Desde semana passada, muitos internautas têm recorrido às redes sociais para externarem seu “amor” pela série Black Mirror, que teve a terceira temporada lançada no Netflix. Os seis novos episódios liberados voltam a apostar na fórmula de histórias independentes que discutem os avanços da tecnologia e como ela pode influenciar nossa vida – muitas vezes de forma negativa. Apesar da série costumar enveredar para o campo do sci-fi e até da fantasia, um dos novos episódios é assustadoramente realista e traz um alerta importante: a webcam de seu computador pode se tornar, facilmente, uma arma perigosa para hackers e criminosos virtuais.
O terceiro episódio da temporada, chamado de “Shut Up and Dance”, mostra um jovem que tem a webcam do notebook invadida e é flagrado em um momento íntimo. Os hackers, então, passam a chantagear o rapaz e o obrigam a se envolver em uma série de ações para não ter seu vídeo postado na internet.
Falar mais do que isso é estragar as surpresas da história, mas o importante é destacar que a premissa do episódio é mais atual do que você imagina. Invasões via malwares (programas maliciosos que infiltram-se no computador para roubar dados ou tomar controle do aparelho) têm se popularizado nos últimos anos, justamente por serem lucrativas e relativamente fáceis para os cybercriminosos. Segundo levantamento da empresa de segurança virtual Symantec, em média os hackers costumam cobrar hoje US$ 679 para liberar os computadores infectados após as invasões – os dispositivos são “sequestrados” por meio de softwares chamados de ramsomware.
Sem falar em casos em que os aparelhos são comprometidos sem que os usuários nem sequer se deem conta disso – em maio deste ano, por exemplo, um casal da Inglaterra foi flagrado fazendo sexo na sala de casa pela webcam da smarTV e hackers postaram o vídeo em um site pornô.
Além disso, os ataques têm comprometido sistemas e aparelhos até então vistos como intocáveis. “Há muitas ameaças focando em plataformas como o Android e Mac, que muita gente acha que são imunes, o que não é verdade. A invasão de câmeras é bem factível e inclusive já registramos um ramsomware para Android que tirava fotos e depois mostrava para o usuário, para comprovar que tinha poder sobre o celular”, afirma o diretor de Vendas Técnicas e Serviços da Symantec para a América Latina, Vladimir Amarante.
Porta de entrada
Geralmente, os ataques seguem um padrão fácil de ser evitado, mas que ainda assim acumula vítimas. O primeiro contato costuma acontecer em sites de conteúdo adulto e jogos, onde a ameaça é baixada através de pop-ups maliciosos. Amarante destaca que os malwares também podem estar escondidos em programas piratas e mesmo em anti-vírus gratuitos de procedência duvidosa – assim que o software é baixado, a “porta” para o invasor é aberta, sem que o usuário se dê conta.
“A partir daí, o malware examina o computador em busca de informações confidenciais. Ele procura detalhes de família, dados sobre o local de trabalho e segredos constrangedores. Em seguida, os criminosos cibernéticos visualizam todos esses dados combinados em um só lugar. Depois que descobrem o suficiente, eles passam a chantagear a vítima”, descreve o especialista-chefe em segurança do consumidor da Intel Security, Gary Davis, em artigo publicado na Gazeta do Povo no mês passado.
Veja abaixo algumas dicas essenciais elencadas por Davis para proteger seus dispositivos:
- Não faça downloads de arquivos desconhecidos. Para que o malware possa causar danos, primeiro ele precisa ser instalado no computador. Evite o problema na raiz. Não clique em pop-ups suspeitos ou em links desconhecidos.
- Observe se o computador apresenta atividade estranha. Algumas ameaças são perceptíveis. Neste caso, o malware “Delilah”, que permite que os criminosos acessem as informações mais confidenciais dos usuários e tirem fotos de seus momentos íntimos, muitas vezes causa falhas no computador da vítima devido à enorme quantidade de capturas de tela que tira. Mensagens de erro também são comuns quando o sequestro de webcams ocorre. Na próxima vez que seu computador apresentar comportamento estranho, consulte um técnico para verificar se há malware.
- Tome cuidado com informações confidenciais. Reduza os rastros digitais que você deixa no seu computador. Não armazene informações confidenciais no dispositivo se puder evitá-lo e realize varreduras periódicas dos dispositivos como parte da limpeza de dados: encare isso como uma “faxina digital” que você deve fazer frequentemente.
- Cubra sua webcam quando ela não estiver em uso. Essa dica não requer muito: basta um pedaço de fita adesiva. Ainda assim, essa simples precaução pode ser importante, pois, além do malware “Delilah”, existem muitas táticas de sequestro de webcams na rede que os criminosos cibernéticos estão usando.
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