens feitas de perto. Para imagens de longe, o sistema antigo ainda é melhor", sentencia. "Além do mais, para usar câmera digital não é preciso ser fotógrafo."

Lobo, que nasceu em Portugal, encantou-se com a fotografia na longínqua Macau, então colônia portuguesa no Oriente. Quando a China teve sua revolução comunista, dez mil soldados portugueses foram enviados ao território e lá ficaram por quatro anos. Bernardo estava entre eles. "Havia por lá um chinês que fazia fotos dos soldados com sua máquina", conta. "Interessei-me pelo processo e acabei comprando a máquina do chinês. Quando vim para o Brasil, comecei a fotografar nas praças."

Antigamente, era preciso colar placas de papel junto ao negativo para datar as fotos. Quem não tinha cola à mão lambia essas plaquinhas e as grudava nos negativos. Também se usava um filme tipo gelatina, em que se passava a língua para saber o lado certo. Daí o apelido lambe-lambe.

Chapas pesadas

Se você acha que câmera analógica é só aquela em que a gente bota filme, certamente não conheceu as gigantescas chapas de vidro 20 x 18 de antanho que era preciso carregar para lá e para cá. E as lâmpadas de flash? Eram grandes e pesadas. E queimavam a cada foto tirada. "O fotógrafo precisava sair com 50 a cem lâmpadas para se garantir. Mas hoje o gasto continua. Gasto uns R$ 50 para comprar dez "chapas" de Polaroid", explica Lobo.

Gastos, porém, existem em todas as frentes. Tudo bem, uma câmera analógica ainda pode ser atrativa na hora do preço. Uma simples Yashica Mg Motor custa hoje R$120. Já a versão digital mais barata, a Yashica Mp Ez, de 2 megapixels (nível considerado muito baixo hoje), sai por R$ 600. Só isso pode dar alergia na carteira na hora de comprar uma digital.

Mas a digital tem vantagens óbvias. A maior é poder ver a foto antes de aceitar. Numa câmera analógica, é preciso um mínimo de habilidade, ou o resultado pode ser sofrível. E aí se perde o dinheiro investido no filme. Além disso, é preciso pagar pela revelação e ampliação do filme. Se bem que no caso das câmeras digitais também se pode fazer isso, mandando imprimir as fotos feitas de bits e bytes. Em compensação, ter uma câmera digital e não ter computador é um contra-senso (embora as imagens possam ser visualizadas até na televisão e as câmeras venham com cabos USB e plugues para as entradas de vídeo do televisor). Afinal, quem não quer brincar na edição de suas fotos? Então tome dinheiro: computador, PhotoShop, impressora, softwares de organização (vá lá, estes podem ser gratuitos, como Picasa, XnView etc) e a mensalidade da internet. Quem não quer se preocupar com tudo isso compra uma analógica básica e manda revelar o filme. "Mas o filme se deteriora", lembra o veterano fotógrafo Frederico Mendes. "Apesar disso, ainda há muito preconceito entre os profissionais contra a imagem digital."

35 megapixels

Charles Woodworth, ex-supervisor técnico da Kodak, diz em artigo na rede que o filme ainda é a melhor maneira de capturar imagens em detalhes e de forma estável. Bem, em tese ao menos, uma câmera digital para iniciantes hoje (entre 4 e 5 megapixels – e olhem que há apenas 2 anos isso ficava entre 2 e 3 megapixels) não conseguiria superar um bom negativo – ele poderia alcançar 35 megapixels de detalhe, segundo Júlio Preuss, autor de "Fotografia Digital: da Compra da Câmera à Impressão das Fotos". "Isso daria uma excelente foto final", pondera. "Mas as câmeras digitais, cujos sensores geralmente medem 1/5 de um fotograma, precisam da ajuda de lentes bem maiores e potentes, que fazem diferença."

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