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A internet foi fundamental para o crescimento da nova direita no Brasil. Sem contas em redes sociais, plataformas de cursos online, canais no YouTube, blogs e comunidades digitais, dificilmente o monopólio esquerdista do debate público seria rompido.
Para finalizar o especial “A direita desperta”, que fala sobre a ascensão da nova direita no Brasil, a Gazeta do Povo elencou as 15 plataformas digitais mais importantes para o crescimento dessa força política no Brasil. Entre os selecionados, há desde iniciativas muito recentes até algumas que já não existem mais. Confira a lista:
1. Curso Online de Filosofia (COF)
Em 2009, Olavo de Carvalho já era um filósofo conhecido e respeitado entre conservadores brasileiros, tinha publicado seus livros mais importantes e adquirido certa fama como polemista em alguns veículos de comunicação. Ainda não era, no entanto, uma figura massivamente popular. Isso começou a mudar com a criação do Curso Online de Filosofia (COF), modernização de uma iniciativa mais antiga de Olavo, o Seminário de Filosofia. Foram cerca de 500 aulas ministradas a partir de 2009, que ajudaram a formar diversos dos personagens importantes da nova direita mencionados neste artigo e a colocar o nome de Olavo na boca do povo.
2. Brasil Paralelo
Com mais de 400 mil assinantes, a Brasil Paralelo é o projeto mais ambicioso de mídia da nova direita. Em 2016, a empresa começou a lançar documentários desafiando visões de mundo hegemônicas entre intelectuais brasileiros, o que começou a atrair um público cansado das narrativas marxistas que predominam em escolas, universidades e nos meios de comunicação. Aos poucos, a BP deixou de ser um mero canal no YouTube e, hoje, já pretende investir no ramo do entretenimento e competir com gigantes como a Netflix.
3. Guerrilha Way
O médico Ítalo Marsili tem mais de 1,6 milhão de seguidores no Instagram é, hoje, entre pessoas físicas, o maior caso de sucesso com membros da nova direita nas plataformas digitais – ainda que seu principal foco não seja a política, mas a psiquiatria. Com a ajuda de Arno Alcântara, especialista em marketing digital, conteúdos como o Guerrilha Way e o curso “Os 4 Temperamentos” se popularizaram rapidamente, atraindo sobretudo jovens adultos interessados em fortalecer seu caráter e melhorar aspectos de sua vida no campo afetivo e espiritual.
4. Cedet
Não é exagero dizer que todo grande influenciador direitista no Brasil é dono de uma livraria virtual. O mercado editorial foi um dos caminhos que a nova direita encontrou para monetizar sua influência no mundo digital, e o Cedet é o principal viabilizador disso. A plataforma é responsável, por exemplo, pela implantação e operação das livrarias virtuais de Olavo de Carvalho, Ítalo Marsili, Bárbara Destefani (canal Te Atualizei), Rodrigo Constantino, Bernardo Küster e diversos outros canais e influenciadores de direita. Fundado por César Kyn e Silvio Grimaldo, o Cedet trabalha assumindo os custos de impressão e distribuição dos conteúdos. “Com a enorme redução de custos é possível dedicar todos os esforços no negócio central que é publicar novos livros. Com isso, é possível aumentar a frequência de publicações e causar maior impacto cultural”, diz o site do Cedet.
5. O Novo Mercado
Sem a influência de Ícaro de Carvalho, criador do curso de marketing digital O Novo Mercado, parte dos infoprodutos mencionados aqui dificilmente teria êxito financeiro. Sua estratégias de marketing foram determinantes, por exemplo, para viabilizar iniciativas como Brasil Paralelo, Minha Biblioteca Católica e Lumine. Ainda que os conteúdos de Ícaro de Carvalho sejam direcionados a um público ideologicamente mais amplo que o de outras plataformas mencionadas neste artigo, foi grande seu papel em explorar o potencial de marketing e estabelecer modelos de negócio da nova direita.
6. Canais do padre Paulo Ricardo e outras iniciativas cristãs
Embora o foco de seus conteúdos seja religião, e não política, o padre Paulo Ricardo oferece há mais de uma década – através de seu canal no YouTube, de suas redes sociais e de seu site – antídotos à influência do marxismo na educação e nos meios de comunicação no Brasil. Com isso, muitos integrantes da nova direita brasileira relatam que o sacerdote foi influente na mudança de mentalidade que os atraiu ao conservadorismo na política. Seu canal no Youtube já tem mais de 1,5 milhão de seguidores – marca próxima do 1,8 milhão de seguidores de uma celebridade como o padre Fábio de Melo. Outras plataformas católicas, como a Lumine – uma espécie de Netflix do catolicismo – e os canais do influenciador digital Bernardo Küster também foram insistentes no combate ao marxismo cultural e podem entrar na mesma categoria.
7. Blogs e comunidades de Orkut de direita da década de 2000
Anos antes da explosão de plataformas como Facebook, Instagram, WhatsApp e YouTube, os precursores da nova direita começaram a aparecer em agregadores de blogs como o Wunderblogs e algumas comunidades de Orkut. Sua maior influência era, sem dúvida, o filósofo Olavo de Carvalho, que ainda estava longe do mainstream, mas já era bastante conhecido no nicho conservador. Membros dessa subcultura foram determinantes na formação da nova direita, ainda que alguns deles tenham se tornado dissidentes.
