Passeata simbólica
Os 25 anos do conflito de 1988 serão lembrados nesta sexta-feira (30) em uma passeata marcada pela APP-Sindicato na Praça Santos Andrade, em Curitiba, a partir das 9 horas. Os docentes irão até a Praça Nossa Senhora de Salette, no Centro Cívico. A direção do sindicato deve ser recebida às 11h30 no Palácio Iguaçu pelo secretário de Educação, Flávio Arns. São esperadas pelos organizadores 15 mil pessoas, incluindo 60 ônibus vindos do interior do estado.
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Há exatamente 25 anos, uma manifestação de professores em greve entrou para a história do Paraná por causa da violência do desfecho. No dia 30 de agosto de 1988, policiais militares avançaram com cavalos, cães e bombas de efeito moral contra uma multidão de docentes que protestava por melhores salários e condições de trabalho na Praça Nossa Senhora de Salette, em Curitiba. A repressão deixou dez pessoas feridas e resultou na prisão de cinco manifestantes.
Confira a História em Quadrinhos que mostra um pouco do que ocorreu no dia 30 de agosto de 1988
Na ocasião, a greve já durava duas semanas sem que as duas partes, governo do estado e Associação dos Professores do Paraná (APP), chegassem a um acordo. Lidos hoje, vários itens da pauta sindical são de difícil compreensão. A menção a reajustes acima de 200%, por exemplo, só faz sentido quando se leva em consideração os índices exorbitantes da inflação no fim dos anos 80. "Naquela época, lutávamos por um piso salarial, porque a inflação vinha, corroía os salários e ficávamos à espera de uma reposição", lembra o professor aposentado Romeu Gomes de Miranda.
A insatisfação culminou com uma passeata da Praça Rui Barbosa até o Centro Cívico com direito a caminhão de som. Os docentes planejavam protestar em frente do Palácio Iguaçu, mas a polícia organizou um cordão de isolamento. Dali para o confronto que se seguiu não demorou muito. Até hoje, não se sabe ao certo o que originou a confusão.
O fato é que, após o combate, a categoria se percebeu mais unida do que nunca. "Muitos dos professores que não haviam entrado na greve, aderiram logo que viram o que aconteceu na praça", conta Isolde Benilde Andreata, professora aposentada e presidente da APP em 1988.
A unidade conquistada na ocasião foi bem aproveitada pelos líderes da categoria e repercute até hoje, mais de duas décadas depois. O 30 de agosto virou símbolo da luta dos professores por melhores condições de trabalho. O testemunho daqueles que estiveram no ato é recontado em vídeos, textos e palestras, a cada nova geração de docentes que entra para o funcionalismo público. Todos os anos, o sindicato faz sua principal manifestação nesta data e apresenta ao governo sua pauta de reivindicações atualizada.
Muitas conquistas trabalhistas vieram depois daquele fatídico dia: o piso salarial nacional, o plano de carreira para docentes, o aumento na periodicidade dos concursos públicos e o direito à hora-atividade, tempo destinado ao preparo das aulas fora de sala. Prova de que aquela luta de 1988 não foi em vão.
Ex-governador nega violência e afirma que ato foi político
A memória do 30 de agosto de 1988 também reacende o conflito de versões sobre a história contada. Enquanto os professores acusam os policiais pela truculência, o senador Alvaro Dias, então governador do estado, nega que a repressão foi violenta e afirma que a manifestação foi usada para fins de exploração política.
Na ocasião, a guerra de informações chegou à publicidade oficial. Em 1.º de setembro, dois dias após o conflito, o governo do estado publicou anúncio de página inteira na Gazeta do Povo em que lamentou a ação dos professores e elencou 13 pontos que poderiam ser distorcidos por "interesses pessoais ou partidários".
Em um dos itens, o governo afirmou que os policiais só reprimiram a manifestação depois de sofrerem "muitas agressões, sem reação". A nota também negava a recusa em negociar, afirmava que o movimento estava "morrendo" e que não contava com o apoio da base.
Ainda hoje, o ex-governador refuta a intensidade do conflito. "Se compararmos com tumultos recentes, aquilo vai parecer uma brincadeira", diz. Dias afirma que houve orquestração para o registro de cenas específicas, que nenhum boletim de ocorrência foi registrado e que havia na multidão "especialistas em tumultuar" vindos de São Paulo. "Essa história é um factoide alimentado por pessoas de má-fé com objetivo de exploração política em função da eleição", afirma.
Registros
Nos anos seguintes ao conflito, no entanto, a APP-Sindicato se dedicou a recolher filmagens da violência policial e produzir documentários sobre o tema. Grande parte do material foi publicado no YouTube, incluindo reportagens de telejornais da época e dezenas de depoimentos de quem estava na manifestação.
"Os policiais derrubaram nossas barracas e arrancaram os cabos do carro de som para nos impedir de instruir o movimento", conta o professor Cezário Benedito Pedro, uma das testemunhas do conflito. Segundo ele, sem voz de comando e com o estouro contínuo das bombas, os manifestantes entraram em pânico. O som das explosões também teria assustado os cavalos que perderam o controle, ferindo várias pessoas. "Era uma praça de guerra. Foi puro desespero", diz Pedro.
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