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Vista aérea do reservatório, no Alto São Francisco. Local é pouco conhecido pelos curitibanos, mas após o restauro que deve ser feito em novembro ele será reaberto ao público | João H. Stahlke/ Divulgação
Vista aérea do reservatório, no Alto São Francisco. Local é pouco conhecido pelos curitibanos, mas após o restauro que deve ser feito em novembro ele será reaberto ao público| Foto: João H. Stahlke/ Divulgação
  • 1908: na inauguração, as abóbodas ainda podiam ser vistas
  • Sem água durante a inauguração, a população pôde conhecer os arcos internos
  • O reservatório hoje: cinco metros de altura escondidos pela água

Você sabe onde fica o primeiro reservatório de água de Curitiba? Não se preocupe se não souber a resposta. Todos os dias, milhares de pessoas passam por ali, mas por causa da sua imponente arquitetura, o local já foi confundido com tudo. Maria do Rocio, que trabalha no telemarketing de uma empresa ao lado do reservatório, disse que pensava se tratar de um jardim secreto. "Passo por aqui todos os dias. Como não vejo muito movimento no local, achei que fosse algo misterioso", diz. Maria é apenas um exemplo. Há uma placa em frente ao espaço que identifica a construção pública. Uma pesquisa informal, entretanto, mostra que muitos já chamaram o lugar de igreja, convento, maçonaria ou clube de eventos. Tudo isso porque a obra é considerada, pelos entendidos da área, como a mais eclética do mundo. Ela está na esquina das ruas Teixeira de Freitas e Dos Presbíteros, no Alto São Francisco.

A construção remonta às técnicas das mais antigas civilizações: o sistema estrutural usado é o de abóbadas cilíndricas, com cúpulas e arcadas que pertencem, na morfologia das estruturas, à classe dos arcos. Os vãos livres são de aproximadamente quatro metros – hoje quase invisíveis porque a água esconde a arquitetura de estilo art-nouveau. E não é apenas isso. O jardim suspenso, que fica sobre o depósito de 6.881 m3 de água, tem estilo francês e durante muitos anos foi o ponto de encontro das noivas – quando o espaço era aberto, o paisagismo chamava a atenção dos fotógrafos. O chafariz na frente do reservatório é trabalhado com detalhes de flores e peixes, traços delicados do art-nouveau. Atualmente atende a cerca de 200 mil habitantes de 16 bairros de Curitiba. Mas a história da distribuição de água vai além disso.

Amanhã, o reservatório vai completar 100 anos de vida. Foi criado em uma época que só existia água captada, mas sem tratamento, na torneira da Praça Zacarias. Fora isso, a água era distribuída em tonéis carregados no lombo de mulas ou carroças. Nenhuma casa das 25 mil pessoas que habitavam Curitiba, em 1908, recebia água. Por isso, a inauguração do primeiro reservatório foi recebida com direito a show de fogos. O presidente do estado, Francisco Xavier da Silva, participou da solenidade.

A partir de uma tubulação de 38 quilômetros, dos manancias da serra do mar, a água chegava ao ponto mais alto da cidade, que era o Alto São Francisco, por gravidade e, assim, era distribuída em 28 torneiras colocadas em pontos mais baixos, nas proximidades das antigas fazendas ou pequenas chácaras, para que a água pudesse descer. "A tecnologia era considerada sofisticada. Foi feito um estudo aprofundado de topografia para que o sistema desse certo", explica a diretora de meio ambiente da Sanepar, Maria Arlete Rosa. Diariamente eram fornecidos 150 litros de água por habitante.

Com o sistema de água, vieram as obras de captação de esgoto: foram gastos 6 mil contos de réis na época. Curitiba passava a ser parte de um grupo restrito de cidades beneficiadas com água tratada e coleta de esgoto. Mas apenas dois anos mais tarde, em 1910, o sistema passou a ser insuficiente para atender a demanda. Por isso em 1912 já estava prevista a construção de um novo reservatório de distribuição. Tempos depois, o Alto São Francisco, por questões econômicas, deixou de receber a água dos manancias da serra e passou a captar as águas da represa do Iraí.

A construção do reservatório foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Estadual em 1990 e, nove anos depois, foi restaurada. Todo o sistema que era manual, hoje é automatizado. Em novembro deste ano o reservatório vai passar por um novo restauro e novamente será aberto ao público para visitação. São 100 anos de funcionamento ininterruptos: só deixou de fornecer água quando foi fechado para limpeza.

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