8. Institutos liberais: Millenium, Mises Brasil, Liberal etc.
Ainda que alguns think tanks liberais existam há décadas e sejam mais do que meras plataformas digitais, a internet potencializou o alcance dessas iniciativas, principalmente com cursos online. Com isso, os institutos liberais têm conseguido usar as ferramentas digitais para popularizar o liberalismo econômico no Brasil.
9. Centro Dom Bosco
Ao relatar sua recente conversão ao catolicismo e explicar seu engajamento na defesa de valores conservadores, a atriz Cássia Kis costuma citar o papel do Centro Dom Bosco na transformação em sua vida. Ela é só uma das milhares de pessoas influenciadas por essa associação de católicos leigos fundada em 2016 no Rio de Janeiro. Embora o foco do Centro Dom Bosco seja a fé católica, os seus livros, vídeos e cursos de formação tocam em temas políticos com frequência, especialmente quando estes se relacionam com religião. O canal do Centro Dom Bosco no Youtube já tem quase 400 mil inscritos.“Desejamos formar uma nova geração de católicos capazes de renovar a Igreja e a Terra de Santa Cruz”, diz o site do grupo.
10. Instituto Borborema
Fundado em 2015, este instituto com sede em Campina Grande (PB) tem como objetivo “o resgate da verdadeira educação e da verdadeira cultura” e oferece cursos online com esse propósito. “Acreditamos que os grandes problemas brasileiros são consequências diretas da derrocada educacional que assola o país há pelo menos cinco décadas”, diz o Instituto Borborema em seu site.
11. Como Educar Seus Filhos e influenciadores do homeschooling
Por conta da ideologização do ensino em todos os níveis, a educação é uma das principais preocupações da nova direita. Diversas iniciativas têm surgido como proposta de antídoto aos efeitos das décadas de domínio da esquerda na pedagogia brasileira. Uma das principais, já extinta, foi o canal Como Educar Seus Filhos, do atual secretário Nacional de Alfabetização, Carlos Nadalim. Também viraram tendência os canais em que pessoas com experiência na prática do homeschooling compartilham seus conhecimentos na área – caso, por exemplo, do Diário Desescolar, que já tem mais de 100 mil seguidores no Instagram e lançou até material escolar próprio.
12. Tias do Zap e grupos de direita em apps de mensagens
A esquerda costuma apontar o compartilhamento em massa de fake news como um dos motivos pelos quais a direita cresceu no Brasil. Segundo essa teoria, as “tias do Zap” – como têm sido chamadas as senhoras direitistas viciadas em falar de política pelo WhatsApp – e outros membros da direita seriam presas fáceis da "desinformação”. O que não se costuma levar em conta, no entanto, é a importância do conteúdo verídico desses grupos como vacina legítima contra o viés esquerdista de boa parte dos veículos de comunicação. Seria benevolente demais com as tias do Zap afirmar que as notícias falsas não se multiplicam em grupos do tipo, mas a desconfiança em relação aos meios tradicionais de comunicação tem motivos razoáveis, e os grupos de WhatsApp têm sido, com suas virtudes e defeitos, uma alternativa a isso.
13. Canais de comentário político: Kim Paim, Te Atualizei, Terça Livre etc.
As plataformas digitais expandiram a “Janela de Overton” – isto é, a gama de posições políticas toleradas dentro da opinião pública. Contribuíram para abrir essa janela alguns canais de comentário político no YouTube, como os de Kim Paim, de canal homônimo, Bárbara Destefani, do canal Te Atualizei, e Allan dos Santos, do canal Terça Livre.
14. Canais e contas nas redes sociais de humor
O bordão “the left can’t meme” – “a esquerda não sabe fazer memes”, em tradução livre – teve sua existência justificada nas eleições de 2018 no Brasil, quando o sucesso da direita com o humor nas redes sociais foi apontado como um dos motivos da ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência. A esquerda foi incapaz de oferecer uma oposição nesta frente. Parte deste sucesso se deve a contas nas redes sociais que misturam política com humor, como Joaquin Teixeira – que tem mais de 400 mil seguidores no Twitter – Bolsonaro Zuero e Ódio do Bem. Na mesma linha, no YouTube, há iniciativas mais de nicho como o Brasileirinhos, com 147 mil inscritos no YouTube, e o Canal Hipócritas, com 1,5 milhão de inscritos.
15. Canais de liberais dissidentes: MBL, Mamãe Falei, Nando Moura e outros
Um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, equivaleu Lula (PT) a Jair Bolsonaro (PL) como opção eleitoral para a presidência da República, e declarou voto nulo no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Mas, antes de brigarem com apoiadores de Bolsonaro e serem considerados dissidentes da nova direita, canais de tendência liberal como o do MBL ou de figuras como Mamãe Falei e Nando Moura ajudaram a combater as hipocrisias e incoerências de esquerdistas, e foram importantes sobretudo em disseminar a aversão ao petismo na sociedade.