Dois anos após a tragédia que matou 71 pessoas, a cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, voltou a ser castigada pela chuva e pelos deslizamentos de terra. O temporal que começou na noite de domingo e continuou ontem causou a morte de pelo menos 16 pessoas e deixou 560 desalojados (temporariamente fora de suas casas) e 33 feridos. Não foi divulgado o número de desabrigados (que perderam suas casas).
Quatro pessoas continuavam desaparecidas até o início da noite de ontem. Na localidade de Vila São João, no bairro Quitandinha, região central da cidade, uma encosta desabou e soterrou um número ainda não conhecido de pessoas. Entre os mortos, estão dois técnicos da Defesa Civil municipal que trabalhavam no resgate das pessoas soterradas na Vila São João. Segundo moradores, três casas foram destruídas. Duas meninas, de 12 e 15 anos, foram resgatadas com vida.
Entre a noite de domingo e a manhã de ontem, choveu 358 milímetros em Petrópolis, mais do que o previsto para todo o mês de março (270 milímetros), segundo o Climatempo. Com o volume das águas, os rios Quitandinha e Piabanha transbordaram, destruindo casas e provocando alagamentos em 21 pontos, principalmente nos bairros Quitandinha e Independência. O maior índice pluviométrico foi registrado em Quitandinha, 415 milímetros em 24 horas, o equivalente a dois meses de chuva nesta época do ano, segundo a prefeitura de Petrópolis.
Ao longo do dia, várias autoridades pediram a moradores de áreas de risco que deixassem suas casas. O prefeito Rubens Bomtempo informou que nove sinais sonoros foram acionados na madrugada para que os moradores de quatro bairros deixassem suas casas e dez escolas municipais foram abertas para receber a população. Um dos sinais sonoros foi acionado na Rua Espírito Santo, onde pessoas foram soterradas.
Ajuda financeira
O governador Sérgio Cabral esteve na cidade ontem e anunciou a liberação de R$ 3 milhões para o socorro às vítimas. A prefeitura liberou outros R$ 200 mil. Foram contratados 500 trabalhadores em regime de emergência para limpeza e remoção de escombros. Cabral informou que 18 abrigos receberiam os 650 desalojados.
"Fazemos um apelo para que todas as pessoas deixem as áreas de risco. Estamos ainda em alerta máximo", afirmou.
Bontempo chamou de heróis os agentes da Defesa Civil que faleceram trabalhando. "Eles tinham muita experiência. São insubstituíveis. Eles morreram como heróis. Estavam ali salvando vidas", afirmou.
Fernandes de Lima, 44 anos, e Paulo Roberto Filgueiras orientavam os moradores a abandonar a área quando uma nova avalanche de terra arrastou um muro, que caiu sobre os dois. Eles morreram na hora. Um terceiro agente sofreu traumatismo craniano e está internado.
A Defesa Civil do município atendeu a mais de 270 ocorrências desde o início das chuvas.
Dilma defende medidas mais "drásticas"
Folhapress
A presidente Dilma Rousseff disse ontem que "medidas um pouco mais drásticas" devem ser tomadas para que as pessoas deixem de viver em zonas de risco, ao comentar a nova tragédia que atinge a região serrana do Rio de Janeiro. Para ela, "não tem prevenção que dê conta se você ficar numa região, num determinado lugar, mesmo sabendo que tem que sair".
"A nossa prevenção hoje avisa as pessoas. O que eu acho é que vão ter que ser tomadas medidas um pouco mais drásticas para que as pessoas não fiquem nas regiões que não podem ficar", afirmou Dilma, ao sair de um encontro com o presidente da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o brasileiro José Graziano, na sede da instituição em Roma. A presidente está na cidade para a missa inaugural do papa Francisco, que ocorre hoje.