Na quinta-feira (3), dia em que os 110 radares de Curitiba foram desligados por determinação da Justiça, a cidade registrou 10.144 ocorrências de excesso de velocidade no trânsito, número 10 vezes superior à média de 1,1 mil infrações por dia registrada neste ano, segundo a Urbanização de Curitiba S.A.(Urbs). Embora os equipamentos tenham sido desligados às 10h15 da quinta-feira e nenhuma multa ser emitida desde então, os sensores de solo continuam a registrar a quantidade de carros que passam em velocidade superior à permitida para fins estatísticos.
Apenas entre a 0 hora e as 9 horas desta sexta-feira (4), foram registrados 4.361 excessos de velocidade. O dia de maior número de infrações em 2009 antes de quinta-feira havia sido o dia 1º de outubro, quando houve 1.693 infrações. Os dados foram divulgados na manhã desta sexta pela Urbs, que teve suspenso pela Justiça o contrato com a empresa Consilux, responsável pela operação dos radares.
O descumprimento da legislação que limita a velocidade máxima no trânsito já havia sido previsto pelo órgão, que, ao informar o desligamento dos radares, fez um apelo aos motoristas para que, independentemente dos equipamentos, "observem as leis de trânsito e obedeçam a sinalização indicativa de velocidade máxima permitida".
Em entrevista à Gazeta do Povo na quinta-feira, o professor de Segurança de Trânsito e Engenharia de Tráfego da Universidade Federal do Paraná (UFPR)Pedro Akishinodisse não haver garantias de que os radares ajudem a reduzir o número de acidentes. "Nunca houve estatística que demonstrasse que reduzindo a velocidade se reduz o número de acidentes: a velocidade tem a ver com a gravidade do acidente, não com o acidente em si", disse. "O número de acidentes sem vítimas é muito maior do que o de acidentes com vítima. Isso mostra que o maior número de acidentes ocorre com baixas velocidades."
O entendimento da Urbs, no entanto, é diferente. Segundo levantamento do órgão, em 2008, dez anos após o início da operação dos equipamentos, a cidade registrou uma redução de 57,9% no número de atropelamentos; 20,4% no número de feridos; 17,5% menos mortes no trânsito e um total geral de acidentes 36,6% menor.
Também ouvida pela Gazeta do Povo, a psicóloga perita em trânsito e mestre em Psicologia Maria Elaine Andrade Celeira de Limaprevia o crescimento no índice de acidentes com o desligamento dos radares. "Há probabilidade de que os problemas aumentem. O radar ajuda na travessia de pedestres e controla o próprio trânsito", afirmou Maria Elaine no mês passado.
O Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), da PM, não registrou na quinta-feira uma alteração significativa no número de acidentes. Da zero hora às 19 horas foram registrados 19 acidentes, apenas dois a mais que em igual período da quarta-feira. Houve uma morte, no cruzamento da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Rockfeller, onde não há fiscalização eletrônica.
Nova licitação
O contrato entre a Urbs e a Consilux foi assinado há mais de cinco anos e vem sendo prorrogado desde então. Em março deste ano, expirou o prazo máximo previsto em lei para prorrogação de contratos licitados. Com o esgotamento do prazo, a Urbs avisou ao Tribunal de Contas do Estado (TC) que prorrogaria o contrato "em caráter emergencial" com a Consilux, o que foi contestado pelo Ministério Público (MP) na Justiça e levou ao desligamento dos radares.
Sete empresas participam de uma nova licitação que é feita pela Urbs para a contratação de serviços de monitoramento eletrônico de trânsito. A previsão do órgão é que o processo esteja concluído até o fim deste mês, com início do processo de contratação e instalação de equipamentos a partir do começo do ano que vem.
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