A paisagem que o comerciante Cláudio Lesko Mayer, de 44 anos, vê de dentro de sua loja de tintas, no bairro Boqueirão, em Curitiba, é composta por uma estrutura metálica enferrujada, muretas quebradas, mato, lixo e moradores de rua. Foi o que restou do que, há cerca de quatro anos, era um posto de combustíveis na esquina das ruas Coronel Luiz José dos Santos e 25 de Agosto. "Está completamente abandonado. Virou depósito de entulho da vizinhança e abrigo de desocupados", reclama o comerciante.
O "vizinho" de frente do comerciante do Boqueirão é um caso extremo de abandono, mas não é único da cidade: a transformação pela qual o posto passou é bastante parecida com a que aconteceu no imóvel de esquina das ruas Piquiri e Comendador Roseira, no Prado Velho. Do antigo posto de gasolina que havia lá, tudo que era possível vender foi roubado, até sobrar apenas restos de ferro e a construção com letreiros de caixa, conveniência e lavacar, além de muito lixo. "É um entra-e-sai de gente (moradores de rua) o dia todo e o cheiro é insuportável", reclama a bióloga Ângela Maria Kowalski, de 43 anos, vizinha do local.
De acordo com um levantamento feito em novembro pelo Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Derivados (Sindicombustíveis), dos 392 postos filiados à entidade na capital, 51 (13%) estão desativados. Entre estes, pelo menos dez não têm tapumes que impeçam a entrada no local, como exige legislação municipal. "É um problema sério, porque o estabelecimento vai se deteriorando e criando uma situação de risco. Quando o posto está fechado, existe, no mínimo, a chance de contaminação do solo", diz o presidente do Sindicombustíveis Roberto Fregonese.
Há um ano, o risco de explosão nos postos do Boqueirão e Prado Velho foi eliminado com a retirada de restos de combustíveis e dos tanques e tubulação do subsolo, após uma notificação feita pela Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi). Apesar de ter conseguido a retirada do equipamento, a fiscalização da prefeitura não impediu o avanço de outros problemas gerados pelo abandono dos postos. A dona de casa Maria Lourdes Gessner, de 60 anos, que mora ao lado do posto do Boqueirão, diz que já ligou reclamando na prefeitura centenas de vezes. "O lugar cheira a ovo podre, por causa das pessoas que vivem ali e do lixo que os vizinhos jogam. Sem falar em ratos e baratas que saem de lá. Meu pai estava em tratamento de saúde e precisava da casa ventilada, mas não tínhamos condição de abrir a janela", diz ela.
A urgência que a população espera da prefeitura no atendimento das reclamações contra o abandono dos postos esbarra num jogo de empurra. "No caso dos postos, normalmente há questões judiciais entre o proprietário e a bandeira. Nós notificamos o proprietário, que via de regra entra com recurso negando a responsabilidade pelo abandono. Este recurso precisa ser analisado e normalmente tem de esperar a decisão judicial para chegar a uma definição", explica o diretor do Departamento de Fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo, José Luiz Mello Felippetto. Segundo ele, a prefeitura não pode simplesmente entrar no local, fazer a limpeza e lacrar. "Dinheiro público não pode ser gasto em propriedade particular. A manutenção da limpeza do local é responsabilidade do proprietário", justifica.