Os R$ 100 milhões que devem ser oferecidos pela Mega-Sena da Virada alimentam sonhos e motivam toda sorte de simpatia. Até a tarde de ontem, a Caixa Econômica Federal registrava 20 milhões de bilhetes com R$ 71,5 milhões em apostas. O prêmio será o maior já oferecido por uma loteria na América Latina. No Brasil, o mais alto valor já pago foi de R$ 65 milhões para um único apostador da Mega-Sena, em 1999.
Além disso, o prêmio da virada não vai acumular. Se ninguém fizer seis dezenas, o prêmio será divido entre os acertadores de cinco e, se ninguém fizer sequer cinco, a distribuição será para quem acertar quatro. O sorteio será realizado às 20 horas do dia 31, com transmissão de várias emissoras de televisão.
Três às vezes quatro desejos e planos motivam boa parte das apostas: comprar a casa própria, ajudar os familiares a acertarem suas finanças, garantir uma aposentadoria confortável e, para alguns, doar para uma causa nobre. "Dinheiro pode não comprar felicidade, mas permite uma vida melhor. É isso que eu quero dar para meus netos", sonha a cozinheira Sônia Maria do Nascimento, 64 anos.
Sônia gasta religiosamente toda semana seu troco para concorrer à loteria. Aposentada pelo INSS, seu benefício não é suficiente para pagar o aluguel e sustentar as despesas crescentes da idade. Adquirir a casa própria seria a primeira medida, seguida da compra de um carro. "Minha casa fica no topo de uma ladeira, e fica cada vez mais difícil subir e descer a caminho do trabalho", explica, sem considerar que, com tanto dinheiro, não precisaria trabalhar nem morar lá.
Mas ver os netos completar os estudos é seu maior desejo. "Meus cinco filhos não têm estudo. Agora que a mais nova completou o ensino médio, depois de casada, porque o marido sustenta." O sorteio é uma chance de ver um neto universitário.
A possibilidade de uma mudança tão radical na vida fez alguns apostarem pela primeira vez. A bancária Jaqueline Timóteo, 37 anos, foi uma dessas pessoas, mas continua cética quanto ao sorteio. "Comprei a pedido da minha avó", explica. Jaqueline é uma das netas mais chegadas de Maria, 84 anos, que perdeu a capacidade de andar há alguns anos devido à diabete e à hipertensão. "Ela gostaria de poder pagar um tratamento de ponta. Eu não tenho fé em jogo, mas não custa tentar", pensa.
Cabala
A inédita marca de nove cifras está fazendo a febre dos apostadores "profissionais". Moacir Benedito, 65 anos, completou ontem sua cartelinha de número 101. Aposta carregada de superstição. "Não ia apostar hoje, mas passei em frente a essa lotérica, vi que era um número bom o 647 e mudei de ideia", conta. Benedito é adepto da cabala e vive da numerologia.
As 100 combinações anteriores foram todas baseadas em leituras cabalísticas da data 31/12/2009. Mesmo assim, Benedito descarta que seu métier garanta uma aposta certeira. "Os números da cabala falam de amor, família, carreira e dinheiro. Uma vez tirei os números da sorte para um advogado e ele apostou várias vezes sem sucesso, só que depois ganhou uma ação na Justiça e levou R$ 2 milhões."