O assunto violência nas grandes cidades tomou conta do debate na sociedade e há um ponto em comum entre os especialistas. Quando o autor da violência é um adolescente, a questão é ainda mais delicada. Segundo dados da Delegacia do Adolescente (DA) de Curitiba, 40% de todos os atos infracionais cometidos por jovens entre 12 e 18 anos incompletos são contra a vida.
A média anual de procedimentos policiais abertos envolvendo adolescentes gira em torno de 2 mil. No ano passado, foram apreendidos 160 adolescentes. De janeiro a abril deste ano, a DA já registrou 500 procedimentos de atos infracionais cometidos e 153 adolescentes foram apreendidos em flagrante ou por mandado de busca e apreensão.
"A tendência é piorar porque não há política capaz de, no médio prazo, dirimir o problema", diz a delegada titular da DA, Nilcéia Ferraro da Silva. Conforme ela, o adolescente não tem espaço na sociedade por falta de oportunidade no mercado de trabalho e por constituir família muito cedo.
Socorro
Os motivos para os adolescentes cometerem crimes cada vez mais graves são claros. De acordo com a presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Paraná, Marta Tonin, a família desestruturada é o principal problema. "Esses números são um pedido de socorro", alerta. Na opinião da advogada, o Estado deve olhar com mais atenção e prioridade para o adolescente. "Temos de fazer a revolução da consciência", sugere Marta.
Por outro lado, os criminosos adultos cooptam os adolescentes porque acreditam na falta de punição. O promotor da Vara do Adolescente Infrator de Curitiba, Salvari José Mâncio, confia que a função do Estado não é punir o jovem, mas reeducar e proteger. "As medidas socioeducativas funcionam para a maioria", garante. De acordo com Marta, há uma carência de investimentos nos programas de reeducação dos adolescentes em conflito com a lei.
Para Mâncio, a maior parte dos 40% dos adolescentes que cometem atos de natureza violenta é diretamente influenciada por adultos.
A advogada Marta e o promotor Mâncio têm opiniões em comum sobre o papel da família e da escola para mudar esta realidade. "É preciso uma retomada de atitude que envolva todos os agentes sociais", afirma o promotor. Os dois colocam a distância dos pais da escola e a transferência de responsabilidade da família para os professores como entraves para a resolução do problema. "Quantos pais vão às reuniões das escolas?", questiona Marta. Segundo ela, é necessário um mutirão para "catequizar" por meio de uma mobilização que envolva todos.
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